Quim Torra tira margem de manobra a acordo da ERC com PSOE

O presidente da Generalitat disse aos republicanos que “não se pode negociar nada” sem o aval do executivo catalão. Cúpula da ERC decide esta quinta-feira se viabiliza Governo espanhol.

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Quim Torra esteve reunido com dirigentes da ERC EPA/ANDREU DALMAU

A cúpula da Esquerda Republicana Catalã (ERC) vai decidir esta quinta-feira se viabiliza o Governo de coligação entre o Partido Socialista (PSOE) e o Unidas Podemos. Apesar de haver vontade entre a liderança do partido catalão para que seja dada luz-verde ao executivo, parte do próprio governo autonómico está contra.

A tensão tem subido particularmente entre a ERC e o Juntos pela Catalunha, parceiros de coligação na Generalitat, mas ao mesmo tempo rivais numa luta pela hegemonia sobre o independentismo catalão. O presidente do governo regional, Quim Torra, esteve reunido esta manhã com o vice-presidente e coordenador da ERC, Pere Aragonès, e ambos chegaram a um acordo que parece deixar pouca margem de manobra aos republicanos.

Os dois parceiros no governo catalão declararam que “não se pode negociar nada” com o Governo espanhol “à margem dos acordos” na Generalitat. “Qualquer acordo com o Governo deve ser gerido e validado pela presidência do govern”, sustenta o comunicado saído do encontro entre Torra e Aragonès.

Em causa está uma das exigências da ERC para viabilizar o Governo liderado por Pedro Sánchez: a organização de uma mesa negocial entre Madrid e Barcelona para procurar soluções para o “conflito político” na Catalunha. Torra e os seus aliados recusam participar num processo negocial acordado entre os republicanos e os socialistas e recusa dar o aval da Generalitat. “É um acordo entre partidos”, dizem fontes próximas do presidente do executivo catalão, citadas pelo El País.

Esta tarde, o conselho nacional da ERC vai ter uma reunião em que será decidida a posição dos deputados da sua bancada no Congresso dos Deputados face à investidura de Pedro Sánchez - os dois primeiros debates realizam-se este fim-de-semana. Os socialistas necessitam pelo menos da abstenção dos 13 deputados republicanos numa segunda e final votação da investidura, em que basta uma maioria simples, marcada para 7 de Janeiro.

Para além do Juntos pela Catalunha, a ERC está pressionada pelos sectores mais radicais do independentismo e por parte da sua própria base militante, que vêem nas conversações com os socialistas uma renúncia a algumas das principais bandeiras do movimento, como a libertação dos dirigentes condenados. Este sentimento é reforçado pela sentença recente do Tribunal de Justiça da União Europeia, que considerou que o líder da ERC, Oriol Junqueras, devia ter tomado posse como eurodeputado. Parte do independentismo acredita que este é o momento indicado para insistir na libertação dos dirigentes que consideram “presos políticos”, e não para entrar em pactos com Madrid.

Na segunda-feira, um protesto convocado pelos Comités de Defesa da República (CDR), uma rede de grupos responsável pelas manifestações mais recentes a favor do independentismo, juntou dezenas de pessoas junto à sede da ERC, em Barcelona.

A presidente da Assembleia Nacional Catalã (ANC), Elisenda Paluzie, também alertou para “o risco para a unidade do independentismo” representado pelo acordo entre a ERC e o PSOE. O colectivo 1 de Outubro, um grupo de militantes de base da ERC, também já se posicionou contra.

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