Bangladesh: crianças “cobertas de pó, lavadas em suor”

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Existem, no Bangladesh, centenas de fábricas de produção de óxido de ferro semelhantes à que Probal Rashid fotografou. Dentro e em redor destas oficinas, "o ambiente encontra-se carregado de pó de óxido de ferro, de pó de carbono e de outros materiais tóxicos", explica o fotógrafo. Os trabalhadores, que têm todos entre 15 e 19 anos, "passam a maior parte do dia imersos neste ambiente poluído, inalando gases e partículas nocivas". Adoecem com regularidade.

 

As crianças e jovens trabalham 12 a 14 horas por dia, seis dias por semana, e ganham entre mil e três mil taka por mês, o que corresponde a valores entre os 10 e os 30 euros mensais. O pagamento varia conforme a idade. "Os mais novos recebem menos", explica o fotógrafo. Não têm contratos de trabalho formais e "trabalham em condições extremas, sem acesso a qualquer equipamento de segurança": sem luvas, viseiras, vestuário adequado, máscaras ou calçado apropriado. "São forçados a viver no local onde trabalham, uma vez que o alojamento é providenciado pelo dono da fábrica." A maioria dos operários provém do norte do país, área que o fotógrafo descreve como "extremamente pobre" e "onde o desemprego é dramático". Como acabam estas crianças e jovens em fábricas como esta? Murad, um dos trabalhadores, partilhou com Probal Rashid a sua história. Estava no oitavo ano de escolaridade quando o seu pai faleceu e se viu forçado a sustentar as suas irmãs. "Tive de parar de estudar. Hoje, o meu dia começa no meio do pó e termina comigo lavado em suor."

 

A sina de Murat não é um cenário incomum no Bangladesh. "Não há legislação que proteja estes trabalhadores, especificamente, porque a própria fábrica funciona ilegalmente", explicou Probal Rashid ao P3, em entrevista. "É suposto que todas as fábricas sejam licenciadas pelo departamento do Ambiente", o que nem sempre acontece. "Existem algumas organizações não-governamentais no terreno que trabalham sobretudo questões relacionadas com a exploração do trabalho infantil e questões ambientais, mas a sua acção é insuficiente face ao número de casos existentes no país." Esta fábrica desmobilizou quando este projecto foi publicado pela primeira vez. "Foi também nessa altura que alertei as autoridades."

 

O trabalho de Probal Rashid, anteriormente publicado no P3, valeu-lhe, recentemente, uma posição no top 50 da edição de 2018 do concurso Sony World Photography Awards.