Plataforma informática do MEC não aguentou tráfego e pode deixar alunos sem um mês de bolsa

A denúncia foi feita pelo Bloco de Esquerda. Há estudantes do ensino superior que se queixam de não ter podido entregar a candidatura devido à lentidão que afectou o sistema provocada pelo pico de procura do último dia do prazo. MEC diz que não lhe foram comunicados casos.

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MEC diz que não recebeu qualquer comunicação que dê conta de casos de alunos que não tenham submetido a candidatura à bolsa de acção social devido a problemas na plataforma Rita Chantre

O último dia da primeira fase de candidaturas às bolsas de acção social no ensino superior terminou na terça-feira. Mas há alunos que não terão conseguido entregar os seus processos a tempo devido à lentidão que afectou a plataforma informática gerida pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC). O aumento do tráfego no final do prazo e o facto de o mesmo sistema estar a ser usado para receber candidaturas a outros programas da tutela deixaram-no sem capacidade de resposta.

A denúncia da situação foi feita pelo Bloco de Esquerda (BE), que dá conta de “múltiplos” casos reportados de bloqueio do sistema informático, e confirmada pelo PÚBLICO junto de vários administradores de Serviços de Acção Social de universidades públicas.

Segundo estes, a lentidão do acesso ao site já tem acontecido, em anos anteriores, no momento do arranque do ano lectivo, em que há mais candidaturas a serem submetidas a bolsas de estudo. Este ano, o problema teve, no entanto, reflexos mais graves, uma vez que a plataforma se encontra mais sobrecarregada.

Além das candidaturas à acção social, o mesmo servidor informático está a ser usado para acolher as candidaturas a uma das iniciativas promovidas pelo MEC para atrair novos públicos para o ensino superior – o programa Retomar, destinado a estudantes que deixaram uma licenciatura a meio.

“Mesmo nos nossos serviços, não estamos a funcionar a 100%. Para conseguirmos abrir um documento, demora-se três a quatro minutos”, conta um administrador. Desde quinta-feira da semana passada, que as universidades foram alertando a tutela para estes problemas, que se agudizaram nos primeiros dois dias desta semana. Entre segunda e terça-feira, houve momentos em que se processaram três mil acessos simultâneos ao sistema. “Não há plataforma informática que aguente isto”, comenta um outro responsável, lamentando que os estudantes continuem a deixar para o último dia a candidatura, quando o prazo começou a 25 de Junho.

À agência Lusa, o MEC confirma os problemas e justifica que houve um “pico de acessos” nestes últimos dias que tornam “natural” as dificuldades de acesso à plataforma. Na segunda-feira foram submetidos 3243 pedidos de bolsa e, no dia seguinte, 4803 candidaturas, cerca do dobro do que estava a ser registado, em média, ao longo do resto do mês. Até ao momento, foram submetidos 77.260 pedidos de bolsas – um aumento de 302 pedidos face ao ano anterior.

No último dia de Setembro terminava o prazo de submissão de candidaturas para os estudantes que pretendessem receber bolsa de estudo a partir do início do ano lectivo. Depois desta primeira fase, as candidaturas mantêm-se abertas até 31 de Maio. No entanto, apenas serão pagos aos candidatos os valores correspondentes aos meses posteriores ao momento da candidatura. Por isso, os estudantes que não entregaram a candidatura até terça-feira perdem um mês de pagamento de bolsa.

O BE exige, por isso, uma solução para os alunos que tiverem sido afectados por este problema no sistema, de modo a que não sejam prejudicados. A sugestão é também feita por um dos administradores dos Serviços de Acção Social: “Faria sentido que se alargasse o prazo por uns dias, tal como aconteceu este ano com a entrega das declarações de IRS.” O MEC recusa, todavia, essa possibilidade e diz não ter recebido, até ao momento, qualquer comunicação que dê conta de casos de alunos que não tenham submetido a candidatura à bolsa de acção social devido a esta situação.

Notícia corrigida às 17h16: Além das candidaturas à acção social, o servidor está a ser usado para as candidaturas ao programa Retomar. Já as bolsas do programa + Superior, que pretendem levar estudantes para o interior do país, usam uma plataforma autónoma, ao contrário do que o PÚBLICO tinha inicialmente noticiado. 

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