Apoiar a investigação hoje para ajudar todos no futuro

Inovar no tratamento do cancro, atrasar a esclerose múltipla, retardar o envelhecimento e tratar melhor as complicações do transplante de medula. Estas são algumas das investigações apoiadas pela Fundação “la Caixa” e todas têm uma coisa em comum: ajudar vidas de forma concreta.

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Desde a altura em que um cientista formula uma pergunta até ao momento em que começa a investigar a resposta e consegue contribuir para o avanço da ciência, não só decorre uma longa janela temporal como também muito investimento é necessário. Por saber disso, e por querer contribuir para a promoção de investigação de qualidade com vista à inovação, a Fundação “la Caixa” desenvolve um forte e amplo Programa de Bolsas, assim como diversos concursos de apoio à investigação. Só na edição de 2020, a Fundação “la Caixa” concedeu 230 bolsas (pós-graduação, doutoramento e pós-doutoramento), num valor total de 30 milhões de euros.

Mas para que estes números exprimam melhor a essência que escondem, nada melhor que perceber, através de casos concretos, como é que esta iniciativa pode fazer realmente a diferença na vida de alguém: não só na dos investigadores, mas sobretudo na vida de todos nós, já que, no limite, é para o bem geral que a investigação se desenvolve e avança.

Envelhecer mais lentamente e com saúde

Desenvolver novas estratégias terapêuticas que permitam atrasar o processo de envelhecimento e prolongar o número de anos de vida saudável é o objectivo de Pedro Sousa-Victor e da sua equipa, que no Instituto de Medicina Molecular (iMM), em Lisboa, se dedicam actualmente a “trabalhar no envelhecimento muscular e na utilização de células estaminais de músculo para o tratamento da perda de massa e força muscular com a idade”. Nas suas palavras, este problema – designado sarcopenia – “é uma condição clínica com grande impacto na saúde e qualidade de vida da população idosa”, pelo que tudo o que possa ser feito para o reverter ou atrasar é bem-vindo, sobretudo tendo em conta o progressivo aumento da esperança média de vida da população.​

“Restabelecer e recriar a capacidade regenerativa em órgãos envelhecidos pode permitir restaurar o seu funcionamento e prevenir as várias doenças associadas à idade”, explica o investigador, justificando o interesse no tema, ao qual começou a dedicar-se ainda durante o doutoramento, em Barcelona, Espanha. A curiosidade em torno do envelhecimento levou-o ao Buck Institute for Research on Aging, na Califórnia, EUA, e ao longo dos seis anos que ali esteve concluiu que “a melhor forma de encontrar estratégias com sucesso em medicina regenerativa aplicada ao envelhecimento passava por considerar o problema da célula estaminal em conjugação com o ambiente regenerativo”. “A nossa hipótese é que o ambiente inflamatório do órgão envelhecido constitui um obstáculo ao funcionamento da célula estaminal”, refere, pelo que “estratégias que actuem simultaneamente sobre a célula estaminal e modulem o ambiente regenerativo podem ser soluções para que os avanços científicos nesta área possam finalmente ser traduzidos em aplicações clínicas”.

Atrasar a progressão da esclerose múltipla

Há já algum tempo que também Ana Mendanha Falcão se dedica a pesquisar os mecanismos que levam à formação de oligodendrócitos, um tipo de células muito afectadas na esclerose múltipla, pelo que não é de admirar que esta seja a área que ainda a continua a apaixonar, agora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, na Universidade do Minho, Braga, depois de ter passado pelo conceituado Karolinska Institute, na Suécia.​

No âmbito do Programa de Bolsas da Fundação “la Caixa”, a investigadora quer “compreender como é que o conteúdo do líquido cefalorraquidiano, que é produzido por um tecido designado plexo coróide, pode influenciar a regeneração das células do cérebro”. Mais concretamente, procura perceber como é que é possível regenerar os oligodendrócitos, as tais células afectadas no decurso da esclerose múltipla. Quanto à importância decisiva daquilo que faz, reforça que “este projecto introduz uma perspectiva diferente de como atingir a regeneração celular do cérebro”. “O nosso trabalho, juntamente com o de muitos outros neurocientistas, pode levar ao desenvolvimento de terapias inovadoras para o tratamento da esclerose múltipla”, conclui.

Conhecer genes para melhor tratar o cancro

Sabe-se que as células do nosso corpo estão em constante competição entre si, mas se em condições normais tal é saudável e importante para o bom funcionamento do organismo, já o mesmo não acontece quando o cenário é uma doença oncológica. E isto porque “as células neoplásicas tornam-se super fit, aproveitando-se desta competição para crescer”, afirma Miguel Pinto, que tem vindo a estudar este tema na Fundação Champalimaud, em Lisboa, integrado no Cell Fitness Lab, coordenado por Eduardo Moreno.

