O Facebook já não vai para novo. A empresa, uma das que ajudou a definir este primeiro quarto de século, fez em Fevereiro 19 anos. Dentro do sector tecnológico, isto aproxima-a mais da meia-idade do que do final da adolescência. Em conformidade, parece estar numa crise sobre o que fazer no futuro, depois de uma "carreira" bem-sucedida.

Há alguns anos, o Facebook (ou Mark Zuckerberg, não é fácil destrinçá-los) queria ligar o mundo, construir comunidades, aproximar amigos e famílias, ser nada menos do que a infraestrutura do tecido social global. Já 2023 será o "Ano da Eficiência", declarou Zuckerberg no relatório de apresentação de contas: um dos objectivos é transformar a Meta numa "organização mais forte e mais ágil". Traduzindo: perder o excesso de peso ganho durante a pandemia, despedindo cerca de 13% da força de trabalho

Percebe-se de onde vem a motivação. A tendência das contas não é animadora, muito embora a Meta continue a ser uma máquina de fazer dinheiro.

No ano passado, o lucro encolheu 41%, apesar de as receitas se terem mantido quase inalteradas (desceram 1%). A empresa fechou 2022 com lucros acima dos 23 mil milhões de dólares (para termo de comparação, a Alphabet, outra empresa que vive sobretudo de anúncios online, teve resultados próximos de 60 mil milhões). No total, as aplicações da Meta – o que inclui o WhatsApp e o Instagram têm quase três mil milhões de utilizadores diários, dois mil milhões dos quais estão, também diariamente, no Facebook. Em ambos os casos, é uma subida face a 2021. E é uma porção muito significativa da Humanidade a usar estas plataformas.

Não é difícil perceber onde está o negócio corrente: continuar a mostrar anúncios eficazes; adaptar-se aos tempos, indo, por exemplo, atrás de conceitos explorados pela concorrência, incluindo o TikTok e o Twitter; e, eventualmente, arranjar forma de rentabilizar o WhatsApp, que se tornou em muitos países a aplicação padrão para mensagens de texto. 

Mais difícil é perceber qual o próximo grande passo.

Historicamente, é perigoso para uma empresa tecnológica descansar sobre as cash cows passadas. A Apple teve de se reinventar no final dos anos 1990 e início dos anos 2000: o lançamento do iPod e do iTunes marcaram a viragem para uma empresa que deixou de ser uma fabricante de computadores pessoais. Pela mesma altura, a Microsoft começou a ir muito além do sistema operativo e das aplicações de produtividade. Em 1995, tinha a Microsoft 20 anos, Bill Gates alertou para o enorme impacto da Internet e notou que uma das grandes ameaças ao Windows era o modesto browser, que poderia acabar por se tornar num quase-sistema operativo. A Microsoft lançou de seguida uma série de serviços online (nem todos de sucesso); além disso, em 2001, apresentou a primeira Xbox. Já o Google começou a deixar de ser apenas um motor de busca logo na primeira década de vida: estreou o Gmail em 2004 e comprou o YouTube em 2006. 

O Facebook, agora Meta, continua a jogar no mesmo terreno que Zuckerberg viu com presciência que seria fértil: ferramentas de comunicação e partilha de conteúdo nas quais assenta um negócio de publicidade. As apostas estratégicas dos últimos anos falharam ou têm, na mais benigna das hipóteses, uma concretização distante. 

Está já praticamente esquecida a tentativa do Facebook de criar a Libra, uma criptomoeda e sistema de pagamento assente na blockchain. Era um projecto ambicioso, que tinha entre os parceiros nomes como a Mastercard, Visa, PayPal e Uber. Nunca saiu do papel. Em abono do Facebook, a blockchain não tem servido para muito, em lado nenhum. Uma boa definição da blockchain é a de que é uma solução à procura de um problema – e a Meta/Zuckerberg, na busca de um segundo acto, parece apostar em soluções para problemas que não existem.

A realidade virtual, onde o empresário tem colocado as fichas, é outro exemplo. Quem já esteve numa reunião por videoconferência a pensar que o ideal era ter uns óculos na cara e fazer-se representar por um avatar infantil? Quem já lidou com o atendimento ao cliente de uma empresa e pensou que, em vez do telefonema ou chat convencional, seria melhor um balcão virtual tridimensional? Passada a novidade de quem experimenta os óculos pela primeira vez, o que fica é sobretudo o incómodo e a artificialidade do ambiente. Os videojogos são um negócio óbvio para a realidade virtual; também há usos profissionais promissores. Mas, aqui, é argumentável que outras empresas estão mais bem colocadas do que a Meta.

O Facebook já enfrentou, com sucesso, crises passadas. A massificação dos smartphones chegou a ser um calcanhar de Aquiles, que foi superado eficaz e rapidamente. Porém, numa altura em se aproxima uma nova era de aplicações de inteligência artificial, a empresa dá a imagem de estar alheada do futuro e enredada em si própria. Que produto irá fazer pela Meta o que o iPod e o iTunes fizeram pela Apple quando esta estava em crise?