Hollande entra na pré-campanha com discurso sobre terrorismo e laicidade

Presidente francês ataca políticas identitárias da direita e garante que laicidade "não é a religião do Estado contra as outras religiões".

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As últimas sondagens Christophe Ena/Reuters

François Hollande deu nesta quinta-feira o sinal mais forte de que planeia recandidatar-se à presidência francesa, nas eleições do próximo ano, num discurso sobre “democracia e terrorismo” em que lançou um duro ataque contra a políticas identitárias dos seus adversários de direita e afirmou que a resposta aos radicais tem de passar pela defesa do Estado de direito.

Um dia depois da divulgação de uma sondagem que lhe atribuía entre 11 a 15% dos votos face a um conjunto de potenciais adversários, o Presidente francês fez aquilo que o jornal Le Monde diz ter sido a “entrada na campanha sem se declarar explicitamente [candidato]”. O pretexto foi a luta – “guerra” na terminologia adoptada por Paris desde os atentados de Novembro em Paris – contra o terrorismo, a preocupação que se sobrepôs no último ano e meio a todos os outros temas políticos.

O líder socialista, que enviou aviões para bombardear o Estado Islâmico no Iraque e depois na Síria, disse “não ter dúvidas” de que a organização terrorista e todos os que a ela se aliaram “sairão vencidos”, mesmo que as derrotas sofridas nos últimos meses pelos jihadistas tenham sido compensadas pela expansão para outros territórios, “em África e na Ásia”. “A democracia é mais forte do que a barbárie que lhe declarou guerra”, afirmou.

Mas os atentados dos últimos meses, em Nice, Paris e na Normândia tornaram o terrorismo um assunto interno e, face a uma pressão cada vez maior da direita para uma reacção sem precedentes ao terrorismo, Hollande argumentou que só o respeito pela lei pode derrotar os extremistas: “A história ensina-nos que, perante perigos bem mais graves, a República elevou-se quando se soube manter e perdeu-se quando cedeu”. “A única via que é boa, a única que é eficaz, é o Estado de direito”, insistiu sem nunca se referir ao ex-Presidente e potencial candidato Nicolas Sarkozy, que recentemente defendeu a detenção de radicais antes que estes passem à acção.

Depois de um Verão que ficou marcado pela proibição, em várias estâncias balneares, do uso de burkinis – interdições que o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, apoiou – o Presidente francês opôs-se à aprovação de uma lei que proíba o uso deste vestuário nas praias do país e distanciou-se dos que usam o princípio da laicidade para defender restrições ao islão. As leis de separação entre Estado e igreja “não são uma religião do Estado contra as religiões”, mas servem para garantir o direito de todos os cidadãos “a ser ou não crentes”. “O islão pode acomodar-se à laicidade como as outras religiões fizeram? A minha resposta é claramente sim, pode”.

Perante a impopularidade gritante – 88% dos eleitores dizem que não querem que ele se recandidate a um segundo mandato – cresce a pressão no Partido Socialista para que Hollande anuncie o quanto antes as suas intenções e, caso queira concorrer, se sujeite a eleições primárias. Mas Hollande mantém que só divulgará as suas intenções em Dezembro. Ainda assim, ninguém deixou passar em claro quando nesta quinta-feira, a meio das críticas às posições securitárias da direita, afirmou: “Não deixarei que a imagem da França, a influência da França se deteriorem nos meses e anos que temos pela frente”.

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