Papa Francisco enumera as 12 virtudes necessárias para continuar reforma

Sumo Pontífice fala em medidas para travar as doenças de que sofre a Igreja Católica no discurso de Natal perante a Cúria.

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O Papa na Sala Clementina, a discursar aoa cardeais e bispos Osservatore Romano/Reuters

Há um ano, no tradicional discurso de Natal à Cúria, o Papa Francisco enumerou as 15 doenças que afectam a saúde do Vaticano, entre as quais a ânsia do poder, o narcisismo e aquilo a que chamou o “Alzheimer espiritual”. Este ano, perante cardeais e bispos, recordou-lhes que essas doenças se manifestaram várias vezes, mas assegurou que a sua vontade de reformar a Igreja Católica não diminuiu. E enumerou uma lista de “12 virtudes” necessárias para poder exercer cargos de responsabilidade no Vaticano.

A Cúria é o Governo e a administração da Santa Sé. Os escândalos com dinheiro e más administrações no Vaticano têm a ver directamente com a Cúria – que Francisco, desde que tomou posse, se tem empenhado em reformar, não só ao nível do funcionamento como das mentalidades. Mas há resistências internas, e muito fortes – tanto que nos corredores do Vaticano se fala na “mania dos pobres do Papa”, por exemplo, diz o especialista na área do El País.

Mas o Papa não dá sinais de se dobrar às maledicências vaticanas, nem de ter intenção de abrandar o seu ímpeto reformista. “A reforma da Cúria vai avançar com determinação, lucidez e determinação”, avisou Francisco. No entanto, este ano o tom foi mais positivo – depois de ter enumerado as doenças, agora fala na forma de as tratar.

Quando mencionou a sobriedade – “a capacidade de renunciar ao supérfluo e de resistir à lógica consumista dominante" – o realizador da televisão do Vaticano filmou o cardeal Tarcísio Bertone, o secretário de Estado do Papa Bento XVI, sublinha o El País. Foi uma pequena grande maldade: este ano surgiram acusações de que ele usou 200 mil euros de fundos destinados a um hospital infantil para renovar o seu luxuoso apartamento.

Nos últimos dias, o cardeal, uma figura sempre polémica, doou 150 mil euros ao Hospital Bambino Gesù, propriedade do Vaticano – o que também chama a atenção sobre os seus meios financeiros.

Outra das 12 virtudes enunciadas por Francisco é a honestidade: “O honesto nunca manipula as pessoas ou as coisas que lhe confiaram para administrar. A honestidade é a base sobre a qual descansam todas as outras qualidades.”

Essa virtude esteve certamente em falta este ano no Vaticano, por causa do escândalo das fugas de informações internas – o caso Vatileaks 2 – que deram origem a dois livros que relatavam má gestão das finanças da Santa Sé, inclusivamente da Congregação para a Causa dos Santos, que não sabia o que aconteceu a dezenas de milhões de euros em despesas e viu as suas contas bancárias congeladas durante algum tempo. 

Um padre espanhol, Vallejo Balda, continua preso no Vaticano. Terá dormido com uma mulher casada e sido chantageada por ela, além de usar fundos sem controlo – e de passar documentos confidenciais para o exterior.

Algumas das doenças identificadas no ano passado manifestaram-se este ano, disse o Papa, “causando muita dor a todo o corpo [da Igreja] e ferindo muitas almas”. As virtudes que propôs – que na verdade são 24, pois vêm aos pares – são “antibióticos” para tratar estas doenças. Por exemplo, a racionalidade e a amabilidade, a caridade e a verdade, o respeito e a humildade, a diligência e a atenção, a espiritualidade e a humanidade.

Francisco pediu aos membros da sua administração que “não sejam robôs que não ouvem e não se emocionam”, que se oponham “às recomendações e aos favores”, mas também que evitem “os excessos emocionais” e os “actos impulsivos e precipitados.” 

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