As três questões em que mais professores erraram

Menos de 30% dos professores que fizeram a prova de avaliação acertaram em três dos 32 itens de escolha múltipla.

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Um em cada três professores reprovou na prova de avaliação Hugo Delgado

Os 2490 professores que em Dezembro fizeram a componente comum da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) tiveram especiais dificuldades em responder a alguns dos 32 itens de escolha múltipla (que correspondem a 80% da cotação). O PÚBLICO foi ver quais as três questões em que a percentagem de acerto foi inferior a 30 % e, portanto, as que mais embaraçaram estas pessoas com qualificação profissional para a docência, mas que não são do quadro. Os que chumbaram na prova (34,3%) já não farão as provas específicas, em Fevereiro, e ficam impedidos de se candidatar a dar aulas no próximo ano lectivo.

A questão em que a percentagem de acerto foi mais baixa (21,1%), segundo os dados fornecidos pelo Instituto de Avaliação Educacional (IAVE) nesta segunda-feira, foi a número 6. Nesta prova 78,9% não souberam responder ao seguinte:

“O seleccionador nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo de futebol. Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem qualquer critério que restrinja a sua escolha, poderemos afirmar: (a) que o número de grupos diferentes de jogadores suplentes é inferior ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; (b) superior ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; (c) igual ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; ou (d) não se relaciona com o número de grupos diferentes de jogadores efectivos (d)?

A resposta certa era “igual ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos”.
 
Nesta primeira parte da componente comum da prova (que, segundo o IAVE, "visa avaliar a capacidade para mobilizar o raciocínio lógico e crítico, bem como a preparação para resolver problemas em domínios não disciplinares"), outra questão, desta vez dependente da leitura de um gráfico, levou 73,4% dos professores a errar. 

 

Trata-se de um gráfico adaptado de um relatório de 2013 sobre os resultados da avaliação externa dos ensinos básico e secundário, realizada no ano anterior, que ilustra a distribuição de algumas regiões em função da média obtida no Exame de Português de 2012 e da respectiva evolução relativamente a 2009

Num texto que precede várias questões, explica-se que aquele apresenta, entre outros aspectos, “as médias regionais indexadas à média nacional”. E é explicado que "um valor-índice igual a 100 representa uma média regional igual à média nacional e valores-índice inferiores e superiores a 100 representam, respectivamente, médias regionais inferiores e superiores à média nacional”.

Dada a informação de que em 2012 os alunos da região Oeste obtiveram uma média de 96, em valor-índice, a questão era: “Qual foi a média obtida por estes alunos no exame nacional de Português de 2009, em valor-índice? Respostas possíveis: zero; - 5; 91; e 101.

Na resposta, os professores deviam ter assinalado a hipótese “101”.

A terceira questão deste grupo que menos professores acertaram (29,5%) implicava a leitura de um excerto da obra O livro — Impressão e fabrico, de Douglas C. McMurtie. Antes de responder ao item 14, os docentes puderam ler o seguinte:

“Em muitos livros, a beleza é por si só um objectivo que deve procurar algo acima da estrita adaptação à finalidade deles. Esta afirmação implica que há alguns livros em que a beleza é um desiderato, e que há outros em que o encanto não é factor de importância material. Quando tentamos uma classificação, a distinção parece assentar entre uma obra útil e uma obra de arte literária. Até o tipógrafo mais animado dificilmente podia concentrar muito entusiasmo no embelezamento de um dicionário, numa lista telefónica ou num código de cabo submarino, embora estivesse sinceramente interessado no seu bom aspecto tipográfico. Para obras desta espécie, a legibilidade e a comodidade de consulta podem ser as características exclusivamente exigidas(…)”.

E a pergunta foi: Com o objectivo de definir a classificação proposta no segundo parágrafo, o autor recorre ao exemplo do “tipógrafo” para ilustrar: (a) os dois termos de uma distinção; (b) o primeiro termo de uma distinção; (c) o segundo termo de uma distinção; ou (d)um termo não integrado numa distinção?

Neste caso, a resposta certa era  “o 1.º termo de uma distinção”.

Para além desta primeira parte da prova, com os 32 itens de escolha múltipla (que correspondem a 80% da cotação), os docentes foram confrontados com a necessidade de produzir um texto com um número de palavras compreendido no intervalo entre 250 e 350, inclusive. Neste caso, os professores puderam ler um excerto de um ensaio de José Manuel Fernandes, ex-director do PÚBLICO, em que aquele defende que “a Internet e as redes sociais permitem que muito mais gente seja capaz de comunicar mais depressa e com mais pessoas, mas isso não implica que a informação que circula seja melhor e mais útil”. Foram desafiados a expor a sua própria opinião sobre a perspectiva expressa pelo autor.

Segundo o IAVE, 40,4% dos professores tiveram uma classificação entre 10 e 14,9 pontos (em 20) e 24,8% uma classificação igual ou superior a 15. No que se refere à ortografia, em 29,1% dos casos registam-se um ou dois erros e em 19,9% cinco erros ou mais.  O PÚBLICO pediu exemplos dos erros e perguntou se resultavam da necessidade de respeitar o Acordo Ortográfico, mas não foi possível obter dados ou informações junto do IAVE, que se escusou a fornecê-los.

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