Um dia, os animais selvagens só existirão na memória de elefante

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"Os geógrafos nos mapas de África/com imagens selvagens preenchem as suas falhas/em paragens inabitadas/colocam elefantes/por carência de cidades". Jonathan Swift, o autor das "Viagens de Guliver", publicado em 1720, satirizava desta forma os cartógrafos do século XIX que tentavam traçar um desconhecido e gigante continente. Se Swift tivesse lido "New and Accurate Description of the Coast of Guinea", escrito por um contemporâneo seu, William Bosman, em 1705, saberia que as falhas eram verdadeiras. Como observou John Reed em "África — biografia de um continente", as paragens inabitadas (e mesmo inabitáveis) do continente negro, como lhe chamavam os exploradores da época, eram precisamente aquelas onde o mais provável era encontrar elefantes. Ao longo da história, a distribuição de elefantes sempre foi um indicador do relacionamento tenso entre as populações africanas e o seu ambiente natural. Com os resultados que se conhecem, quer para os paquidermes quer para os demais animais selvagens, só nos tempos modernos é que foram derrubados os limites que a população de elefantes colocava à expansão da agricultura e dos aglomerados urbanos. Como diz Reed, "só na década de 50 é que o princípio da exclusão competitiva conseguiu finalmente atingir o equilíbrio a favor das pessoas e contra os elefantes". Se as pessoas habitavam ilhas cercadas de elefantes, hoje são os elefantes que vivem em ilhas cercadas de pessoas. Nick Brandt, um fotógrafo britânico, tem registado esse brutal desaparecimento da vida selvagem na África Oriental. Três anos de publicada a sua triologia de trabalhos sobre a região, o fotógrafio regresso para comprovar as profundas mundaças em curso. Em cada um dos locais por onde antes andara, colocou uma das suas fotografias ampliadas. E fotografou esse contraste, essa inconciável relação entre o desenvolvimento humano e a vida selvagem. No fundo, a primeira nem é desenvolvimento, nem a segunda é selvagem. Um dia destes, vamos precisar de uma memória de elefante para nos lembrarmos que nestas regiões de África já vivarem elefantes, xebras, chitas, girafas e tudo o resto. Nick Brandt é um dos cofundadores da Big Life Foundation, destinada à protecção da vida animal naquela região do globo.