Fundação Gulbenkian extingue o seu emblemático Serviço de Belas-Artes

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O Serviço de Belas-Artes funcionava há 50 anos Daniel Rocha

Cinco anos depois da polémica extinção do Ballet Gulbenkian - substituído por um programa de apoio à dança que os agentes do meio receberam com pouco entusiasmo -, Teresa Gouveia, administradora responsável tanto pelo Serviço de Música (de que fazia parte a companhia de dança) como pelo Serviço de Belas-Artes, garante que a nova medida "não levará a uma quebra" na relação da fundação com o meio artístico nacional e que se manterão "as mesmas linhas [de actuação] e recursos", apenas com outras plataformas distributivas.

Segundo o último relatório anual da fundação, em 2009 o Serviço de Belas-Artes investiu 1,9 milhões de euros em apoios à criação, a maior parte dos quais em subsídios e bolsas (1,3 milhões) ou prémios (55 mil euros). Uma dotação que representa mais do dobro, por exemplo, dos apenas 800 mil euros que o Estado distribuiu no último ano em apoios pontuais à criação através da Direcção-Geral das Artes.

Num momento de retracção no apoio do Estado às artes e de grande instabilidade para os profissionais do sector, é esta quantia que, segundo Teresa Gouveia, passará na íntegra para um novo Programa Gulbenkian de Artes Performativas (para teatro, dança e cinema e dirigido por António Caldeira Pires), o Centro de Arte Moderna (CAM, que fica com as artes visuais) e o Serviço de Educação e Bolsas (arqueologia). Mas, depois da estabilidade de funcionamento do Serviço de Belas-Artes ao longo dos últimos 50 anos, a fundação garante agora apenas um período de funcionamento de três anos para o novo programa, até uma reavaliação, e Isabel Carlos, directora do CAM, assegura só para o próximo ano o funcionamento das bolsas para residências internacionais (Nova Iorque, Berlim, Londres, Rio de Janeiro). "Estamos em tempos de contenção - não é novidade - e também a Gulbenkian está no mundo, e não num mundo à parte", disse Isabel Carlos ao PÚBLICO. Teresa Gouveia sublinha que "a orientação geral da fundação é de, progressivamente, organizar as suas actividades por programa, mais do que por serviços". Os programas, diz, "são mais flexíveis na resposta à realidade, que é dinâmica" e prestam-se a uma avaliação.

Mas esta reestruturação tem também permitido à fundação reduzir drasticamente o seu quadro de pessoal para menos de metade desde 1987. Em 2009, o Serviço de Belas-Artes teve também cerca de 600 mil euros em encargos com pessoal, despesas de funcionamento e iniciativas próprias em que a fundação poderá cortar. Nem as transformações da fundação foram entendidas no imediato, reconhece Jorge Molder, ex-director do CAM. Sem elas, a presença da Gulbenkian "seria hoje muito possivelmente residual", diz. Mas há agentes que encaram os novos modelos com mais desconfiança.´(ver reacções em link)

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