Matteo Renzi indigitado para formar Governo em Itália

Líder do Partido Democrático foi apresentar a sua estratégia política ao Presidente Giorgio Napolitano.

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Matteo Renzi à chegada ao Quirinal na manhã desta segunda-feira AFP/Andreas Solaro

Renzi foi recebido esta manhã pelo Presidente, que lhe concedera dois dias para definir as linhas estratégicas do novo governo – o quarto em dois anos – e alinhavar a lista ministerial. Esse trabalho foi feito durante o fim-de-semana, embora a imprensa italiana fale apenas em “rascunhos” e as negociações persistam. “Aceito a nomeação com reserva, com a responsabilidade e consciência da importância da confiança que me foi depositada”, declarou Matteo Renzi, repetindo a fórmula institucional utilizada pelos líderes convidados a constituir governo.

O líder do PD, que já se desvinculou das suas obrigações autárquicas em Florença, deverá iniciar amanhã o processo de consultas formais oficiais, com uma reunião na Câmara dos Deputados. Prevê-se que, na sexta-feira, o novo primeiro-ministro esteja em condições de apresentar a sua equipa no Senado e pedir um voto de confiança ao seu programa de governo. “A situação é difícil mas tenho energia e empenho”, declarou, garantindo que a sua perspectiva é que a legislatura cumpra o seu “horizonte natural”, até ao ano de 2018.

"O novo executivo ainda navega em alto-mar”, notava o diário La Repubblica, acrescentando que poderão passar alguns dias antes de o Governo Renzi dar à costa. “Vamos precisar de alguns dias”, admitiu a secretária nacional do PD, Maria Elena Boschi. Nas primeiras palavras no Quirinal (sede da Presidência da República), o novo chefe de Governo anunciou imediatamente o calendário para a sua agenda reformista: uma nova lei eleitoral até ao fim de Fevereiro, uma reforma laboral em Março, em Abril a da administração pública e em Maio a reforma fiscal.

A incógnita do momento tem que ver com as negociações com Angelino Alfano, o líder do Novo Centro-direita (o partido que constituiu quando se afastou do Povo da Liberdade de Silvio Berlusconi), cujo apoio no Senado é fundamental para a viabilização do novo governo. Alfano, que quer manter o cargo de ministro do Interior que já ocupava no executivo de Letta, já fez saber que o seu acordo depende da atribuição de pelo menos outros dois ministérios – em princípio com a recondução dos anteriores ministros Maurizio Lupi (Transportes) e Beatrice Lorenzin (Saúde).

Alfano quer assinar um “pacto de Governo” que garanta que o novo executivo não fique excessivamente “desequilibrado” para a esquerda. “Somos simplesmente indispensáveis para o nascimento deste novo governo: se dissermos que não, ele nem vê a luz do dia. Para nos é uma grande satisfação, mas também uma enorme responsabilidade, e sabemos que não podemos errar”, avisou num discurso aos seus apoiantes no fim-de-semana.

A pasta da Economia é, porventura, a mais sensível no momento – apesar de esta manhã os mercados financeiros terem reagido em alta à indigitação de Renzi e a agência de notação financeira Moody’s ter revisto o outlook da Itália de negativo para estável. Com a taxa de desemprego a bater nos 13%, a terceira maior economia da zona euro saiu da recessão com um crescimento de apenas 0,1% no último trimestre de 2013. “O país está impaciente e a precisar de respostas imediatas”, observou o ministro cessante, Fabrizio Saccomanni.

A formação do Governo não vai ser uma tarefa fácil, antecipava o La Stampa – que no fim-de-semana já foi apresentando uma lista de nomes que responderam “não, obrigado” aos convites lançados por Renzi. Segundo o Corriere della Sera, o primeiro-ministro precisa “desesperadamente” de povoar a sua equipa governativa com “figuras de excelência, se possível novas, mas com a experiência necessária para que não se tornem escravas dos seus chefes de gabinete”. Aparentemente, o antigo primeiro-ministro e antigo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, era a escolha de Renzi para as Finanças.

Independentemente dos nomes que venham a constituir o novo governo, há uma parcela da opinião pública que se mostra desagradada com o facto de o país voltar a ser dirigido por um primeiro-ministro não eleito – no caminho para o Quirinal, Matteo Renzi teve de passar por um grupo de manifestantes que gritavam “eleições”.

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