31.º aniversário

O mundo de amanhã

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Oradores

  • Marcelo Rebelo de Sousa

    Marcelo. A forma como os portugueses designam o seu chefe de Estado é um indício de familiaridade e cumplicidade. A sua reeleição recente com mais de 60% dos votos no contexto particularmente difícil da pandemia comprova essa popularidade do Presidente da República. Uma popularidade alicerçada numa longa carreira política, em anos de presença nas televisões na qualidade de comentador político ou nas suas frequentes aparições (antes da pandemia, principalmente) entre ajuntamentos de pessoas nas ruas do país.

    Marcelo Rebelo de Sousa nasceu em 1948, em Lisboa. Católico, integrou diversos movimentos da Igreja. O seu nome aparece associado à criação dos jornais Expresso e Semanário. A sua presença na fundação do PPD envolve-o definitivamente na actividade política. Nessa condição foi deputado, secretário de Estado, ministro, conselheiro de Estado, autarca e líder do seu partido. Em paralelo, prosseguiu com a sua carreira académica (é conhecido também como o “professor”), depois de se ter licenciado em Direito com média de 19 valores. É assim que, em 1994, conclui o doutoramento que lhe garante a condição de professor catedrático de nomeação definitiva em 1992.

    O Presidente diz situar-se na área da “direita social”, mas muitos observadores (até da sua família política e do seu partido) consideram-no um dos principais esteios da solução governativa alicerçada à esquerda conhecida por “geringonça”. Profundamente institucionalista e defensor dos valores da estabilidade política como condição fundamental para os interesses do país, Marcelo Rebelo de Sousa vai iniciar o seu segundo mandato num dos piores momentos da história nacional em muitas décadas.

    Marcelo Rebelo de Sousa vai deixar aos leitores do PÚBLICO uma análise das condições do presente que podem influenciar o que será o país no futuro.

    5 de Março, 18h00

  • D. Manuel Clemente
    Cardeal-patriarca de Lisboa

    Homem de consensos, discreto, moderado, dono de um raciocínio complexo e pouco atreito a soundbytes ou a murros na mesa. O estilo “português suave” que muitos atribuem a D. Manuel Clemente, actual cardeal-patriarca de Lisboa, não condiz com o percurso recheadíssimo que o fez chegar à liderança da Igreja Católica em Portugal já depois de se ter tornado a única figura da Igreja a receber o Prémio Pessoa, em 2009, muito à conta de se ter afirmado como “uma figura ética para a sociedade portuguesa no seu todo”.

    Nascido no dia 16 de Julho de 1948, em Torres Vedras, filho de Maria Sofia e de Francisco Clemente, proprietário de uma fábrica de moagens, Manuel José Macário do Nascimento Clemente, frequentou a escola normal, frequentou bailes e namorou, antes de ingressar no Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, já dobrada a curva dos 20 anos de idade. A vontade vinha-lhe do exemplo do clérigo que lhe marcou a infância, o padre Joaquim, mas a mãe conseguira persuadi-lo a esperar pela maturidade.

    Quando em 1973 se aventurou pelos corredores do seminário, já D. Manuel Clemente levava na bagagem uma licenciatura em História, a que haveria de somar outra em Teologia e, mais tarde, um doutoramento em Teologia Histórica, com a tese Nas Origens do Apostolado Contemporâneo em Portugal – A Sociedade Católica. E terá sido a vivência prévia fora dos altares e da claustrofobia das sacristias que o ajudou a saber perscrutar o que é isto de ser português e a perspectivar o país e a Europa, descortinando-lhes as razões das sucessivas crises, tendo sempre em mente os portugueses comuns, mais do que os heróis ou anti-heróis, cuja invocação, por se tratar de figuras “demasiadamente maleáveis” às ideologias, nos distrai do presente mais do que “nos serve para o futuro”.