A beneficiar de uma bolsa atribuída pela Fundação “la Caixa”, em Novembro de 2020, explica que há já mais de dois anos que tem vindo a pesquisar como é que a competição celular se processa. “Recentemente, descobrimos que as células que expressam uma grande quantidade dos genes Rst e Hbs são menos aptas que as células que expressam níveis normais destes genes”, diz, pelo que, agora, o seu objectivo passa por “caracterizar a função destes genes e compreender como é que são capazes de induzir aquela mudança de fitness nas células”. Especificamente, pretende observar se o crescimento destas células tumorais pode ser bloqueado ao manipular a expressão destes genes. “Se os nossos resultados forem ao encontro do esperado, pode abrir-se uma nova janela de oportunidade para a criação de novas terapias com o intuito de combater o cancro, usando estes genes como alvo”, sublinha o investigador, que confessa que o seu interesse pela ciência foi despertado pela mãe, “professora de biologia do secundário e que, por vezes, levava algumas das experiências que fazia com os alunos para casa”.

Evitar que o corpo rejeite um transplante

Desenvolver uma potencial terapêutica celular para o tratamento da doença do enxerto contra hospedeiro crónica - uma complicação frequente e grave dos transplantes de medula óssea - é o objectivo da investigação que trouxe Carolina Paulino Pacini do Brasil para Portugal. Integrada no laboratório coordenado por João Lacerda no iMM, a bolseira salienta a relevância dos resultados do seu projecto: “Têm o potencial de melhorar a qualidade de vida destes doentes ao contribuírem para o futuro desenvolvimento de uma imunoterapia celular mais segura e eficaz para o tratamento desta complicação.” A acontecer, o progresso será imenso, tendo em conta que “a terapêutica actual é baseada em medicamentos que suprimem o sistema imunológico como um todo, deixando o paciente susceptível a infecções, além de não ser eficaz em todos os casos”. Por isso, outras terapêuticas estão a ser investigadas como alternativa à terapia de imunossupressão de primeira linha, nomeadamente, as células T reguladoras: “O meu projecto foca-se na optimização de protocolos para seleccionar e expandir células T reguladoras específicas para a supressão da doença do enxerto contra hospedeiro, mas que não afectem as restantes respostas imunes do paciente.”​

Bolsas que aceleram e apoiam

São inúmeras as possibilidades viabilizadas pelo Programa de Bolsas da Fundação “la Caixa” e os beneficiários não hesitam em apontá-las. Por exemplo, no caso de Pedro Sousa-Victor, a bolsa que lhe foi atribuída - Incoming Junior Leader – foi decisiva para a implementação do seu laboratório independente no iMM: “Os dois anos iniciais da bolsa permitiram o estabelecimento do laboratório com sucesso, a produção de resultados científicos importantes para o desenvolvimento dos nossos projectos e a atracção de outras fontes de financiamento que vão garantir a continuação da nossa investigação e o crescimento do laboratório nos próximos anos.” Referindo-se ao tipo de bolsa que lhe foi atribuída, lembra que se trata de “um programa direccionado a jovens cientistas com carreiras iniciadas fora de Portugal e Espanha, que queiram trazer as suas linhas de investigação para centros de excelência da Península Ibérica”. Além disso, realça que “o programa inclui ainda iniciativas de formação em competências relevantes para a gestão de um laboratório e o desenvolvimento de uma carreira científica de sucesso”.​

A par de Pedro Sousa-Victor, também Ana Mendanha Falcão foi seleccionada para o Incoming Junior Leader em 2019 e as vantagens que identifica nesta iniciativa são coincidentes: “Permite aos investigadores juniores desenvolveram as suas ideias, apoiando na transição para uma carreira científica independente.” “Permitiu-me voltar a Portugal, trazer e aplicar o conhecimento que adquiri e concretizar as minhas ideias, ou seja, proporcionou-me o começo de uma nova fase no meu percurso científico”, reforça.

De igual forma, Miguel Pinto reconhece que o programa “é espectacular para qualquer estudante de doutoramento”. “Não só financia o meu projecto como também me oferece diversas formações ao longo dos três anos para que me possa tornar melhor comunicador e cientista”, enumera, considerando mesmo que “este tipo de programas é essencial”, pois “sem estes apoios, diversos projectos científicos de grande benefício para a sociedade ficariam sem financiamento”.

Também Carolina Paulino Pacini considera “essencial” o apoio dado pela Fundação “la Caixa”, por lhe permitir fazer o doutoramento numa instituição como o iMM,  “local de excelência e de grande suporte aos jovens investigadores e que conta com a infraestrutura adequada e ambiente estimulante”. Seleccionada no âmbito do programa de Doctoral fellowships INPhINIT – Incoming, em 2019, saiu do seu país de origem para fazer investigação no estrangeiro e estimular a sua carreira na ciência.

Muito em breve, começarão a ser anunciados os nomes dos bolseiros de 2021 e, a seu tempo, serão divulgados os próximos concursos – todos anuais – de atribuição de bolsas. Basta ficar atento e concorrer. A ciência – e a sociedade - agradecem.

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