Novo estudo sublinha que “ser pobre faz mal à saúde”

No passado dia 15 de Maio, no BPI All in One Lisboa, foi apresentado o Relatório “Portugal, Balanço Social 2023”. Nesta nova edição, a Saúde Mental e o Bem-estar foram donos de um novo capítulo.

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O Relatório “Portugal, Balanço Social” nasce fruto da Iniciativa para a Equidade, uma parceria entre a Fundação la Caixa”, a Nova SBE e o BPI. Vai já na sua 4ª edição e tem como objectivo traçar o retrato socioeconómico das famílias portuguesas e descrever a situação social no país. A edição apresentada no passado dia 15 de Maio tem por base os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento de 2022 e 2023, do Inquérito ao Emprego 2023, do Eurobarómetro (Primavera 2023), do Instituto do Emprego e Formação Profissional e da Segurança Social.

“O dia de hoje é muito importante para esta iniciativa. É um trabalho que demora um ano a fazer. Cada vez que se produz um relatório novo, aproveita-se o trabalho já feito, mas são precisos novos dados. É preciso encontrar uma nova forma de olhar para uma realidade que é bastante semelhante”, palavras do Dr. José Amaral, Membro do Conselho da Fundação la Caixa” em Portugal, que acrescenta: “Nós fizemos isto com a Universidade Nova porque trabalhamos com a economia e o sector social. Também temos intervenção na educação, na cultura e na ciência, mas a actividade social é a dominante na acção da Fundação. E quisemos conhecer bem essa realidade na qual estamos a intervir. Na ligação com uma escola, o que procurámos foi alguém que tenha a capacidade de organizar de uma forma científica esta informação. A nossa ideia é que este trabalho seja o mais prolongado possível. Porque estes estudos ganham se forem persistentes”.

O Relatório foi apresentado pelos seus autores: Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Miguel Fonseca, membros do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center. Nesta 4ª edição, o Relatório abriu espaço para duas novas categorias: a Saúde e o Bem-estar e as percepções, expectativas e confiança nas Instituições.

"O que nós verificamos é que as pessoas pobres têm limitações físicas no seu dia-a-dia, muito mais do que as pessoas não pobres. Obviamente que estas dificuldades são simbólicas, mas através daí capturamos uma dificuldade das pessoas na mobilidade e na capacidade de realizarem actividades do seu dia-a-dia com o menor número possível de restrições. Têm também várias medidas de bem-estar psicológico, de perspectivas perante a vida, de isolamento social…as pessoas pobres também estão mais isoladas. E depois há outra dimensão que é o investimento na sua saúde, que é menor. Isto mostra, no fundo, que ser pobre faz mal à saúde, algo que considero muito importante, física e psicologicamente. Essa consciencialização é muito importante”, afirmou Susana Peralta.

Estes novos indicadores mostraram-se importantes para um vasto conjunto de conclusões, incluindo a visão da população pobre e não pobre face à democracia: "Se há grupos da população que não confiam na democracia, na justiça, nos partidos, no governo…é uma grande diferença entre quem vive com dificuldades e quem vive sem. Isso, de facto, até levanta questões quanto à possibilidade de projectos que são contrários à manutenção dessas instituições. Acabam por ter aí um terreno fértil para crescer”, rematou a autora.

Depois de todos os indicadores apresentados, sobrou ainda tempo para o debate se abrir ao público e para reflectir sobre o que ficará então por fazer quanto ao futuro. Nas despedidas, o púlpito foi ocupado pela Ministra da Juventude e Modernização, Margarida Bolseiro, que aproveitou a oportunidade para reforçar que “quando falamos da urgência do combate à pobreza, estamos a falar de igualdade, dignidade, de justiça, mas também estamos a falar da saúde da nossa democracia”. Para a ministra, é mais necessário do que nunca olhar-se para este tema com a devida preocupação, uma vez que é crucial não só por uma questão de igualdade, dignidade e justiça, mas por se assumir também como “uma forma de recuperarmos a imagem que as pessoas têm do sistema político e das instituições”.

Assim, fica no ar a ideia de que o caminho ainda é longo e de que muito é o trabalho a ser feito no sentido de se verem modificados alguns dos números presentes no relatório. Dr. José Amaral, Membro do Conselho da Fundação la Caixa” em Portugal, não hesitou em finalizar com a ideia de que para um futuro ser possível, o primeiro passo é intervencionar o presente: "O que nós temos é de ir fazendo intervenções no presente porque, em boa verdade, é o único tempo que existe. Se fizermos bem aquilo que temos de fazer no presente, preparamos melhor o futuro”.

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