    Quando recebeu o Prémio Pessoa, D. Manuel Clemente ocupava há dois anos a cadeira de bispo do Porto, onde permaneceu entre 2007 e 2013. Neste ano, foi chamado a substituir D. José Policarpo, no Patriarcado de Lisboa. E, dois anos depois, em 2015, foi elevado a cardeal. Pelo meio, presidiu à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), publicou inúmeros livros e reflexões sobre a história da Igreja e o seu papel no cruzamento com a sociedade, num esforço de compreender como pode o religioso inscrever-se em sociedades abertas e progressivamente mais laicas. Num dos seus livros, Diálogo em Tempo de Escombros (Pedra da Lua, Maio de 2010), lembrava que a democracia se liga “historicamente à afirmação das classes médias, com o que estas trouxeram de autodeterminação das vidas e dos percursos”, para avisar que “quando isto mesmo se reduza por circunstâncias várias, ou as escolhas se privatizem sem sentido do conjunto, a vida política diminui e oscila entre grandes vazios e possíveis golpes de quem apareça”. Eis um aviso para o Portugal do pós-pandemia.  

    Manuel Clemente falará sobre os reflexos da espiritualidade humana que as lições do presente permitem antever para o futuro.

    5 de Março, 18h30

  • Fernando Henrique Cardoso

    Fernando Henrique Cardoso (Rio de Janeiro, 1931) é uma personalidade central da história do Brasil da segunda metade do século XX. Não apenas pelo seu papel moderador na transição democrática consagrada em 1986, mas também pelo impulso reformista, estabilizador e modernizador que impôs ao país durante os seus dois mandatos como Presidente da República, entre 1994 e 2002. Para lá da sua influência política, “FHC”, como é também conhecido, foi um intelectual e académico na área da Sociologia com passagem por várias universidades internacionais de prestígio (Nanterre, Cambridge, Harvard), deixando uma obra decisiva para a consagração da “teoria do desenvolvimento”.

    FHC despertou para a política no princípio dos anos de 1960 e a instauração da ditadura militar em 1964 forçou-o ao exílio no Chile. Em 1968 regressou ao Brasil, mas a sua carreira académica seria novamente suspensa com uma aposentação forçada pelas autoridades da ditadura. A abertura do último presidente-militar, João Batista Figueiredo, torna-o um dos principais articuladores das forças democráticas, ao lado de Ulysses Guimarães ou Franco Montoro. Eleito para o Senado, é um dos principais líderes do movimento Directas Já.

    Com a democratização, FHC consolida o seu prestígio e influência no PMDB e, mais tarde, em 1988, no PSDB, mentor de um projecto de social-democracia que acabará por se tornar a força dominante do país quando, depois de estabilizar a moeda como ministro das Finanças do Governo de Itamar Franco, se elegeu como Presidente em 1994. Autor de vasta bibliografia (a sua obra A Arte da Política é um ensaio seminal), Fernando Henrique Cardoso não escapou à turbulência fratricida da política brasileira, mas continua a ser hoje para uma boa parte dos brasileiros uma referência de moderação e compromisso entre a democracia liberal e a acção do Estado para a superação dos graves problemas sociais do país.

    Fernando Henrique deixará aos leitores do PÚBLICO uma reflexão sobre o mundo do pós-pandemia.

    5 de Março, 21h30

  • José Manuel Félix Ribeiro

    É sempre difícil determinar o que mais impressiona no pensamento de José Manuel Félix Ribeiro (Lisboa, 1948). Se a sua originalidade, o seu brilhantismo, a sua lucidez ou a sua inteligência. O que já não surpreende é a sua persistente capacidade de nos surpreender. Na sua reflexão sobre Portugal ou o papel de Portugal no mundo ou ainda sobre o próprio mundo há sempre um ângulo de abordagem diferente, uma ideia nova, uma revelação inesperada que acrescenta algo de novo ao que por vezes julgávamos ser consensual ou consolidado. José Manuel Félix Ribeiro é uma das vozes mais originais no país. 

    José Manuel Félix Ribeiro é licenciado em Economia e doutorado em Relações Internacionais. Em 1972 integrou o Grupo de Estudos Básicos de Economia Industrial, colaborou com a Secretaria de Estado do Planeamento entre 1986 e 1995 e tornou-se responsável pelo Departamento de Estudos e Planeamento que forneceu instrumentos de diagnóstico e prospectiva indispensáveis para a definição dos eixos de aplicação de fundos estruturais. Nesta sua passagem pelo DEP, a administração pública portuguesa produziu alguns dos melhores estudos da época sobre os desafios e os caminhos abertos no Portugal europeu.

