Papa lança encíclica contra o discurso de ódio dos governos populistas

A terceira encíclica de Francisco, lançada este domingo, fala em “sinais de regressão” e no surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”.

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O Papa Francisco no Ângelus deste domingo Riccardo Antimiani/LUSA

O Papa Francisco criticou na sua nova encíclica "Fratelli Tutti" (Todos irmãos) o reacendimento dos populismos, o racismo e os discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.

“A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos”, escreve Francisco no texto divulgado pelo Vaticano e publicado pela agência Ecclesia.

A nova encíclica papal, dedicada à fraternidade e amizade social, foi apresentada este domingo pelo Papa Francisco no Vaticano, após a oração do Ângelus. Esta é a terceira encíclica do pontificado do Papa Francisco, após "Lumen Fidei" (A luz da fé), em 2013, e "Laudato si, em 2015, sobre a ecologia integral.

Cinco anos depois, a nova encíclica identifica o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”.

A encíclica associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.

Sobre o racismo, Francisco afirma ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.

Essas expressões devem envergonhar-nos a todos, porque põem a descoberto o pouco que a sociedade evoluiu de facto e que esses avanços não estão garantidos, considera.

Francisco pede, por isso, que os países abandonem esse “desejo de domínio sobre os outros” e adoptem uma política “ao serviço do verdadeiro bem comum”, afirmando que os responsáveis políticos se devem preocupar mais em “encontrar uma solução eficaz” para a exclusão social e económica do que com as sondagens.

O Papa defende ainda que o “desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que, “demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao serviço dos interesses económicos dos poderosos”, e alerta para a diferença entre populismo e popular.

Francisco considera essencial pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem movimentos populares e lamenta sobretudo a “intolerância e o desprezo perante as culturas populares indígenas”.

Referindo-se especificamente às plataformas digitais e redes sociais, mostra-se preocupado com as manifestações de ódio e de destruição aí propagadas, e com o visível aumento de “formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais” até destruir a imagem do outro.

O texto realça que a conexão digital pode “isolar do mundo”, alimenta a divulgação e discussões em torno de “fake news" e aniquila a “capacidade de respeitar o ponto de vista do outro”, um pressuposto do “diálogo social autêntico”.

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