Não te respondem quando te candidatas a um emprego? Podes estar a cometer um destes erros

O essencial para quem quer mudar de trabalho? Descobrir uma listagem online de empregos e submeter um currículo é o mínimo. Ferramentas tecnológicas, se usadas correctamente, podem ajudar quem procura um emprego a consegui-lo, mas também podem criar uma rede útil no futuro.

Foto
Getty Images

A Grande Demissão [Great Resignation, no original em inglês] pode rapidamente tornar-se uma procura interminável de emprego para as pessoas que se têm vindo a demitir durante a pandemia de covid-19. É o que tem sentido recentemente Patrick Moran, que espera por uma grande mudança de carreira — de gestor de produção numa padaria de donuts em Rhode Island, nos Estados Unidos, para um emprego de escritório. O jovem de 25 anos diz que nunca usou ferramentas online para trabalhar. Por isso, candidatar-se a outros empregos através de vários portais online com pouca orientação ou conhecimento sobre como utilizá-los apenas o conduziu ao desânimo. “É desanimador concorrer a uma série de empregos e não receber uma resposta.”

Moran cometeu vários erros comuns, de acordo com especialistas em recrutamento, mas, com algumas pequenas mudanças e um pouco mais de tempo, poderia aumentar bastante as hipóteses de ser contratado. O The Washington Post juntou-se a Moran em sessões de aconselhamento com três especialistas em emprego para descobrir as melhores ferramentas e evitar algumas das armadilhas mais frequentes. O essencial: descobrir uma listagem online de empregos e submeter um currículo é o mínimo. Ferramentas tecnológicas, se usadas correctamente, podem ajudar quem procura um emprego a consegui-lo, mas também podem criar uma rede útil no futuro.

“Este é o poder das redes sociais” e da tecnologia, considerou Yolanda Owens, uma antiga recrutadora empresarial e fundadora do serviço de aconselhamento CareerSensei, em Washington, D.C. “Ficarias surpreendido em saber que a ajuda pode chegar de lugares inesperados.”

Para os especialistas, Moran, como muitos outros, provavelmente não estava a suscitar muito interesse junto de recrutadores e empregadores porque não tinha algumas elementos-chave no currículo e no perfil online, onde os recrutadores mais encontram candidatos. E com alguma ajuda do Google, do LinkedIn e de outros sites, Moran poderia fortalecer a sua rede e as hipóteses de ser contratado.

Faltava-lhe um resumo, que deveria estar no início de todos os currículos ou perfis profissionais online, apontaram os especialistas. Isto é ainda mais importante para pessoas que estão a tentar a transição de uma indústria para outra, porque lhes dá uma hipótese de explicarem como são a escolha certa para o emprego, mesmo com uma experiência prévia diferente.

Adrian Klaphaak, fundador do serviço de carreiras a Path That Fits, na Bay Area, em São Francisco, sugeriu que Moran procurasse no Google, no Indeed e no LinkedIn por vagas para o tipo de emprego pretendido — mesmo que não quisesse, necessariamente, candidatar-se a nenhuma — e visse quais os pontos comuns nas descrições. Identificar as cinco principais competências ou qualidades que todas têm em comum, disse. De seguida, depois de algumas linhas introdutórias, enumerar cada competência que possui e prosseguir com uma linha a explicar como cada competência foi demonstrada nos trabalhos anteriores. De preferência, emparelhar cada uma com métricas ou números como prova.

“Quanto mais especificidades acrescentares ao currículo, para provar que podes fazer o que dizes ser capaz, mais entusiasmado fica o gestor que está a contratar.”

Lauren Milligan, coach de carreiras e fundadora da plataforma ResuMayday, em Warrenville, no Illinois, que ofereceu ajuda a Moran depois de ler sobre as suas dificuldades em encontrar um emprego, disse que a secção de resumo também é um bom sítio para os candidatos mostrarem as suas personalidades e competências mais comercializáveis. No caso de Moran, a personalidade era um dos maiores pontos fortes.

Numa era em que é mais provável que o currículo de Moran — ou de qualquer candidato — seja visto primeiro por um computador do que por uma pessoa, os especialistas consideram haver apenas uma coisa que os candidatos devem ter em mente: palavras-chave, palavras-chave, palavras-chave.

Os candidatos devem pesquisar sobre os empregos que pretendem para determinar quais as melhores palavras-chave a incluir em perfis online. Isto pode incluir o trabalho actual e as competências essenciais, qualidades, qualificações técnicas ou programas de software. As palavras-chave devem ser pontuadas ao longo dos currículos e dos perfis no LinkedIn.

