Cartas ao director

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IRS jovem da AD protege mais quem já ganha mais

Sejamos claros e intelectualmente honestos. O IRS Jovem apresentado pela AD, e contrariamente ao criado pelo PS, favorece muito mais quem ganha mais. Na criação do PS, os jovens eram todos beneficiados de uma forma igual, enquanto no apresentado agora pela AD verificamos que, enquanto um jovem que ganhe até mil euros mensais, e que infelizmente é a maioria, beneficiará de um valor de redução de IRS de 55 euros mensais, um outro jovem que receba, e ainda bem para ele, até cinco mil euros mensais vai beneficiar de uma redução de mil euros por mês. Isto não faz sentido porque quem ganha menos tem o mesmo direito a poder ter mais dinheiro livre, percentualmente, para as suas despesas mensais.

Porque será que a AD favorece muito mais quem ganha até 5000 euros/mês e muito menos quem ganha até 1000/mês? Penso que o Governo tem obrigação de procurar que se fixem em Portugal todos, e não só quem tem cursos superiores. Por que razão é esta a opção de Luís Montenegro? Será uma opção consciente sua proteger mais quem já ganha mais? Se o for, é demasiado grave porque mostra bem o que pensa da igualdade de oportunidades para todos.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

Avalanche de Swiftmania

Desde o tempo dos Descobrimentos, a arte de evangelizar evoluiu consideravelmente. Os missionários modernos não se dedicam a espalhar o cristianismo, mas antes coisas mais evoluídas, como a Swiftmania. Não nos batem à porta de Bíblia em punho, antes alcançam-nos com uma avalanche mediática, a que só um tremendamente disciplinado eremita consegue escapar.

Ninguém nos pergunta se estamos verdadeiramente interessados em tamanha evangelização. Apenas nos vemos confrontados sem aviso com uma infindável recorrência do mesmo tema, que parece impossível evitar. Hoje em dia, estar a par das notícias significa ser forçado a navegar esta exasperante evangelização, que pode ocorrer sob a forma de Taylor Swift ou da última “do Ventura”, se decidiu discriminar desta vez os turcos ou os ciganos.

Estamos a assistir a uma “​tabloidização”​ da sociedade em geral, que, evidentemente, serve que nem uma luva a vontades de políticos e especialistas de marketing, de nos evangelizar nos temas que lhes são caros.

Gonçalo Coelho dos Santos, Berlim

A Justiça em Portugal é má

O título do PÚBLICO vem confirmar a percepção geral da população. Praticamente dois terços dos portugueses têm noção de que a Justiça é má. Muitas vezes são apresentados dois grandes argumentos para este estado de coisas; a falta de pessoal e a Justiça tem o seu tempo. No primeiro caso não se percebe como se pode argumentar com a falta de pessoal, quando numa investigação o ex-presidente de um partido vê a sua casa “assaltada” por mais de 100 agentes do Ministério Público e numa deslocação à Madeira são enviados mais de 300.

No caso do “tempo da Justiça”, o que justifica que um governante esteja quatro anos sob escutas telefónicas? Por que razão nos processos ligados à alta finança, ao fim de dez anos ainda não se consegue ver luz ao fundo do túnel? Provavelmente haverá outros factores por parte dos sistemas judicial e legislativo. No primeiro caso temos um conjunto de legislação que permite que se possa apresentar recursos, o que faz arrastar os processos interminavelmente. Não podemos esquecer que uma grande quantidade da legislação é feita nos grandes grupos de advogados, que têm os seus representantes em deputados eleitos para a Assembleia da República, onde as leis são muitas vezes feitas à medida. Enquanto não se quebrar estes conflitos de interesses nunca teremos uma alteração significativa, para melhor, na Justiça.

António Barbosa, Porto

A inexorável queda da natalidade na Europa

O presidente da Turquia, Recep Erdogan, afirmou que a mulher que não tem filhos é “meia pessoa”. É evidente que esta expressão é infeliz e representa uma ofensa para as mulheres turcas (e não só). Pese embora este doesto, Erdogan está preocupado com a fraca taxa de natalidade do seu país, tendo afirmado que é uma” ameaça existencial e um desastre”. Na generalidade dos países da Europa, o problema é comum, Erdogan não disse nada que não se saiba. Os líderes europeus estão persuadidos de que só se poderá inverter a tendência negativa se se garantir um padrão de vida melhor do que aquele que se tem vivendo sem filhos. É difícil este desiderato, com a carestia de vida e outros problemas existentes, e por paradoxal que se afigure, o que se verifica é que a taxa de natalidade é elevada nos países mais pobres do planeta (compreende-se e não é necessário invocar o Dr. Freud). Nos dias de hoje, como se pode conciliar o trabalho e a legítima realização pessoal e profissional das mulheres com as funções da maternidade? O futuro da Europa não augura nada de bom.

António Cândido Miguéis, Vila Real

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