Diana Niepce não quer ser uma história inspiradora. Não quer ser exemplo de superação, uma lutadora – mesmo que, com justiça, nela insistam ver isso mesmo. É coreógrafa, intérprete, activista. É também tetraplégica – desde 2014, na sequência de uma queda num ensaio.

Readaptou o seu trabalho e encontrou espaço enquanto autora, mas sente-se desacompanhada: como titula Camilo Soldado na história que dá a capa desta edição, não quer ser uma voz, mas um coro.

"A minha história é 'inspiradora' porque é sobre a bailarina que fica tetraplégica e volta a dançar, a andar, mas essa é uma narrativa poética que faz com que as pessoas só existam para inspirar o outro."

Assume a curadoria do ciclo Corpos Políticos, de 4 a 16 de Março na Culturgest, em Lisboa. Junta dança, performance, conferências, debates e oficinas sobre o corpo fora da norma. Diana quer alargar o espaço de discussão para que haja mais artistas com deficiência a criar. Também criou uma estrutura, As Niepce’s, para isso.

Passaram 20 anos e o Club Kitten não envelheceu: reencarnou. Regressa no seu corpo (mais velho, mais experiente) este sábado, no Pérola Negra, no Porto, e tem o grau de imprevisibilidade de "um date": "Deixa ver como corre o primeiro e depois logo se vê. É um teste, um episódio-piloto", explica João Vieira, ou DJ Kitten. Há duas décadas, o Club Kitten mudou a face da noite do Porto com pós-punk, rock'n'roll, electroclash, eyeliner e liberdade sexual.

Para assinalar este regresso, pedimos a João Vieira que escolhesse dez canções icónicas desta noite. As escolhas vão da fruta da época Peaches e Rapture aos históricos Gang of Four e The Normal. A playlist está no Spotify do Ípsilon: dancemos.

Benjamín Labatut continua a perseguir demónios ou semideuses da ciência – e a construir uma obra à parte na literatura actual. "Não o perca", aconselha Isabel Lucas que falou com o escritor, autor do novo romance Maniac. Labatut diz coisas belas, certeiras, nesta conversa. Uma: "Cada vez que adormecemos e sonhamos, a loucura vem ao de cima". Outra: "A função da literatura não é fazer com que as pessoas compreendam, mas ajudá-las a ficarem outra vez fascinadas." Outra: "O segredo do mal é que ele é necessário – e isso é incrivelmente doloroso."

 "Ainda não aconteceu o 25 de Abril que nós desejamos", lamenta Helder Macedo, escritor fixado em Londres há décadas, mas que continua atento a Portugal. No livro Pretextos, e na conversa com Hugo Pinto Santos que publicamos nesta edição, há literatura, política e outras coisas da vida pelo olhar de um outsider.

Também neste Ípsilon:

- Cinema: Dune – Duna: Parte Dois; O Vento Assobiando nas Gruas; A Irmandade da Sauna; O Astronauta; e outros filmes;

- Teatro: o Caldéron de Pasolini, por Fabio Condemi, no São Luiz; e o encontro de Peter Kleinert e Chullage em Almada, com grime e luta política;

- Música: novos discos de Nelson Freitas, Helado Negro, Tapir! e Luís Represas;

- Fotografia: o russo Nikita Teryoshin mostra o interior das feiras de armamento

E há mais. Boas leituras!


Ípsilon no Spotify: as nossas escolhas; Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema