Pele, pelo e paisagem. Este poderia ser o manual de instruções — não precisamente por esta ordem — da performance Sphaera hirsuta (bola de pelo) pela personagem Ursus arctos barbeiticos, uma figura com forma de urso que deambulou e dialogou com a paisagem mais urbana durante o Festival Walk&Talk, na ilha de São Miguel, Açores. "É um fato que imita a pele de um urso, com origem na cordilheira cantábrica e que sofreu uma mutação genética que lhe atribui capacidades adaptativas ao meio urbano", explicou ao P3 Ricardo Barbeito, artista que se inspira em tribos sociais (como a comunidade "gay bear") e que vai beber à metaforização da palavra urso ("como 'fazer figura de urso'"). Na tentativa de "desconcertar o ambiente urbano", o urso vai provocando a muda do pelo, deixando em 18 pontos concretos de Ponta Delgada 540 bolas de pelo (na verdade é cabelo recolhido em cabeleireiros da cidade, "ADN açoriano", como o próprio gosta de dizer). "É uma espécie de esfoliação instantânea", sugere Ricardo, formado em Artes Plásticas na Madeira, onde completou o mestrado em Arte e Património. O urso, que já deambulou pela Madeira e por Lisboa, construiu uma casa na ilha de São Miguel, servindo-se de portas, janelas e madeira que encontra pelo caminho, tendo-se inspirado nas "casinhas de prazer" madeirenses, "estruturas colocadas nas esquinas das quintas no Funchal que ficam sobranceiras às ruas e onde as pessoas podem passar as tardes a bordar ou simplesmente a ver a vida dos outros". Luís Octávio Costa