Eleições gregas mais imprevisíveis com Nova Democracia a subir nas sondagens

Número de indecisos varia entre 11 e 17%. Primeira sondagem após a demissão de Alexis Tsipras que dá o seu rival conservador à frente.

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O líder da Nova Democracia, Vangelis Meimaraki, apresenta-se agora sem gravata. Está a subir nas sondagens MICHALIS KARAGIANNIS/AFP

As eleições gregas de 20 de Setembro são uma corrida cada vez mais aberta e imprevisível, com uma sondagem a dar, pela primeira vez, uma vantagem ao partido conservador Nova Democracia contra o Syriza.

A vantagem é mínima, 0,5 pontos percentuais, com 24% da Nova Democracia para 23,4% do Syriza, e está dentro da margem de erro. Mas o inquérito do instituto Metron para a televisão privada Mega é o primeiro a dar uma vantagem ao partido conservador, desafiando uma percepção geral de que seria o Syriza e Tsipras a ter a vantagem. Ainda segundo este inquérito, haverá 11% de indecisos.

Outras sondagens dão, no entanto, um panorama diferente: o instituto Bridging Europe, que se orgulha de ter sido o único a dar uma vitória do “não” no referendo ao acordo com a troika, divulgou esta sexta-feira uma sondagem com o Syriza à frente com 26,9%, 19,8% para a Nova Democracia, e 17,4% de indecisos.

Além do grande número de indecisos, a campanha ainda mal começou, e os partidos só agora começam a posicionar-se, especialmente em relação ao acordo assinado com os credores para um terceiro empréstimo, assinado por Alexis Tsipras mas que vincula qualquer Governo.

A Nova Democracia, cujo líder interino, Evangelos Meimarakis, se começou a apresentar sem gravata nos comícios, promete renegociar o acordo, propondo algumas medidas alternativas. “Voltámos a 2012”, ironiza o comentador Nick Malkoutzis no Twitter.

Alexis Tsipras demitiu-se depois de uma enorme reviravolta ao aceitar um terceiro empréstimo com base num acordo alcançado com os credores depois de uma intensa luta nas mesas de Bruxelas e após um rotundo “não” dos gregos num referendo que convocou. A sua estratégia ao demitir-se não parece estar a resultar como se previa: Tsipras apostava num vazio de rivais credíveis e na falta de alternativas, mas a revolta dentro do seu partido foi maior do que se esperava, e parece que o desalento dos gregos está a levar a melhor nas eleições, com uma grande potencial abstenção.

Tsipras tem agora apostado em duas vias de argumentação: a de que o Syriza é o único partido que garante que a Grécia não vai voltar à corrupção do passado, e que só com uma votação forte e uma maioria absoluta pode evitar aliar-se com os “partidos do passado” para poder levar a cabo esta luta contra o clientelismo e corrupção.

O líder do Syriza prometeu antes que não se coligaria quer com a Nova Democracia quer com o Pasok, mas esta sexta-feira já abria a porta a uma colaboração com os socialistas se houvesse mudanças no partido.

Quanto ao partido que saiu do Syriza em desacordo com o memorando com os credores, a Unidade Popular (UP), apesar de ter conseguido arrastar uma parte significativa de membros do Syriza, atingindo especialmente a sua juventude partidária, parece não estar a conseguir galvanizar o eleitorado, e nas sondagens continua a lutar para conseguir tirar o terceiro lugar aos neonazis da Aurora Dourada, que surgem como o maior partido de protesto (ambos na casa dos 6%).

O líder da UP, Panagitis Lafazanis, é um político da velha esquerda e não é visto como uma alternativa galvanizadora para quem apoia o fim do memorando e a saída da Grécia do euro. Lafazanis defendeu já um regresso a uma moeda nacional de modo ordeiro, embora não tenha explicado como o faria. Com isso, perdeu ainda o apoio do veterano Manolis Glezos, herói nacional da resistência que tirou a bandeira nazi da Acrópole de Atenas. Glezos disse não poder estar de acordo com quem defende a saída da Grécia do euro (mas antes rompeu com Tsipras por não querer apoiar um novo memorando). 

Analistas temem que estas eleições terminem com um resultado de quase empate, em que um governo de coligação não seja capaz de agir com a rapidez e dureza suficiente para aprovar e aplicar as medidas estritas e duras do novo acordo para o terceiro empréstimo. As revisões do programa estão ligadas a prazos de pagamento, tornando muito difícil derrapagens. A Grécia não tem qualquer cultura de governos de coligação, com a Nova Democracia (centro-direita) e o Pasok (centro-esquerda) a governar em alternância até serem forçados a uma grande coligação em 2012, que governou até ao final de 2014, quando foi incapaz de aplicar algumas das medidas da troika.

A paisagem política também se alterou radicalmente, com o Syriza a passar de um pequeno partido de protesto em 2009 a alternativa credível anti-memorando em 2012, daí a Governo em 2015, e daí a partido clássico que assina um memorando. Sete meses depois, parte-se, com a cisão do grupo que não aceita esta viragem e o acordo com os credores, e Tsipras demite-se. As mudanças sucedem-se com uma rapidez avassaladora e é difícil imaginar um cenário de estabilidade.

Em caso de empate, há quem tema outra hipótese, a de repetição de eleições, como aconteceu em 2012. O analista Dimitris Rapidis, do centro de estudos Bridging Europe, com sede em Atenas, é uma destas vozes: “A primeira avaliação do acordo [pelos credores] foi adiada para o final de Novembro. Jogada inteligente dos credores ou sinais de uma segunda volta nas eleições na Grécia?” pergunta no Twitter.

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