A vida de Ava Gardner, dos murros de Howard Hughes às ameaças de suicídio de Sinatra

Lançada biografia não autorizada escrita a partir de conversas com a actriz no final dos anos 80.

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Ava Gardner com Frank Sinatra, o seu terceiro marido

Esta não era exactamente a autobiografia que Ava Gardner queria publicar.

Mas, a avaliar pelas críticas publicadas em vários jornais, Ava Gardner: the secret conversations, que acaba de ser lançada nos Estados Unidos pela editora Simon & Schuster, é muito mais interessante do que a biografia oficial da actriz, Ava: My Story, autorizada pela própria e publicada em 1990 pela Bantam, nove meses depois da sua morte.

O livro agora lançado é o resultado de várias conversas mantidas, em Londres, entre Ava e o jornalista britânico Peter Evans, a que ela tinha inicialmente proposto que escrevesse a sua biografia. O trabalho começou, os dois encontraram-se diversas vezes – ela chegou mesmo a fazer-lhe telefonemas madrugada dentro, partilhando as suas angústias – mas cancelou o projecto quando descobriu que tinha havido problemas entre Evans e Frank Sinatra, com quem Ava tivera um turbulento casamento. Ainda dependente do apoio de Sinatra, a actriz, que por essa altura já sofrera dois AVC que lhe tinham paralisado parte do rosto, não queria problemas com o ex-marido.

A decisão de fazer uma biografia – o nome de Evans tinha-lhe sido sugerido pelo amigo Dirk Bogarde – partira de uma questão muito prática: Ava precisava de dinheiro. Pragmática, explicou a Evans: “Ou escrevo o livro ou vendo as jóias. E sou um bocado sentimental em relação às minhas jóias”. Havia alguma urgência. “Em breve, querido”, disse, “deixará de haver milho no Egipto”.

Ava morreu, a inócua biografia que deixou pronta foi publicada, e passaram-se vinte anos até Evans decidir pegar nas gravações das conversas e preparar um livro. O jornalista morreu no ano passado, deixando Ava Gardner: the secret conversations praticamente pronto. Antecipando o lançamento, a revista Vanity Fair publicou na sua edição de Julho um excerto. E o que contou, afinal, Ava Garner a Peter Evans nesse ano de 1988 quando tinha já 65 anos e a sua lendária beleza era cada vez mais uma memória? (foi ela quem disse um dia que Elizabeth Taylor “não era linda, era bonita”, enquanto ela, sim, era “linda”).

Não há grandes revelações no livro, mas há relatos da sua vida em Hollywood e, sobretudo, das várias relações amorosas. O seu casamento, em 1942, com o actor Mickey Rooney acabou por causa das infidelidades dele, mas Ava, que na altura tinha apenas 19 anos e acabava de chegar a Hollywood, fala de “Mick” com carinho.

Ao contrário, por exemplo, da relação com o milionário Howard Hughes, que incluiu cenas em que ele a esmurrou e ela lhe atirou com um cinzeiro à cabeça. A actriz de A Condessa Descalça (Joseph L. Mankiewicz), Mogambo (John Ford) ou A Noite da Iguana (John Huston) recorda que “havia sangue por todo o lado, até sangue verdadeiro nos Bloody Marys”. Igualmente violenta foi a relação com o actor George C. Scott, que se embebedava e lhe batia, e na manhã seguinte não se recordava de nada do que se passara. Com o músico de jazz Artie Shaw (segundo casamento, entre 1945 e 46) as coisas não correram melhor – Ava conta que perdeu totalmente a autoconfiança e que começou a beber a sério, e acusa-o de pertencer à “esquerda caviar” e de detestar que ela fosse actriz.

Mas a relação mais forte da sua vida foi com Sinatra, com quem casou em 1951, e de quem confessava sentir saudades. Sinatra não estava num período particularmente positivo quando os dois se juntaram e Ava conta que ia ver os espectáculos dele perante salas meio vazias em Itália. “Eu tinha que estar apaixonada para ir assistir àqueles espectáculos”. Se ela era a estrela em ascensão, ele estava a ir na direcção oposta. “Independentemente do que eu fizesse, o facto de ele depender de uma mulher para lhe pagar algumas contas – a maior parte delas, na verdade – tornava tudo muito pior”. Quanto à suposta ajuda da Máfia, Ava nega que ela existisse. “A chamada Família não estava em lado nenhum quando ele precisou deles”.

Sinatra era ciumento e nunca perdoou a aventura “de uma noite” de Ava com o toureiro espanhol Mario Cabré. Ela confessa: “Ele era bonito e eu tinha bebido demais. Foi um erro terrível. E contar a Sinatra também não foi boa ideia. Veio a correr para Espanha e queria matar o pobre desgraçado”. Disse-lhe que se ela lhe contasse tudo, ele lhe perdoaria. Ela contou, e ele não perdoou.

Mas Sinatra era – sempre – um dramático, segundo Ava. Uma das técnicas que utilizava frequentemente era ameaçar suicidar-se. Um dia, Ava ouviu um tiro dentro do quarto. Quando entrou ele estava sentado na cama, com a pistola na mão, “sorrindo como uma criança”. Tinha disparado contra a almofada.     

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