O que separa arte e pornografia quando se fala de fotos de crianças?

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Quem segue o Instagram de pais ou mães facilmente se cruza com contas onde os miúdos são mais ou menos expostos a olhares mais ou menos alheios — dependendo se a conta é pública ou privada. Wyatt Neumann é um pai como outro qualquer — com um olhar e sentido criativo mais apurados talvez, já que é director de fotografia e escritor — que partilhou as imagens que fez da filha de dois anos no Instagram. Mas o desfecho daquilo que queria ser apenas um momento simples foi diferente: o fotógrafo norte-americano foi alvo de um grupo ultraconservador que classificou as imagens como "pornográficas" e acusou o pai da criança de ser "doente". O ataque foi de tal forma vigoroso que tanto o Instagram como o Facebook chegaram a bloquear a conta de Wyatt Neumann. As fotos do norte-americano tornaram-se mediáticas e compuseram recentemente a exposição "I Feel Sorry for your Children — The Sexualization of Innocence in America", em Soho, Nova Iorque, numa mostra que relata a viagem que Wyatt fez com Stella durante 12 dias entre o Zion National Park e Nova Iorque, e onde as fotografias aparecem com uma legenda que contém comentários feitos no Instagram a essas mesmas imagens. O trabalho de Neumann desperta, mais uma vez, a interminável e inconclusiva discussão: até que ponto devemos partilhar fotografias de crianças nas redes sociais? O norte-americano quer mostrar que o problema está no olhar obsceno que muitos têm sobre o tema — e não no tema em si. "O que é preocupante é a maldição abjecta do corpo humano, a intensa e evidente sexualização das formas do corpo humano, especialmente dos corpos nus de crianças que nem sequer sentem ainda o peso da imagem corporal institucionalizada e do constrangimento que aparece na adolescência. Os meus filhos são livres, vivem sem vergonha", disse ao Huffington Post. No Instagram, o fotógrafo continua a denunciar cada bloqueio de imagem que a rede social faz e revelou agora que os convites para levar a sua exposição a outras galerias estão a aumentar: Los Angeles, Chicago, Texas e algumas cidades brasileiras estão na lista.