Educação para os Media

Há um projeto português no Digital Citizenship Map. É o PÚBLICO na Escola

Mapa interativo desenvolvido pelo “think tank” europeu The Lisbon Council reúne “projetos inspiradores” na área da cidadania digital. Pretende incentivar através de boas práticas.

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Visita de alunos do 5.º ano, da Moita, à redação do PÚBLICO em Lisboa, em fevereiro de 2023 Daniel Rocha

O mundo em que vivemos é cada vez mais digital. Esta afirmação não é nova e será, talvez, uma das mais repetidas na última década. Mas nem todas as pessoas, sejam elas de que geração forem, têm ferramentas para navegar o imenso oceano que é a internet. Foi com essa consciência e a partir dos dados do Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES) que o Digital Citizenship Working Group, um grupo multidisciplinar que tem trabalhado em torno da cidadania digital na União Europeia, decidiu criar um mapa interativo com “projetos inspiradores”. Chamou-lhe Digital Citizenship Map e, para já, agregou dezoito projetos de diferentes países europeus. Entre eles está o PÚBLICO na Escola, projeto de literacia mediática do PÚBLICO. O mapa foi hoje apresentado e tornado público.

De acordo com a coordenadora do projeto de criação do mapa, Stella Meyer, o que mais impressionou a equipa foi a natureza intergeracional do PÚBLICO na Escola, uma vez que trabalha tanto com alunos como com professores. “Os professores são muitas vezes esquecidos e têm de transmitir ferramentas que, muitas vezes, eles próprios não têm. É superimportante incluir ambos”, explica. Uma vez que “já existem muitos projetos com um foco nos jovens”, a preocupação da equipa que selecionou os que fariam parte deste mapa foi o seu caráter diferenciador, muitas vezes presente nos detalhes, e a relação com a comunidade local.

Para David Pontes, diretor do PÚBLICO, este reconhecimento é recebido “com uma enorme satisfação e com alguma sensação de justiça”, porque “a equipa do PÚBLICO na Escola, mesmo sendo pequena, se dedica intensamente a levar o jornalismo às escolas e tem tido a capacidade de evoluir com o mundo à sua volta, que tem mudado”. O diretor do PÚBLICO destaca ainda a qualidade daqueles que, como o PÚBLICO na Escola, foram incluídos no mapa. Estão inscritos projetos com presença na Bélgica, Bulgária, Estónia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Polónia, Roménia, Espanha, Países Baixos e Reino Unido. Um deles — ySKILLS conta com uma participação portuguesa, num consórcio que reúne seis países.

Inspirar mais países e aumentar o mapa

O IDES tem mostrado que existe “um fosso muito grande” entre os avanços tecnológicos e as competências digitais dos cidadãos — e o Digital Citizenship Working Group tem procurado supri-lo. Uma das soluções que encontrou foi a criação deste mapa de cidadania digital que se foca em cinco pilares: Empoderamento Digital, Engajamento Digital e Literacia Mediática, Fundações Digitais, Oportunidades Digitais, Bem-Estar Digital. É Stella Meyer, investigadora e coordenadora do projeto, quem o explica. “Com o mapa tentamos cobrir todos estes diferentes aspetos e dar a conhecer iniciativas pela Europa que trabalham nesse campo. Cada um contribuiu para diminuir as falhas na cidadania digital e têm diferentes grupos-alvo e diferentes formas de ensinar competências digitais”.

Da equipa que selecionou os projetos fazem parte organizações da sociedade civil, académicos e outras pessoas e instituições com conhecimento especializado. A concretização do mapa ficou a cargo do think tank The Lisbon Council, do qual Stella Meyer faz parte. O principal objetivo é que “qualquer pessoa, em qualquer parte da Europa” que queira criar um projeto que possa contribuir para uma cidadania digital ativa se possa inspirar nestes projetos. Entre os públicos-alvo das iniciativas agregadas neste mapa estão crianças, adolescentes, jovens, raparigas e mulheres, bibliotecários, pessoas com baixo rendimento, meios de comunicação, profissionais de media, pais, pessoas com deficiência, decisores políticos, refugiados, professores e escolas, pessoas em situação de desemprego e à procura de emprego — e a sociedade em geral.

“Tentamos cobrir o máximo de grupos-alvo que conseguimos encontrar. Não apenas jovens, mas pessoas de todas as idades, com diferentes contextos sociais e económicos, seja qual for a sua profissão, venham de onde vierem. Porque diminuir a falta de competências digitais significa aumentar a qualidade da relação das pessoas com o digital, porque há muito a acontecer online e nem sempre temos ferramentas para interpretar. É por isso que ficamos vulneráveis a burlas online e à desinformação, e também não temos acesso a serviços digitais”, alerta a investigadora do Lisbon Council. Desta forma não conseguimos tirar proveito dos benefícios da internet e ficamos vulneráveis, acredita. “Esse é, sem dúvida, um dos objetivos principais: garantir que temos toda a gente no mesmo barco.”

Depois da apresentação do projeto, o Digital Citizenship Working Group pretende continuar a ser um agregador de projetos com boas práticas e estimular a circulação de conhecimento — tanto através da criação de workshops como da promoção de sinergias entre estes “projetos inspiradores” e os que estão por surgir. “O que esperamos mesmo é que a palavra se espalhe na comunidade e que as pessoas sugiram mais iniciativas, porque alguns países ainda não estão representados e queremos mesmo mudar isso”, acrescenta Stella Meyer.