Células estaminais humanas convertidas pela primeira vez em células pulmonares funcionais

Esta estreia científica poderá abrir o caminho, um dia, ao transplante de pulmões feitos a partir das próprias células dos doentes.

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Colónia de células estaminais embrionárias humanas vista ao microscópio Darren Hauck/Getty Images/AFP

Pela primeira vez, uma equipa de cientistas conseguiu converter células estaminais humanas – células indiferenciadas capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo – em células funcionais dos pulmões e das vias respiratórias. O trabalho foi publicado online, neste domingo ao fim da tarde, na revista Nature Biotechnology.

“Outros cientistas já foram relativamente bem-sucedidos a transformar células estaminais humanas em células cardíacas, células beta do pâncreas [as células produtoras de insulina] , células intestinais, hepáticas e nervosas”, diz Hans-Willem Snoeck, da Universidade de Columbia (EUA) e autor principal do estudo, em comunicado daquela instituição. “Agora, conseguimos finalmente fabricar células do pulmão e das vias respiratórias, o que é importante porque os transplantes de pulmão têm actualmente um prognóstico particularmente desfavorável.”

Claro que as aplicações clínicas dos resultados “são para daqui a muitos anos”, salienta o investigador. “Mas já podemos começar a pensar em fazer transplantes autólogos de pulmão – ou seja transplantes que utilizam as próprias células dos doentes (células da pele) para gerar tecido pulmonar funcional.”

Em 2011, a equipa de Snoeck descobriu um conjunto de substâncias químicas capazes de transformar células epiteliais embrionárias (colhidas em embriões humanos no início do seu desenvolvimento) e também células pluripotentes induzidas (geradas por “reprogramação” de células cutâneas adultas) em células precursoras das células pulmonares e das vias respiratórias. Agora, graças à descoberta de ainda outras substâncias, conseguiram completar a transformação dessas células precursoras em células funcionais da parede dos pulmões, incluindo células produtoras de uma substância tensioactiva essencial à manutenção dos alvéolos pulmonares.

Para já, o resultado poderá permitir criar modelos de doenças respiratórias, testar novos medicamentos ou estudar o desenvolvimento pulmonar, explica o mesmo comunicado.

O derradeiro objectivo, contudo, seria a criação de pulmões biologicamente compatíveis com os doentes – o que permitiria evitar os problemas de rejeição imunitária inerente aos transplantes de órgãos convencionais. Para o fazer, seria preciso partir de um pulmão humano vindo de um dador, retirar-lhe todas as suas células conservando apenas a sua “ossatura”, e a seguir “semear” as células pulmonares derivadas das próprias células do doente para elas preencherem essa matriz e formarem um novo pulmão.

 

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