Nova liderança em Taiwan desafia China com ronda diplomática norte-americana

Jornal oficial de Pequim alerta o partido pró-independência que venceu as eleições em Taiwan para não "ultrapassar a linha vermelha" e entrar em "alucinações".

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Tsai Ing-wen diz respeitar o statu quo com a China, mas quer deixar em aberto um processo de independência. Reuters

O secretário-geral do partido pró-independência que venceu as eleições presidenciais e legislativas do último fim-de-semana em Taiwan visita esta segunda-feira os Estados Unidos, sinalizando a proximidade entre a nova liderança do território autónomo e Washington, o seu principal aliado e vendedor de armas.

A visita de Joseph Wu é encarada pelo seu DPP (Partido Progressivo Democrático) como uma viagem de “rotina”. Falará na terça-feira num think­-tank norte-americano sobre as consequências das eleições de sábado, em que não só o seu partido elegeu uma nova Presidente, Tsai Ing-wen, com mais de 55% dos votos, mas também um novo Governo e maioria parlamentar.

Na manhã desta segunda-feira – ainda madrugada em Portugal – dois representantes do Governo norte-americano em Taiwan encontraram-se com a nova Presidente e responsáveis do DPP. De acordo com comunicados citados pela Reuters, Tsai prometeu manter relações “próximas e amigáveis” com os Estados Unidos. Em contrapartida, os membros da embaixada não-oficial de Washington em Taiwan disseram querer preservar a “prosperidade e crescimento” do território e a “paz e estabilidade em ambos os lados do Estreito [da Formosa, que divide o continente chinês e a ilha]”.

Os contactos entre Estados Unidos e partido pró-independência acontecem num momento em que a China está mais assertiva sobre as ambições de independência em Taiwan. No seu editorial de domingo, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês alertou a nova liderança do território autónomo para não “ultrapassar a linha vermelha”, caso contrário, estaria num “beco sem saída”.

“Esperamos que Tsai possa conduzir o DPP para longe das alucinações de independência de Taiwan, e que contribua para o desenvolvimento pacífico dos laços comuns entre Taiwan e o continente”, lê-se no Global Times.

Tsai defende os laços com a China – que considera Taiwan território seu, apesar de lhe permitir autonomia eleitoral e governamental – e diz não querer avançar para um processo de independência que perturbe o status quo existente. Mas, ao contrário do partido do Governo e Presidente cessantes, Tsai deixa a questão da independência em aberto.

Pequim não aceita a independência de Taiwan e reivindica o direito de uma intervenção militar como, aliás, ficou negociado no “consenso” de 1992: se o território autónomo avançar para a independência, o exército chinês atacará. Caso isso aconteça, os Estados Unidos ver-se-ão arrastados para o conflito dado o seu compromisso de defensa com Taipé.

“O continente tem paciência em relação ao tema de Taiwan, mas tem também princípios e uma máxima”, afirma ainda o editorial do Global Times

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