Quando o comboio serve para ir à praia

Há muitas praias no país onde é possível chegar (e partir) de comboio. O PÚBLICO dá-lhe algumas dicas para chegar ao areal sem problemas de estacionamento.

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No Verão, os comboios fazem paragens extraordinárias em apeadeiros próximos das praias RUI SOARES

Comecemos pelo Minho e pela linha homónima. As praias em redor de Viana do Castelo estão muito próximas da linha do comboio. Afife, Âncora-Praia e Moledo do Minho distam muito pouco do mar e são apeadeiros muito utilizados por veraneantes. Em Âncora-Praia a CP chega a enviar revisores para o apeadeiro para vender os bilhetes em terra, dado que nos 13 minutos que demora a viagem até Viana não haveria tempo para efectuar a cobrança a bordo do comboio.

Desde 1 de Julho e até final de Agosto os comboios inter-regionais entre Porto e Valença efectuam naqueles apeadeiros paragens extraordinárias, tornando estas praias mais acessíveis a quem embarca nas estações da linha do Minho. Mas para quem vem do Porto os horários deixam muito a desejar: o potencial banhista terá de apanhar o comboio das 6h10 em Campanhã, ou então só tem outro que o leve directamente à praia às 13h10. Há mais opções, mas contemplam um incómodo transbordo em Nine e a viagem demora mais de duas horas.

Mais acima – e num registo de praia fluvial mais do que marítima – Caminha e Vila Nova de Cerveira também são facilmente acessíveis por caminho-de-ferro.

A linha do Douro só por si já merece uma viagem em jeito de passeio. O comboio circula quase sempre ao lado do rio e serve vários pontos com desportos náuticos e praias. Em Mosteirô, a poucos metros da estação, há um centro com desportos náuticos. Logo a seguir, em Caldas de Aregos há termas, praia fluvial e desportos náuticos.

Na Rede há outra praia à beira rio e Régua, Pinhão e Tua merecem também visitas pela proximidade ao Douro. Em Ferradosa é em torno de uma estação ferroviária antiga, agora recuperada, que se junta um complexo que oferece desportos náuticos, cais fluvial e gastronomia. Em Vargelas, a quinta homónima tem um cais fluvial e o fim da linha – a estação de Pocinho – tem também uma praia fluvial.

A CP não tem nenhuma oferta especial para esta linha (a não ser o comboio histórico do Douro entre Régua e Tua aos fins-de-semana), mas é possível, com os horários existentes, partir do Porto às 7h15 ou 9h15, passar o dia em qualquer um destes pontos e regressar ao fim da tarde. O último comboio sai do Pocinho às 19h07 e da Régua às 20h48.

Regressemos ao litoral e às praias de mar. Entre o Porto e Espinho a linha do Norte namora o Atlântico que se avista por vezes entre o casario. Francelos, Miramar, Aguda, Granja, Espinho e Silvalde são opções possíveis para ir da Invicta à praia, com a vantagem de ficar na zona suburbana da CP Porto e os bilhetes serem mais baratos. A pensar na oferta de Verão, a empresa criou o “Bilhete de Praia 7 Dias” que torna ainda mais económica a viagem de ida e volta para estes destinos.

Este título de transporte não contempla, porém, uma das cidades costeiras que tem a estação de caminho-de-ferro em pleno centro e a poucos metros da praia – Espinho.

Mais a sul a Figueira da Foz é uma praia de referência, mas o areal não fica muito perto da estação. Ainda assim, e tendo em conta o custo do combustível e as dificuldades de estacionamento, o comboio pode ser alternativa para quem vem de Coimbra.

Voltemos ao interior, agora à linha da Beira Baixa, onde a proximidade da via férrea com o Tejo permite também encontrar desportos náuticos e praias fluviais em Barragem de Belver, Barca da Amieira, Fratel e Ródão. Sem esquecer a estação de Abrantes que, na verdade, se situa em Rossio ao Sul do Tejo, perto das piscinas do complexo fluvial.

A linha do Oeste possui uma da estações onde é possível sair do comboio e logo a seguir molhar os pés no mar uma centena de metros à frente. S. Martinho do Porto é, a este nível, uma estância balnear bafejada pela sorte. Mas só na aparência.

A oferta da CP ignora o potencial que esta praia lhe poderia proporcionar em termos de passageiros – está apenas a oito minutos de comboio das Caldas da Rainha, mas a frequência é de apenas seis comboios em cada sentido. E os incautos (quase sempre turistas estrangeiros) que arriscam uma viagem desde Lisboa para esta praia, sofrem 2 horas e 37 minutos de viagem a bordo de velhas automotoras para chegar ao destino.

No lado sul da baía de S. Martinho, o apeadeiro de Salir do Porto serve a simpática localidade e praia homónima, distando mil metros do mar.

Mas é nos arredores da capital, na linha de Cascais, que se encontram mais praias por quilómetro de ferrovia. Não terá sido esse o objectivo da sua construção nos finais do séc. XIX (ficou concluída entre o Cais do Sodré e Cascais em 1895), numa altura em que o turismo de sol e mar estava longe da massificação. Nem foi também para ir à praia – mas sim para ir ao casino (do Estoril) – que esta foi a primeira linha férrea portuguesa a ser electrificada (em 1926).

Mas hoje é uma excelente alternativa para ir a banhos nos dias de Julho e Agosto sem se ter problemas de trânsito nem de estacionamento e com a vantagem de algumas das suas estações distarem escassas dezenas de metros do areal.

Atenta a esta oferta específica a CP, criou o Bilhete de Praia que dá acesso a viagens ilimitadas durante sete dias consecutivos em toda a linha de Cascais.

O comboio só volta a ver o mar no Algarve. Mas pouco. Quando, também nos finais do séc. XIX, os nossos avós construíram a linha algarvia entre Vila Real de Santo António e Lagos, estavam ainda longe de pensar na importância que o turismo teria para a região e no papel decisivo das suas praias para a sua economia.

O comboio rompeu a serra algarvia e chegou a Tunes, onde a linha bifurca para Lagos e Vila Real num traçado que faz desesperar os turistas que hoje gostariam de a ter mais perto do mar. A Barlavento, em rigor, só há uma estação ao pé do mar. Tem o nome emblemático de Meia Praia e fica mesmo no meio do areal. Logo a seguir, a estação de Lagos, outrora porta de entrada da cidade para quem vinha de Lisboa em comboios que eram directos desde o Barreiro, está hoje escondida, envergonhada, por detrás de uma marina. Ainda assim, em linha recta, fica a 500 metros da praia.

Depois só mesmo a Sotavento o comboio volta a beijar o mar. Fá-lo no apeadeiro de Fuzeta A, que fica também em cima da praia. E no apeadeiro da praia da Luz, que dista 500 metros dos carris. A praia da Conceição está a um quilómetro do apeadeiro de Cabanas, mas a Manta Rota já fica a 2500 metros da estação de Cacela. Monte Gordo fica também a 2000 metros da praia.

A CP não tem um horário de Verão específico para a linha do Algarve e a sua oferta é desencorajadora para quem quer viajar entre Sotavento e Barlavento porque a empresa, em vez de privilegiar as ligações directas, cria uma “fronteira” em Faro, obrigando a transbordos inúteis que penalizam o tempo de percurso.

Pior, porém, é a oferta para Algarve como um todo durante a época alta. São cinco os comboios de longo curso entre Lisboa e Faro durante todo o ano, apenas com um reforço em Agosto à sexta e ao domingo. O último comboio do Algarve para Lisboa sai da estação de Faro às 17h35. Um horário que inviabiliza uma tarde de praia.

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