Aquele ano de 1993, em que a realizadora Jane Campion recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes pelo filme O Piano, com Holly Hunter e Harvey Keitel, ainda estará na memória de muitos de nós (embora a cineasta tenha dividido o prémio com outro filme extraordinário: Adeus, Minha Concubina, de Chen Kaige).  Foram necessários quase trinta anos para que uma outra mulher, Júlia Ducournau, subisse ao palco do festival francês (que pela primeira vez em 74 edições teve um presidente negro) para receber a Palma de Ouro pelo seu filme Titane

“Como se, depois de um ano em branco, sem festival, 2020, fosse necessário recomeçar em força, carregando as baterias, escancarando o desejo, ameaçando a ordem estabelecida, dizer veemente ao que se vem”, escreve no diário o nosso enviado a Cannes, Vasco Câmara, que no próximo caderno Ípsilon irá voltar a falar-nos sobre este filme. 

Mas o dia em que se soube o palmarés do festival de Cannes, que se realizou presencialmente apesar da pandemia, foi também o dia em que um dos grandes nomes da ópera do nosso tempo morreu em Londres: o encenador britânico Graham Vick foi vítima de covid-19, aos 67 anos. Passou muitas vezes por Portugal para apresentar os seus trabalhos e “marcou a história do Teatro Nacional de São Carlos”, como disse Paolo Pinamonti ao jornalista Mário Lopes, que escreveu o obituário do encenador.

Até 24 de Julho está a decorrer nos Açores o Walk&Talk, que acontece todos os anos na ilha de S. Miguel. A comemorar dez edições, este é um dos festivais de arte mais relevantes do país e o jornalista Vítor Belanciano, que tem acompanhado o Walk&Talk desde o seu início, conversou com os directores artísticos Jesse James e Sofia Carolina Botelho para o tema de capa do Ípsilon. Estão felizes, pois ao longo destes anos conseguiram derrubar muros e existe na ilha uma geração que cresceu com o festival e que tem como referência momentos que ali viveu. É também isso que nos conta o nosso correspondente nos Açores, Rui Pedro Paiva, na reportagem que fez para o Ípsilon: o Walk&Talk começou como um susto, tornou-se um sonho e hoje é uma realidade.

A jornalista Inês Nadais esteve em Avignon a acompanhar a estreia de O Cerejal, com encenação de Tiago Rodrigues (que ali foi anunciado como o director deste festival a partir de 2022). Um dia depois da estreia da peça, a actriz Isabelle Huppert, que quis submeter-se ao “método” do encenador português, sentou-se com o Ípsilon na plateia da Cour d’Honneur para dissecar a sua paixão por Tchékhov e reiterar que o que a atrai no teatro é a possibilidade de trepar aos ombros de uma personagem para se lançar numa travessia pessoal.

Oito anos depois do fascinante Cavalo, o músico brasileiro Rodrigo Amarante regressa com um outro álbum que o jornalista e crítico Gonçalo Frota considera que “sobe a fasquia das adjectivações”. Drama, o novo álbum, serviu para os dois estarem à conversa (com a ajuda do Zoom). “No diálogo com Rodrigo Amarante acontece muitas vezes que as questões suscitadas pela música e pelas canções rapidamente são galgadas pelo discurso e a conversa ganha contornos mais amplos em torno dos conceitos”, como escreve Gonçalo Frota no Ípsilon.

O jornalista Nuno Pacheco fala-nos do trabalho a solo de José Reis Fontão, vocalista e fundador de uma banda francesa com milhões de seguidores, o álbum Primeiro Disco. Também Mário Lopes se entusiasmou com outra estreia a solo, o álbum Terra Prometida de Jónatas Pires, que conhecemos como vocalista dos Pontos Negros. 

No próximo dia 5 de Agosto chega às livrarias portuguesas o importante livro Porque deixei de falar com brancos sobre raça, da jornalista Reni Eddo-Lodge, que irá ser publicado em Portugal pelas Edições 70. No caderno Ípsilon fizemos esta semana uma pré-publicação do extenso prefácio que Mamadou Ba escreveu para esta edição portuguesa

No Leituras, o site do PÚBLICO dedicado aos livros, existe uma secção onde estão reunidas todas as pré-publicações que são publicadas no jornal. Também no Leituras podem ser lidas duas entrevistas que este domingo foram publicadas no PÚBLICO. Numa delas, o jornalista Pedro Rios entrevista o físico Brian Greene a propósito do seu livro Até ao Fim dos Tempos (editado pela Desassossego). Na outra, o jornalista Victor Ferreira conversa com o antropólogo James Suzman a propósito da publicação em Portugal do seu mais recente livro Trabalho — Uma História de como Utilizamos o Nosso Tempo (Ed. Desassossego).

Já nas livrarias, numa edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos, está o livro Racismo, Hoje - Portugal em Contexto Europeu, do psicólogo social Jorge Vala que nele aborda várias questões do racismo, da história à psicologia. A jornalista Joana Gorjão Henriques conversou longamente com este investigador emérito do Instituto de Ciências Sociais para o Ípsilon. “Os países onde encontramos crenças racistas com expressão mais elevada são países de Leste e Portugal. A minha hipótese é a de que isso se deve a tratar-se de países onde a instauração do regime democrático é mais recente”, explica Jorge Vala nesta entrevista. 

E já agora, para quem se interessa por este temas, lembro que no próximo Encontro de Leituras, o clube de leitura do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de S. Paulo, acontecerá na terça-feira, dia 10 de Agosto, às 22h em Lisboa, 18h em Brasília, e o livro em discussão é Escravidão (editado em Portugal pela Porto Editora). O escritor brasileiro Laurentino Gomes será o nosso convidado na sessão Zoom (ID 912 9667 0245 e a senha de acesso 547272). Quem quiser receber informações sobre este clube de leitura pode inscrever-se através do email encontrodeleituras@publico.pt e quem não assistiu às sessões anteriores pode ouvir o podcast mensal nos locais habituais. 

Até para a semana.