Museu do Fado – 20 anos a celebrar a nossa alma

  • São 20 anos que o Museu do Fado leva já a prestar homenagem a um dos grandes patrimónios do nosso país - e do mundo – dando-lhe a visibilidade que merece. E os resultados estão à vista.

    Se o fado tem hoje a projecção que lhe conhecemos – cá dentro e lá fora - não é exagerado dizermos que se deve muito ao trabalho que o Museu do Fado tem vindo a desenvolver desde que, no dia 25 de Setembro de 1998, abriu portas. Há precisamente 20 anos que esta tem sido a casa que celebra a música da alma de todos os portugueses, homenageando-a e elevando-a tão alto quanto seria possível. A maior altura atingida – inimaginável para alguns – deu-se em 2011, aquando da consagração do fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, tendo cabido ao Museu do Fado, por parte da Câmara Municipal de Lisboa, a apresentação da candidatura. E porque esta data é tão importante para todos nós, o Museu do Fado está a preparar uma festa para a celebrar, já em Novembro – mês em que se assinalam os 7 anos do anúncio feito pela UNESCO – bem como para apagar as 20 velas do seu aniversário.

    Entretanto, e para não deixar passar a data em vão, o Museu do Fado assinalou o dia 25 de Setembro com um presente muito especial – uma visita cantada ao museu com Helder Moutinho, a que se somaram ainda testemunhos imperdíveis de nomes como Carlos do Carmo, Mariza, Maria do Rosário Pedreira, Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro e muitos outros.

    Popularidade mundial

    De género musical apreciado por pequenas massas de público até ao fenómeno de popularidade que constitui hoje, o fado é, cada vez mais, uma música de todos. E a tendência é para que o reconhecimento aumente, integrando já os principais festivais e roteiros internacionais de world music, atraindo ao nosso país turistas curiosos e ainda acolhendo – com a solenidade que o caracteriza - melómanos rendidos a uma sonoridade única. E a verdade é que nada disto, porventura, seria possível sem o contributo diário, contínuo, persistente e resiliente do Museu do Fado.

    Programação ininterrupta

    Com uma intensa programação dedicada à música que nasceu nas ruas de Lisboa, no século XIX, muitas foram as exposições, os eventos, os festivais, os concertos e certames organizados pelo Museu do Fado ao longo destes 20 anos. Destaque-se, por exemplo, “O Fado por Stuart Carvalhais”, exposição que apresentou um importante acervo de partituras de fado impressas com ilustrações do artista Stuart de Carvalhais, ou “Primavera, David Mourão-Ferreira”, mostra que, em 2007, deu conta do enorme contributo deste poeta para o repertório da canção de Lisboa. Mas outras exposições foram igualmente marcantes, nomeadamente a que celebrou o papel decisivo de Alain Oulman no enlace entre a poesia clássica e erudita e o universo fadista; a que celebrou os 50 anos da carreira de Carlos do Carmo ou a que acompanhou o percurso artístico de Camané até aos dias de hoje. Na memória ficaram ainda as exposições que aprofundaram a ligação entre o fado e a moda, o teatro ou o cinema.

    São ainda de realçar os Festivais de Fado organizados anualmente pelo mundo, e que já chegaram a um total de dez cidades espalhadas pela América Latina, Marrocos e Espanha. Cá dentro, temos o ciclo “Há Fado no Cais”, realizado desde 2012 em parceria com o Centro Cultural de Belém, e que mensalmente tem como protagonistas grandes fadistas de todas as gerações.

    Partilha e ensino

    Mas perpetuar o fado, disseminá-lo, imortalizá-lo e renová-lo é tarefa ampla e que o Museu do Fado cumpre em diversas vertentes e dimensões. Entre as mais relevantes destaca-se o Arquivo Sonoro Digital, com uma considerável colecção de registos sonoros dos fados gravados desde o início do século XX. A importância é de tal ordem que este arquivo é considerado o maior repositório histórico do som existente em Portugal. Aqui encontramos milhares de fonogramas disponíveis, facilmente pesquisáveis por intérprete ou repertório, sem necessitar de qualquer autorização ou registo para lhes aceder.

    Como se isto não fosse suficiente, o Museu do Fado - que foi alvo de obras de ampliação e renovação em 2008 - integra ainda um projecto de ensino que tem na Escola do Museu o seu maior expoente. Aqui são leccionadas aulas de guitarra portuguesa e viola, havendo ainda um Gabinete de Ensaios para Intérpretes, com acompanhamento de um professor e dois instrumentistas, que contribuem para o aperfeiçoamento de quem deseja afirmar-se como fadista. Escusado será dizer que, entre os professores, figuram nomes reconhecidos no meio, todos mestres na sua arte.

    Além da escola, o museu dispõe ainda de Serviço Educativo e de um Centro de Documentação vastíssimo, igualmente disponível online, onde é possível pesquisar publicações, cartazes, discografia, partituras, repertórios e até encontrar a carteira profissional de Alfredo Marceneiro, entre muitos outros documentos.

    Foi até aqui que o Museu do Fado nos trouxe, num percurso de 20 anos. Um caminho que nos permitiu a todos – e ao mundo – melhor conhecer e sentir o fado, colocando-nos mais próximos dessa “estranha forma de vida”, como nos ensinou Amália Rodrigues.