Belmokhtar, o jihadista gangster, volta a atacar, desta vez no Níger

Forças especiais francesas ajudaram a libertar reféns de base militar em Agadez. Tinham sido presos pelo jihadista que raptou estrangeiros no complexo de Amenas, na Argélia. Interesses nucleares de França em perigo

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Instalações da Areva em Arlit, que foram visadas no atentado de quinta-feira PIERRE VERDY/AFP

Um assalto em que participaram soldados das forças especiais francesas conseguiu pôr fim nesta sexta-feira ao rapto de reféns na base militar de Agadez, no Níger, tomada pelo grupo de radicais liderado pelo jihadista Mokhtar Belmokhtar, que em Janeiro manteve um grande grupo de trabalhadores estrangeiros raptados no complexo de exploração de gás de Amenas, na Argélia.

Este ataque em Agadez, que começou na quinta-feira, aconteceu ao mesmo tempo que outro contra instalações da empresa estatal francesa Areva, que explora as minas de urânio de Arlit, um pouco mais a Norte, e que constrói centrais nucleares em França e por todo o mundo.

Belmokhtar, que diz praticar a guerra santa mas controla os vários tráficos que passam pelo Norte de África – um dos seus cognomes é Mr. Marlboro – “supervisionou em pessoa” os dois atentados, anunciou um seu porta-voz. Ao todo, os ataques de quinta-feira fizeram cerca de 20 mortos.

Belmokhtar, que chegou a ser dado como morto em Amenas, na Argélia, ameaça “deslocar a guerra [para o Níger] se este país não retirar as suas tropas mercenárias” do Mali. E, segundo o seu porta-voz El-Hassen Ould Khlil, também conhecido como Jouleibib, ameaça a França e todos os países que se envolveram na operação lançada por François Hollande para expulsar do Norte do Mali a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) – o grupo com o qual está relacionado Belmokhtar, o jihadista gangster.

“A situação foi estabilizada, em particular em Agadez, onde as nossas forças especiais intervieram em apoio das forças do Níger, a pedido do Presidente Mahamadou Issoufou”, explicou o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, no canal de televisão noticioso BFMTV. Considerou ainda “essencial” que o Norte do Níger não se torne “um santuário islâmico” como foi o Norte do Mali.

O Presidente francês François Hollande, por seu lado, classificou os ataques no Níger como “uma prova suplementar” da necessidade de apoiar  África contra “a praga” do terrorismo.O porta-voz de Belmokhtar, na verdade, disse que os atentados foram realizados em colaboração com o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO), um dos grupos armados islâmicos que ocupavam o Norte do Mali e que foram expulsos pela acção conjunta francesa e africana do início do ano.

Refúgio no Sul da Líbia
Especialistas nesta zona sublinham que o Sul da Líbia se tornou no novo ponto de concentração dos grupos islamistas que circulam pelas zonas desérticas do Norte de África, após a ofensiva francesa e africana no Norte do Mali. “A fronteira entre o Níger e a Líbia é difícil de vigiar: é uma janela muito permeável”, disse à AFP Mohamed Ouagaga, um dos líderes da rebelião tuaregue do Níger nos anos 2007-2009 e que continua a ser uma figura influente na região. “Nenhuma força militar se pode gabar de conseguir controlar esta zona, sejam quais forem os meios de que disponha.”

O Grande Sul da Líbia é uma zona aberta a todos os tráficos e também à  AQMI e aos seus aliados locais. “Muito antes da operação francesa no Mali, depois da revolução líbia, o Sul do país ficou aberto”, disse à agência francesa Alain Rodier, director do Centro de Investigação sobre a Investigação (CF2R).

“As autoridades líbias só controlam Trípoli e os seus arredores, mais nada. A Líbia está um caos que recorda a Somália. Algumas tribos do Sul do país fizeram acordos com os jihadistas na base do ‘nós deixamos-vos passar, vocês deixam-nos em paz'”, explicou Rodier.

Os jihadistas perderam no Norte do Mali, mas não foram vencidos. “O que se diz na região é que estão particularmente irritados com o Chade, que se envolveu firmemente ao lado de Paris. Sem dúvida que vão tentar atacar lá”, afirmou o mauritano Isselmou Ould Moustapha, especialista sobre AQMI.

O Níger é também um alvo óbvio, porque tem importantes interesses franceses, como as minas de urânio da Areva, de onde este gigante mundial da indústria nuclear retira 3600 toneladas de urânio anualmente – um pouco mais de um terço da sua produção mundial total, adianta o Le Monde.

Há 40 anos que a Areva está presente no Níger, onde é o mais empregador privado. Além das minas de Arlit está empenhada na exploração de um outro local, Imouraren, que será a maior mina a céu aberto em África. A Areva tem 56% das acções desta mina, onde se estima que seja possível produzir 5000 toneladas de urânio anualmente. Mas a produção só deverá iniciar-se em 2015, apesar de inicialmente se prever que começasse em 2012. 

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