    Autor de EUA versus China: Confronto ou Coexistência e PortugalA Economia de Uma Nação Rebelde, José Manuel Félix Ribeiro é desde 2013 consultor da administração da Fundação Calouste Gulbenkian.

    Félix Ribeiro participará numa conversa com Carlos Rodrigues sobre a ordem global. A moderação caberá à jornalista Teresa de Sousa.

    6 de Março, 18h00

  • Carlos Rodrigues

    Carlos Rodrigues (Coimbra, 1952) é um gestor com uma carreira na área financeira iniciada em 1977 que lhe proporcionou uma profunda experiência internacional. Nesse ano, estreou-se na Divisão Internacional do Manufacturers Hanover Trust Company em Nova Iorque, no momento em que frequentou o Management Training Program da instituição. No ano seguinte, assumiu responsabilidades de crédito relacionadas com a área de Espanha até que foi promovido a assistant vice-president em Janeiro de 1981. Dois anos mais tarde foi promovido a vice-presidente da instituição.

    É nessa qualidade que fica responsável pela supervisão e desenvolvimento do negócio do Manufacturers Hanover Trust Company em Portugal a partir de Nova Iorque. No final de 1983 assume as funções de representante do banco em Portugal e no período de dois anos a instituição torna-se o principal credor estrangeiro da República e dos bancos nacionais. Ao mesmo tempo, o Manufacturers Hanover foi responsável por uma fase de inovação no sector financeiro em Portugal.

    Mais tarde, em 1996, Carlos Rodrigues assume as funções de presidente do Banco Chemical Finance e de vice-presidente dos  bancos Pinto & Sotto Mayor, Totta & Açores e Crédito Predial Português, do grupo Champalimaud. Jamais perdeu, todavia, a ligação aos Estados Unidos – foi durante 15 anos, até Maio de 2006, presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal –, até na maneira de pensar, muito marcada pelos princípios do liberalismo político e económico. Carlos Rodrigues é licenciado em Finanças pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, Universidade Técnica de Lisboa.

    Carlos Rodrigues participará numa conversa com Félix Ribeiro sobre a ordem global. A moderação caberá à jornalista Teresa de Sousa.

    6 de Março, 18h00

  • Grada Kilomba

    Artista interdisciplinar, escritora e professora, a portuguesa Grada Kilomba, com raízes em Angola e São Tomé e Príncipe, a residir em Berlim há anos, é uma criadora com ampla projecção internacional, com um corpo de trabalho em que os traumas coloniais, a memória, a experiência dos negros, as vozes silenciadas, a linguagem, o racismo e as questões de género estão sempre presentes.  

    No seu trabalho as fronteiras entre as linguagens académicas e artísticas mesclam--se, utilizando uma série de formatos, da escrita à encenação, assim como instalações-vídeo e performance. Com ampla circulação internacional no universo da arte contemporânea, a sua obra tem sido exibida em museus, galerias, teatros ou academias de todo o mundo. Em Portugal, durante anos, passou quase despercebida, mas nos últimos três, depois de algumas exposições em território português, e da edição do livro Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Quotidiano, o cenário mudou por completo.  

    No início do seu percurso, quando estava na universidade em Portugal, era a única estudante negra no Departamento de Psicologia Clínica e Psicanálise. Nos hospitais, onde trabalhou depois, era comum ser confundida com a senhora da limpeza. A primeira vez que visitou a biblioteca da Frei Universität de Berlim, onde estava a doutorar-se em Filosofia, uma funcionária interpelou-a, como se não pertencesse àquele lugar, dizendo em voz alta que aquele espaço era apenas para estudantes universitários. Hoje é professora no Departamento de Género da Humboldt Universität, e as suas obras são expostas na 32.ª Bienal de São Paulo ou na Documenta 14, estando presentes em colecções como a da Tate Modern.  

