A um mês das legislativas, UKIP acolhe mais um conservador descontente

Ex-candidato tory passa para o UKIP em plena campanha eleitoral. Sondagens continuam a prever cenário de coligação pós-eleitoral.

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Farage durante uma acção de campanha em Londres Niklas Hallen / AFP

Um ex-candidato a deputado pelo Partido Conservador juntou-se ao Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla inglesa), a cerca de um mês das eleições gerais britânicas. O líder do partido eurocéptico e anti-imigração, Nigel Farage, descreveu a decisão como “mais um golpe de martelo” nas aspirações dos tories no Norte de Inglaterra.

A notícia abriu a segunda semana de campanha eleitoral, logo pela manhã, e depressa os dois partidos tentaram enquadrar o abalo. O UKIP fala em “deserção” do candidato pelo círculo de Hull West e Hessle, no Nordeste, que teve origem em desentendimentos com a direcção do Partido Conservador.

Os tories apressaram-se a prestar esclarecimentos, a fim de evitar que o caso fosse apresentado como mais uma deserção – seria a terceira de um conservador para o UKIP em menos de um ano. “O senhor envolvido não era um candidato conservador”, afirmou na BBC o secretário do partido para a Cultura, Sajid Javid. “Ele estava nas listas até à última semana, mas foi afastado, portanto não se trata de uma deserção”, acrescentou. No entanto, até à noite de domingo o nome de Mike Whitehead continuava a figurar como candidato ao círculo de Hull West e Hessle no site do partido, segundo o Guardian.

Whitehead admitiu que o seu nome tinha sido retirado das listas de candidatos dos conservadores depois de se ter recusado a apoiar o nome proposto pela direcção do partido para o lugar de conselheiro local – o cargo que era de Whitehead até agora. Mas considerou o seu afastamento como um “ataque preventivo”.

“Disse-lhes que sairia se eles me impedissem. Eu ia apresentar-me às duas eleições [gerais e locais]”, disse Whitehead ao Guardian. Depois de saber que tinha sido demitido, na quarta-feira, o então ex-conservador tinha a intenção de concorrer como independente, mas reuniu com o UKIP “para saber quais as suas visões sobre a democracia local”. “Fiquei muito impressionado com o que me disseram.”

A saída de Whitehead foi, portanto, motivada mais por rivalidades pessoais do que por profundas divergências ideológicas e não está ao nível de outras “deserções” célebres entre os dois partidos. Em Agosto, o deputado Douglas Carswell abandonou os tories para se juntar ao UKIP e deu o primeiro lugar em Westminster ao partido de Farage, vencendo as eleições antecipadas no círculo de Clacton – convocadas precisamente por causa da saída de Carswell.

O mesmo aconteceu com Mark Reckless, que em Novembro ocupou o segundo lugar do UKIP na Câmara dos Comuns. Não é previsível que Whitehead dê mais um lugar à bancada do partido anti-imigração. O lugar é detido pelo ex-ministro trabalhista, Alan Johnson, desde 1997 e as sondagens apontam para uma recondução.

Não é a primeira, nem sequer a segunda vez que acontece, mas a saída de um conservador para as fileiras do UKIP em plena campanha eleitoral é uma dor de cabeça que o primeiro-ministro, David Cameron, não precisava. A sangria de eleitores – e políticos – entre os tories e o UKIP é uma das principais causas apontadas para a baixa votação do partido no poder antecipada pela maioria das sondagens.

A oposição quis sublinhar precisamente esse aspecto, com o “ministro sombra” trabalhista, Jon Trickett, a dizer que “o UKIP e os tories partilham cada vez mais as mesmas pessoas e as mesmas políticas”.

Conservadores e trabalhistas aparecem praticamente empatados, mas nenhum dos partidos estará em condições de formar um Governo com uma maioria estável no Parlamento, sem recorrer a uma coligação. O cenário para o partido de Cameron complica-se ainda mais pela queda acentuada dos liberais-democratas, que impossibilita a reedição da actual coligação governamental. Um Governo trabalhista seria apenas possível – caso as eleições de 7 de Maio confirmem a tendência actual – num cenário de coligação com o Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla inglesa), que poderá conseguir 40 dos 59 lugares reservados aos deputados escoceses.

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