A África Ocidental está a ser "devorada" pelo mar

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As consequências do fenómeno do aquecimento global passam pela subida do nível das águas. O descongelamento dos gelos polares faz com que, todos os anos, milhares de quilómetros de terra sejam engolidos pelo oceano, ao longo da costa de todos os continentes; a costa marítima que se estende entre a Mauritânia e aos Camarões, especificamente, está a ser engolida a uma velocidade de 36 metros por ano, causando danos e perdas materiais que afectam a vida de milhões de pessoas. A fotógrafa franco-italiana Matilde Gattoni esteve nas costas do Gana, do Togo e Benin a documentar os efeitos deste fenómeno e "Ocean Rage" é a série de fotografias que resultou dessa incursão e se encontra actualmente exposta no festival internacional de fotografia Fujifilm FIF Viseu. "Esta é a primeira parte de um projecto que se insere num de maior espectro, que prevê a passagem por 13 países, no total, entre eles o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Bissau "onde, em 2100, se estima que cerca de 70% da população costeira tenha sido relocada em consequência de inundações recorrentes, salinização da terra e pela disseminação de doenças como a cólera e a malária". Gattoni afirma que os governos locais dos três países que visitou se preocupam sobretudo com os efeitos que se fazem sentir sobre as áreas de grande densidade industrial e populacional, mas que tendem a excluir intervenção sobre aldeias costeiras, onde estão em risco culturas e tradições de populações aí assentes há milhares de anos. "A subida das temperaturas faz cessar a actividade pesqueira, a erosão e a salinização reduzem as áreas aráveis e contaminam as reservas de água doce", explica a fotógrafa. "Privados de exercer a sua actividade profissional, as comunidades tendem a migrar. O desemprego galopante faz aumentar o consumo de drogas e álcool e as únicas actividades rentáveis passam a ser controladas por grupos criminosos que exercem contrabando." No lugar onde antes existiam aldeias piscatórias, ao longo das costas do Gana, Togo e Benin, existe agora uma sequência interminável de "edifícios desmoronados e aldeias-fantasma". "As alterações climáticas arrasam casas, igrejas, plantações, assim como a vida, a herança cultural e o tecido social de comunidades inteiras, com perigosas consequências para o futuro de um continente inteiro." É a preocupação com o futuro da Humanidade que leva Gattoni a debruçar-se sobre este tema. "Quero mostrar que os problemas que assolam África Ocidental são apenas um prenúncio daquilo que a Humanidade irá enfrentar se não for encontrada uma solução viável entre o progresso, bem-estar social e conservação ambiental."

 

Ocean Rage, de Matilde Gattoni, estará em exposição no Fujifilm Festival de Fotografia de Viseu entre os dias 5 de Maio e 4 de Junho.