    Em simultâneo tornou-se uma das vozes mais clarividentes em Portugal a discorrer sobre a história violenta do colonialismo, abrindo brechas por entre a negação, o mito do bom colonizador e o romantismo do país integrador. Grada Kilomba tem 53 anos.  

    Grada Kilomba deixar-nos-á uma reflexão sobre a arte e a criação para os tempos pós-pandemia.

    6 de Março, 17h30

  • Dulce Maria Cardoso

    Dulce Maria Cardoso nasceu em Trás-os-Montes, em 1964, na mesma cama onde haviam nascido a sua mãe e a sua avó. Em criança foi viver para Luanda e costuma dizer que tem pena de não se lembrar da viagem no Vera Cruz. Regressou de Angola, com a família, durante a ponte aérea de 1975. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, exerceu durante anos advocacia antes de se dedicar à escrita a tempo inteiro. Ganhou em 2001 o Grande Prémio Acontece de Romance com o seu primeiro livro, Campo de Sangue, escrito na sequência da atribuição de uma bolsa de criação literária pelo Ministério da Cultura.

    Seguiu-se, em 2005, o romance Os Meus Sentimentos, que teve o Prémio da União Europeia para a Literatura, e, em 2009, O Chão dos Pardais, Prémio PEN Clube Português e Prémio Ciranda. O Retorno, de 2011, teve o Prémio Especial da Crítica e foi considerado o Livro do Ano nos jornais PÚBLICO e Expresso. A tradução inglesa deste romance foi contemplada com o English PEN Translates Award em 2016. A escritora, que em 2012 foi distinguida pelo Estado francês com a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras, publicou em 2018 Eliete – A Vida Normal, segundo qualificado no Prémio Oceanos 2019. Foi também nomeado para o Prémio Femina 2020 na categoria de melhor romance estrangeiro. 

    A sua obra, que inclui ainda antologias de contos e literatura infantil, está publicada em Portugal pela Tinta da China. Os seus livros estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. Também escreveu argumentos para cinema. Em Dezembro, publicou no PÚBLICO um diário em que revelava a sua experiência como cuidadora informal da mãe. É cronista da revista Visão e comentadora no programa Original É a Cultura, da SIC.

    Dulce Cardoso falará sobre “A pandemia, as palavras e os actos”.

    6 de Março, 19h00

  • António Damásio

    Emoções, sentimentos, razão, consciência – um quarteto que condensa muitas das descobertas de António Damásio na compreensão do cérebro e da mente humanos. Linguagem e memória, um par a que o neurocientista português também tem dado uma atenção particular. Em todas estas dimensões – emoções, sentimentos, razão, consciência, memória e linguagem – António Damásio tem feito avanços no conhecimento das suas raízes neuronais. No seu primeiro livro, de 1994, O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano, que se tornou um best-seller mundial, mostrou-nos a todos precisamente como a racionalidade não pode existir sem a capacidade emocional. As emoções são cruciais para tomarmos decisões racionais.

    Formado em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, começou a desenvolver as suas investigações no Laboratório de Estudos da Linguagem (do Centro de Estudos Egas Moniz daquela faculdade), que criou em 1970, quando ainda era estudante de doutoramento. Já depois de se ter doutorado em 1974, mudou-se no ano seguinte em definitivo para os Estados Unidos e é aqui que tem sempre trabalhado com a sua mulher, Hanna Damásio. Primeiro, esteve na Universidade do Iowa, de 1975 a 2005, ano em que foi para a Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, e aí fundou com Hanna Damásio o Instituto do Cérebro e da Criatividade.

    Além de n’O Erro de Descartes, as descobertas do neurocientista português encontram-se descritas em vários livros que publicou, editados em todo o mundo, como O Sentimento de Si: O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência; Ao Encontro de Espinosa; O Livro da Consciência; e A Estranha Ordem das Coisas. O livro mais recente de António Damásio, Sentir & Saber – A Caminho da Consciência, é de 2020.

    Nas conferências do PÚBLICO, António Damásio terá como tema “Sentir, saber e resistir: a neurobiologia em tempos de peste”.

    6 de Março, 21h30