As melhores exposições em 2023

As melhores exposições de 2023. Escolhas de José Marmeleira, Luísa Soares de Oliveira e Nuno Crespo.


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Archipelago de Hervé di Rosa | MAAT

Archipelago de Hervé di Rosa | MAAT

Hervé di Rosa trouxe à grande sala oval do MAAT uma amostra do seu Museu Internacional das Artes Modestas, repleto de obras que, utopicamente, mas de modo muito eficaz, pretendiam apresentar a arte feita à margem das instituições de reconhecimento oficiais. Tratou-se, como tantas vezes aconteceu no século passado, de refundar a arte e de alargar a sua definição a territórios proibidos. L.S.O.


9

Da calma fez-se o vento de Sandra Rocha | MAAT

Da calma fez-se o vento de Sandra Rocha | MAAT

Com curadoria de João Pinharanda, representou um reaparecimento inolvidável de um universo e de uma sensibilidade que nos deixaram uma visão poética e silenciosa sobre o que pode ser uma relação com o mundo natural. Uma exposição que nos deixou perdidos num estado de plenitude. J.M.


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Pantalons pour attirer le vent de Francisca Carvalho | Pavilhão Branco, Galerias Municipais de Lisboa

Pantalons pour attirer le vent de Francisca Carvalho | Pavilhão Branco, Galerias Municipais de Lisboa

Depois de Às nonas, Midas nos dedos medram e mondam, na Galeria Municipal de Almada, em 2021, Francisca Carvalho voltou a surpreender-nos com um conjunto inédito de pintura e desenhos. Não apenas pudemos testemunhar a afirmação de uma artista, como as suas obras nos elevaram a uma sensualidade musical, cromática e formal. J.M.


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Atravessar uma ponte em chamas de Berlinde De Bruyckere | CCB/MNAA

Atravessar uma ponte em chamas de Berlinde De Bruyckere | CCB/MNAA

O novo museu de arte contemporânea espantou-nos com a obra da escultora belga, que, mantendo uma constante ligação à história da arte, nos mostrou uma escultura ancorada nas grandes questões transversais ao próprio impulso de criar: sexo, morte, prazer e, em particular neste caso, o híbrido e a transitoriedade, através da imagem do anjo, núcleo central desta exposição. L.S.O.


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Alka-Seltzer de Jorge Queiroz | Rialto6

Alka-Seltzer de Jorge Queiroz | Rialto6

Pássaros a cantar, líquidos efervescentes, um polvo gigante cujos tentáculos são ecrãs inesperados e onde surgem sugestões de acontecimentos pictóricos, desenhos onde figuras, paisagens, objectos, cores e formas parecem estar em permanente movimento, fazendo assim surgir novos seres, acontecimentos sensíveis inesperados que dão origem a novas possibilidades de imaginação (lei da metamorfose). N.C.


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O Castelo Surrealista de Mário Cesariny | MAAT

O Castelo Surrealista de Mário Cesariny | MAAT

Integrada nas comemorações do centenário do escritor e artista plástico, esta foi uma exposição que, através de uma montagem originalíssima, procurou não apenas recriar o universo plástico, imaginário e inspirador de Cesariny de Vasconcelos, mas também abrir a porta à geração seguinte que se revê e toma como exemplo a sua vida de total liberdade. L.S.O.


4 ex aequo

Obra Aberta de Luigi Ghirri | CCB

Obra Aberta de Luigi Ghirri | CCB

Outro momento do ano. Com curadoria de Pedro Alfacinha, abriu um portal para a obra do fotógrafo italiano Luigi Ghirri. Pudemos ver 79 imagens, produzidas na década de 1980, que contrariam o adágio de Eclesiastes de que nada de novo havia sob o sol. J.M.


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Colecção Primavera-Verão de Ana Santos | Culturgest Lisboa

Colecção Primavera-Verão de Ana Santos | Culturgest Lisboa

Uma selecção de trabalhos dos últimos sete anos que dão a ver o modo intuitivo como esta artista constrói as suas obras: parte sempre de uma relação de descoberta de coisas onde se deixa guiar pelo acaso e pela contigência. Descobertas depois transformadas em objectos que revelam novas regiões espaciais, mais intensas, densas e poéticas. N.C.


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Gris, Vide, Cris de Rui Chafes e Giacometti | Gulbenkian

Gris, Vide, Cris de Rui Chafes e Giacometti | Gulbenkian

A afinidade entre estes dois artistas ocorre num nível de profundidade, um nível onde o nosso vocabulário para falar da escultura já não serve e colapsa o sentido de conceitos como figuras, matéria, forma, tornando urgente a invenção de novas palavras para dar conta do modo como o mundo aparece nestas esculturas. Desta afinidade resultou uma exposição excepcional que nos dá a ver Giacometti não através da mediação de Chafes, mas de um modo livre: esculturas livres de plintos, de vitrines, de encenações museográficas; mas também porque nos deixa ver como, através da abstracção e da ausência de impulso figurativo, as esculturas de Chafes não são corpos, mas materializam a possibilidade de um corpo. N.C.


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In my own language I am independente de Carla Filipe | Serralves

In my own language I am independente de Carla Filipe | Serralves

Reunindo trabalhos produzidos ao longo de cerca de duas décadas, foi uma exposição antológica magnífica. Ampla, generosa, deu um sentido político, mundano e – porque não? – humano e humanizante à heterogeneidade da arte contemporânea. Sim, tal aconteceu na poderosa e distante instituição, mas nem por isso se deixou prender nas suas invisíveis malhas.

Reconstituamos, em breves palavras, a narrativa de In My Own Language I Am Independente. As obras começavam a mostrar-se no hall do museu, antes de formarem, nas outras salas, um retrato da obra e da artista. Sem vestígios de solipsismos ou narcisismo, diga-se. Animadas por uma diversidade de signos, de histórias e imagens, lograram colocar o espectador na condição de artista e cidadão. Como? Deixando-o a pensar, com frequência comovido, sobre o território, a memória, a linguagem, a identidade; e sobre os efeitos das transformações sociais, económicas, políticas e culturais no (que é) ser artista.

Em certo sentido, In My Own Language I Am Independente, com curadoria de Marta Moreira de Almeida, soube deixar-nos um documento da arte feita nas últimas décadas do país, pondo em tensão o universal e o particular, o local e o global, o individual e o colectivo. Arte movida por um desejo vital, sempre rejuvenescido, de mostrar e recordar – o que foi, o que aconteceu –, confiando, senão acreditando, na possibilidade de, na companhia de cada recém-chegado, recordar e habitar um mundo (que foi) comum. J.M.