Gisberta vai finalmente ter uma rua do Porto com o seu nome

Mulher transgénero assassinada há 17 anos vai ter nome atribuído a uma rua do Bonfim, perto do local onde foi encontrada morta. Proposta foi aprovada pela Comissão de Toponímia da Câmara do Porto.

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Gisberta Salce Júnior, uma mulher trans brasileira, foi assassinada no Porto em 2006 DR
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É uma vontade antiga e de muitos e agora vai concretizar-se. Após várias tentativas, o nome de Gisberta Salce Júnior, mulher transgénero emigrante brasileira assassinada no Porto em 2006, vai ser atribuído a uma rua do Porto, assegura fonte da autarquia.

Em Março do ano passado, na primeira reunião da então renovada Comissão de Toponímia da Câmara Municipal do Porto, ficou decidido que o nome de Gisberta integraria a bolsa de nomes de ruas a serem futuramente dados a artérias do Porto. O PÚBLICO apurou que a proposta passou recentemente com maioria de votos da comissão. É desta que vai finalmente acontecer.

De acordo com fonte da Câmara do Porto, que confirmou a informação, o nome de Gisberta será atribuído a uma das ruas do Bonfim, próxima do local onde foi assassinada há 17 anos por um grupo de 14 menores. O PÚBLICO desconhece ainda a data exacta para descerrar a placa e qual é artéria em causa.

Ao longo dos anos, foram vários os apelos para que a memória da mulher transgénero, que se tornou num símbolo da luta LGBTQI+, fosse imortalizado na toponímia portuense. Em 2010, quatro anos depois da sua morte, um projecto artístico inserido no FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica lançou um desafio aos participantes: escolherem 10 nomes de pessoas para serem enviados à Comissão de Toponímia do Porto como sugestão. Gisberta ficou no topo da lista. Depois de abaixo-assinado enviado para a comissão, nada aconteceu.

Em 2019, a actriz e encenadora Sara Barros Leitão, após o seu espectáculo “Todos Os Dias Me Sujo De Coisas Eternas”, recorrendo aos espectadores, tentou o mesmo. Também não conseguiu. Dois anos mais tarde, em conjunto com a Comissão da Organização da Marcha do Orgulho LGBT no Porto, tentou pela via de uma petição. Mais uma vez, a proposta não foi acolhida de imediato.

Só no ano passado, após uma votação muito dividida dentro da comissão, Gisberta ficou mais perto de poder ter o seu nome associado à toponímia do Porto. A entrada para a bolsa de nomes foi aprovada por sete votos contra seis. Na altura, alegava-se que o longo tempo de espera até se atingir o número necessário de votos favoráveis para se tornar numa hipótese, prendia-se com o facto de as regras de selecção das personalidades terem sido feitas a pensar em pessoas que nasceram no Porto e tenham feito algo de notório pela cidade, o que poderia vir a resultar numa alteração futura do regulamento.

Gisberta Salce Júnior vai ter agora uma rua com o seu nome no Porto, cidade onde viveu durante mais de 20 anos, após ter saído do Brasil para fugir a uma vaga de homicídios de pessoas transexuais. Acabou por ser encontrada sem vida, em Fevereiro de 2006, num poço de um edifício abandonado, na freguesia do Bonfim, na cidade que escolheu para poder ter uma vida mais calma.

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