Glockenwise: a preto e branco, mas não tanto

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Despiram os coletes de ganga e vestiram-se de breu. Ocasião: "Heat", álbum acabadinho de lançar pela Lovers & Lollypops, aquele em que os barcelenses Glockenwise se mostram mais "introspectivos" que nunca, quiçá mais "analíticos", mas com a mesma intrépida vontade de tratar o garage-rock por tu. Na capa do novo trabalho, Nuno Rodrigues, Rafael Ferreira, Rui Fiusa e Cristiano Veloso surgem engolidos pelas sombras numa fotografia de Tito Mouraz; assim, a preto e branco, os fotografou Renato Cruz Santos, a 30 de Outubro, debaixo do palco do Teatro Municipal do Porto - Rivoli. O pandã faz todo sentido, até porque esta escuridão está bem e recomenda-se. Como escreveu Mário Lopes no Ípsilon, "o negro assenta-lhes tão bem". Não tem a ver com um "estado de felicidade", ou de falta dela, explica ao P3 o vocalista e guitarrista Nuno Rodrigues, hoje com 25 anos. É, antes, "um estado de espírito interno", um crescimento. Muito mudou desde "Building Waves", de 2011; o tempo, por exemplo, passou. "Sinto que encaro com mais pragmatismo a vida. Já tive oportunidade de coleccionar desilusões emocionais que com 20 anos ainda não tinha vivido." Essa "geografia interna" está em todo o disco e corporiza-se na ausência e presença de luz. Os Glockenwise estão mais crescidos, mas não sisudos — e quem esteve no concerto do Porto sabe-o. "A entrega é sempre a mesma (…) Encaramos as coisas de uma forma mais séria, mas não demasiado. Tem de ser sempre catártico. Os Glockenwise serão sempre uma escapadela, apesar de agora mais séria, mais planeada." No Rivoli, apresentaram-se no ciclo Understage, ou seja, debaixo do palco. Algo altamente simbólico, considera o músico. "Nunca tínhamos tocado num espaço tão institucional no Porto, apesar de ainda ser debaixo do palco. É literalmente 'underground'. Os concertos [do ciclo] são no monta-cargas do palco principal… Há algo de metafórico, como que uma ascensão até aos palcos principais." Há que esperar para ver. Dia 28 de Novembro, pelas 22h30, sobem ao palco do Ateneu Comercial de Lisboa no Vodafone Mexefest. Será, diz Nuno, uma oportunidade de se redimirem de um "mau concerto" na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, a 31 de Outubro. "As pessoas não acharam [que foi um mau concerto], mas nós sim. Não executamos tão bem como esperávamos e não ficamos contentes." Há uma moral da história, como sempre. "A lição a retirar daqui é que não podes planear tudo, há sempre algo de inesperado." Mais sérios, mais profissionais, mas não em exagero. Ainda bem. AR