Investigadora espanhola despedida por suspeita de fraude continuada
Caso é similar ao da invesigadora portuguesa que foi suspensa de funções, esta semana, num caso que foi divulgado pelo PÚBLICO.
Uma investigadora espanhola da área da biologia molecular foi despedida “de forma fulminante”, na passada segunda-feira, depois de suspeitas de fraude continuada nos seus trabalhos, num processo idêntico ao que foi divulgado pelo PÚBLICO esta semana e que envolveu a investigadora portuguesa Sónia Melo. No caso espanhol, contudo, a investigadora já veio a público desmentir as acusações e mantém, para já, a bolsa de dois milhões de euros que lhe fora atribuída pela Comissão Europeia pelo seu trabalho sobre as doenças cardíacas.
O caso é divulgado na edição deste sábado do diário espanhol El País e tem contornos muito similares ao de Sónia Melo, a investigadora portuguesa que perdeu uma bolsa de 50 mil euros e foi suspensa de funções no laboratório I3S, no Porto. Tal como no caso da portuguesa, as dúvidas sobre Susana González foram lançadas no site PubPeer, que faz a revisão de pares após publicações, com muitos comentários anónimos, e que, também como no caso da investigadora principal do I3S, entretanto suspensa, apontava para a utilização de imagens duplicadas nas investigações desenvolvidas. González é ainda acusada de ter utilizado imagens “retiradas de outras experiências”, segundo o El País.
O diário espanhol cita as declarações de Susana González ao site de informação científica Materia, negando “categoricamente” o falseamento de resultados e classificando como “absoluta injustiça” o que lhe está a acontecer. A investigadora admite “possíveis erros”, mas nunca fraude, e diz que foi despedida do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares por razões “puramente laborais”, pelo que o caso está nas mãos de advogados. “Não se pode questionar a minha honorabilidade com base em denúncias anónimas. E esta reflexão aplica-se a toda a comunidade científica”, reagiu.
Susana González recebeu, em 2014, a bolsa Consolidator, no valor de dois milhões de euros, reservada “à elite científica europeia”, segundo o El País. A bolsa foi-lhe atribuída depois de a sua investigação ter levado à recuperação “milagrosa” de ratos com insuficiência cardíaca letal, abrindo, aparentemente, a porta ao rejuvenescimento do coração em humanos.
Com uma longa carreira que passou por algumas das mais prestigiadas instituições internacionais, como o Centro Memorial Sloan Kettering ou a Universidade de Columbia, ambos em Nova Iorque, Susana González tinha ainda vários trabalhos publicados em revistas científicas como a Cell Stem Cell e a Nature Communications. Se o grupo Nature, ao qual pertence a última publicação, se recusou para já a fazer declarações, a Cell Stem Cell admitiu já estar “consciente da inquietação gerada pela investigação da doutora González” publicada nas suas páginas, mas não faz “de momento”, mais comentários, diz o El País.
O diário espanhol diz ainda que a investigadora mantém a bolsa europeia e o lugar permanente como investigadora na agência estatal CSIS, o maior organismo público de investigação de Espanha.