“Fiquem longe de coisas gerais como ‘comunicar’ ou ‘trabalhar em equipa’”, sublinhou Owens. “Usem elementos específicos para o trabalho, como ‘gestão de pessoal’ ou ‘operações de produção’.” Owens sugere que os candidatos listem o título pretendido como posição actual no LinkedIn, mesmo que tenham de incluir “aspirante a” antes. “Isso é o que os recrutadores vão usar para te encontrar”, disse. “Vai ajudar-te a aparecer no início da pesquisa.”

Outra oportunidade ignorada frequentemente por candidatos? Os perfis profissionais online e os currículos costumam listar experiências prévias com descrições dos trabalhos em vez do desempenho, algo em que os recrutadores e gestores de contratações estão mais interessados. Além disso, os candidatos podem transformar a experiência profissional em algo mais atraente se conseguirem ligar o desempenho a competências ou objectivos necessários para o novo trabalho. “A maior parte das pessoas cola e copia a descrição do trabalho”, revela Owens. “O desempenho, que é algo único, é o que te vai fazer destacar entre a concorrência.”

Finalmente, nunca subestimes o poder de uma rede profissional, destacam os especialistas. E se não tiveres uma, está na altura de a construíres. Na era das redes sociais, isto é mais fácil do que nunca.

O LinkedIn é um bom ponto de partida porque os candidatos podem encontrar pessoas de duas formas. Podem usar as ferramentas de pesquisa para encontrar quem esteja a trabalhar na empresa contratante ou procurar empresas directamente, e a partir daí empregados que as conheçam.

As opções mais evidentes serão amigos, família ou outros contactos que possam trabalhar para a empresa. Mas quem está à procura de emprego deve também procurar ligações de segundo nível — pessoas que podem não conhecer, mas que um dos amigos pode conhecer. O LinkedIn facilita o processo, ao rotular o nível de ligação de cada pessoa. Assim que os candidatos a emprego encontrem uma ligação de segundo nível, só precisam chegar ao contacto comum e pedir uma apresentação.

Mesmo ligações de terceiro nível — pessoas com as quais o candidato não tem contactos mútuos — são jogo limpo. Embora, para essas ligações, os candidatos tenham, provavelmente, de solicitar uma conexão no LinkedIn e incluir uma mensagem personalizada para ajudar explicar quem são. De acordo com Klaphaak, a melhor maneira de resolver isto é tentar encontrar algo que esta pessoa possa ter feito no seu trabalho, “tweetado”, partilhado online ou pelo menos algo em que a empresa esteja a trabalhar.

“A abordagem não deve ser: ‘Olá, quero um emprego’”, disse Klaphaak. “Deve ser mais algo como: ‘Olá, estou interessado no que fazes e no que a tua empresa faz, e gostava de saber mais sobre isso’.”

Um dos benefícios da Internet é que muito do que as pessoas dizem e fazem é público. Há perfis de Instagram, contas de Twitter, blogues pessoais e sites. O Linkedin é um excelente ponto de partida para se criar uma rede de contactos, mas ir conhecendo pessoas e saber com quem mantêm uma ligação, o que podem saber e como os contactos podem ajudar na procura de emprego é informação valiosa. Apenas requer alguma investigação na Internet.

Por último, após enfeitar o currículo, a conta no LinkedIn e outros perfis profissionais online — que devem ser consistentes em termos de mensagem e historial profissional —, os candidatos podem dar um passo potencialmente desconfortável: partilhar que estão à procura de emprego nos canais pessoais das redes sociais e serem específicos sobre o tipo de emprego que procuram.

“As pessoas vão pensar em ti quando souberem de oportunidades, vão torcer por ti”, disse Milligan. “Basicamente, estás a desenvolver a tua própria equipa pessoal de vendas para que te procurem, para não teres de trabalhar tão arduamente.”

Depois de aprender sobre as estratégias online que poderia usar, Moran diz que ganhou mais confiança na procura por emprego. Já tem planos para os primeiros passos: actualizar o currículo e o perfil no LinkedIn para seguir as melhores práticas e voltar a concorrer ao seu trabalho de eleição. Criar uma rede de contactos é o próximo passo na lista “Não sei se toda a gente deveria ter uma aula sobre isto”, confessa. Mas agora o que precisa de fazer ficou “muito mais claro”.

Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

Sugerir correcção
Comentar