Depois da ajuda do ano passado, combustíveis penalizam exportações

Com as exportações a cair mais do que as importações, o saldo comercial português agravou-se 288 milhões de euros durante os últimos três meses.

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Produção de combustíveis da Galp diminuiu

Durante o ano passado, o Governo, fez do crescimento forte das exportações a bandeira do sucesso da sua política económica. No início deste ano, a oposição faz o mesmo mas no sentido contrário com o recuo que se agora verifica nas exportações. Mas a verdade é que, mais do que ser estimulada ou limitada por qualquer medida política concreta, o que tem acontecido a este indicador é em larga medida aumentar ou diminuir à mercê do que acontece com a produção de um único bem por uma única empresa.

Os dados do comércio internacional de bens publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística vieram confirmar a importância que a venda de combustíveis da Galp para o estrangeiro está a ter na evolução das exportações portuguesas. As exportações de bens registaram, durante o passado mês de Maio, uma queda homóloga de 3,6%, naquele que é o terceiro mês consecutivo de variação negativa.

No último trimestre, de Março a Maio, a diminuição das exportações cifra-se em 3,3%, o período mais negativo para este indicador desde 2009 quando a economia mundial estava a sofrer o impacto da crise financeira. Desta vez, contudo, em vez de uma crise na procura, o que as exportações portuguesas estão a sentir é a consequência dos calendários próprios de produção de combustíveis da Galp na sua refinaria em Sines.

Tudo começou no início do ano passado, quando a Galp começou a retirar os frutos de um forte investimento numa nova unidade de produção, aumentando a sua produção de combustíveis de forma muito significativa. Esse facto, combinado com a diminuição do consumo doméstico, fez com que a petrolífera portuguesa passasse a escoar, principalmente a partir de Março, muito mais combustível para os mercados externos, em particular a Espanha. O resultado foi um crescimento de mais de 50% das vendas de combustível para o estrangeiro que contribuíram para quase dois terços do aumento das exportações de bens do país durante o ano de 2013.

Agora, no arranque do presente ano, novo acontecimento extraordinário. A refinaria de Sines teve de parar a sua produção e as vendas de combustível para o estrangeiro – que provavelmente já deixariam de registar as mesmas variações homólogas do ano passado – caíram mais de 50%. As exportações de bens portuguesas ressentiram-se e estão nos últimos três meses a diminuir face ao ano passado.

Segundo o INE, durante esse período, as exportações de combustíveis e lubrificantes caíram de 1362 milhões de euros no ano passado para 625 milhões de euros, ou seja, uma variação negativa de 54,1%. A quase totalidade destas exportações é proveniente das refinarias da Galp.

Uma forma de medir o impacto que os combustíveis estão a ter, basta verificar que, entre Março e Maio, a variação das exportações de bens caiu 3,3%, mas que retirando da análise os combustíveis se verifica um crescimento positivo de 3%.

Várias entidades, incluindo o Fundo Monetário Internacional, tinham alertado no passado para a possibilidade dos ritmos de crescimento das exportações registadas no ano passado poderem não ser sustentáveis, estando um dos factores de risco precisamente na possibilidade de as vendas de combustíveis não poderem continuar a crescer este ano como no ano passado.

Em simultâneo com esta queda das exportações, verifica-se em Portugal um crescimento das importações de bens. Em Maio, este indicador cresceu 1,9%.

Nos últimos três meses (período entre Março e Maio), as importações ainda assim registaram uma queda de 0,8% (também afectadas com a diminuição acentuada das entradas de combustíveis). No entanto, como esse número compara com uma descida de 3,3% das exportações, o saldo comercial de bens português tornou-se mais negativo. Tinha sido, entre Março e Maio, de -2023,9 milhões de euros no ano passado e foi agora de -2312,7 milhões, um agravamento de 288,8 milhões de euros.
 

   





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