“Her”, uma homenagem a todas as mulheres do mundo

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O fotógrafo Ian McNaught Davis, o autor da série fotográfica "Her", foi redactor em duas revistas masculinas, na África do Sul; foi, nesse contexto, "forçado a confrontar-se com as noções de masculinidade e feminilidade veiculadas por esse tipo de publicação", contou ao P3. "Os estereótipos de género são-nos ditados constantemente e, na maior parte das vezes, servem apenas para facilitar a venda de sapatos, iogurtes, eyeliners, detergentes, o que seja. A grande maioria dos ideais que os media veiculam são grosseiramente simplificados e só aumentam a distância entre as expectativas e a realidade —estabelecem comparação entre o que se é, de facto, e o que se deveria ser, idealmente." Foi a compreensão desta realidade que levou Ian a fotografar "Her", um projecto que desenvolve em homenagem a todas as mulheres do mundo. "Enquanto fotógrafo, interesso-me pelos mecanismos e dinâmicas que influenciam a condição feminina — o papel dos media, da religião e dos ideais masculinos; interesso-me pelas situações em que verifico que as mulheres são marginalizadas, sexualizadas ou então por aquelas em que escolhem desafiar essa realidade", explica. Deu início ao projecto em 2012 e desde então já fotografou mulheres na Etiópia, Vietname, Malawi, Cazaquistão, Cambodja, Tanzânia, Armémia, Índia, Quénia, África do Sul, Geórgia, Turquia, Tailândia, Nagorno-Karabakh (Azerbaijão), Namíbia, Laos, Zimbabwe e Suazilândia. "De um ponto de vista mais pessoal, percebi que quanto mais tempo trabalho num projecto, mais ele se torna um auto-retrato. Noto que carrego comigo uma sensação de alienação, ou um sentimento de não-pertença, que reconheço em muitas das cenas que se desenrolam perante mim, enquanto observo mulheres no seu dia-a-dia. São esses momentos [de alienação] que quero congelar nas minhas fotografias." Ian nasceu e foi criado na África do Sul, o país do mundo onde existe registo da maior taxa de violações do mundo. "Neste país existem grandes contrastes e muita diversidade, o que influenciou directamente o meu olhar fotográfico. Viajar transformou-se numa necessidade. Viajar constantemente relembra-me de que sou um estranho e enquanto o sou o mundano torna-se fascinante. Subitamente tenho quatro anos de idade, de novo - não sei ler as indicações, não entendo uma só palavra e ando perdido grande parte do tempo. Tudo isso alimenta a minha curiosidade e me torna hipersensível a potenciais fotografias. Mas existe nisto tudo um refrescante paradoxo. Quanto mais viajo, mais me revejo nas minhas fotografias, mais me é recordado que todos somos menos estrangeiros do que acreditamos ser na verdade."