IN3+, a inovação da Imprensa Nacional-Casa da Moeda ao serviço dos cidadãos

Investigadores estão já a desenvolver projectos nas áreas da sustentabilidade, transparência e segurança que respondem a desafios da actualidade e que, em dois anos, poderão estar no mercado

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Equipas premiadas António Saraiva

Num futuro muito próximo, vai dar por si a sair de casa com a intenção de comprar um computador de marca, devidamente protegida da contrafacção por uma etiqueta inteligente com propriedades quânticas e, por isso, impossível de copiar. Ao decidir que meio usar para se deslocar, vai olhar para um dispositivo móvel onde está registada a sua identidade climática digital e acabará por se aperceber que, nos últimos dias, contribuiu negativamente para as emissões globais de CO2. Decidirá, então, apanhar o Metro e, aproveitando o tempo da viagem, verificará, junto de uma entidade independente, se o processo de licenciamento da sua nova loja se encontra dentro dos tempos de tratamento normais.

Estas são aplicações possíveis (entre muitas outras) das três ideias premiadas pelo IN3+, um apoio de um milhão de euros à inovação promovido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, SA. e que liga a academia, as empresas e a administração pública, contribuindo para a concretização de projectos que acrescentam valor à economia e à sociedade.

As propostas distinguidas em 2024 têm “soluções e respostas para temas que importam aos cidadãos, à sociedade e ao mercado, como a Sustentabilidade, no caso da ideia vencedora, a AYR.ID, que visa a criação de uma identidade climática digital do cidadão, como a Transparência e a Privacidade, no caso da ideia PeT, classificada em 2.º lugar, que propõe uma solução para o tratamento de dados em serviços de base digital, ou como a Segurança, que a ideia QuantSecure pretende aumentar, tornando mais segura a autenticação de dispositivos ou objectos”, descreve o administrador da INCM, Duarte Azinheira.

E o cenário acima descrito poderá ser real em cerca de dois anos, prevêem os autores das ideias. Logo a seguir à entrega dos prémios, no final de Fevereiro, iniciaram um trabalho de estreita colaboração com a INCM para o desenvolvimento dos seus projectos. “Não podemos demorar muito tempo”, refere Pedro Gaspar, director de Novas Tecnologias de Negócio do CeiiA, que apresentou a ideia vencedora desta 4ª edição e que envolverá uma equipa com mais de 50 pessoas, nas áreas de engenharia de software, segurança, privacidade, blockchain, inteligência artificial. As soluções tecnológicas evoluem rapidamente. Se esperarmos muito tempo acabamos por não ter uma solução inovadora”, acrescenta Paulo André, do Instituto Superior Técnico (IST) e Instituto de Telecomunicações (IT), que está a desenvolver o QuantSecure com outros dois investigadores, do IST e IT, bem como com uma investigadora do CICECO – Instituto de Materiais da Universidade de Aveiro, nas áreas de engenharia física, tecnologias quânticas, fotónica, criptografia.

No INESC TEC, da Universidade do Minho, está concentrada a equipa de quatro investigadores de engenharia informática, ciências de computação que está a desenvolver o PeT, que pretende dar soluções de maior transparência para o tratamento de dados (na administração pública, por exemplo, pode ser aplicado na avaliação da prestação de serviços). “Já existem artigos científicos que expressam ideias deste tipo. Não existe nada que saia do contexto académico”, diz a investigadora sénior, Ana Nunes Alonso. Esse é agora o desafio.

Ideias que já andam na sua mão

Estas ideias também se enquadram no âmbito de algumas áreas de actuação estratégicas da INCM – Identificação, Autenticação, GovTec, explica Duarte Azinheira, sublinhando a relevância que a aposta na inovação tem tido para a perenidade da instituição: “Com 700 anos de história, por via da laboração contínua da Casa da Moeda, a INCM tem uma longevidade rara no panorama empresarial e industrial, tanto em Portugal como no mundo. Tal só é possível porque a empresa soube sempre inovar e acompanhar a evolução económica, social e tecnológica, assumindo por vezes a vanguarda dessa evolução, para que possa continuar a ser útil aos cidadãos e à sociedade, desenvolvendo produtos e serviços de confiança, segurança e qualidade.”

Das edições anteriores, resultaram projectos que já estão disponíveis. “Temos, por exemplo, várias moedas de colecção que surgiram de ideias vencedoras. O mercado do coleccionismo numismático valoriza muito moedas que sejam inovadoras e de excepção, não só ao nível dos temas e do design, mas também do ponto de vista dos materiais, da cunhagem e dos processos de produção”, explica Duarte Azinheira.

Assim, exemplifica o vogal do conselho de administração do INCM, a moeda assinada pelo artista urbano Bordalo II, de 2023, ou a moeda dedicada ao Clima, de 2022, cujo desenho resultou de um projecto pedagógico concretizado junto dos alunos do ensino básico do Município da Guarda, combinam materiais distintos (metal e polímero) com técnicas de cunhagem inovadoras e foram desenvolvidas na sequência de uma ideia apresentada por investigadores do Instituto de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico, que ficou em 2.º lugar na 1.ª edição. “Este ano surgirá uma moeda produzida através de tecnologia aditiva, algo semelhante à impressão 3D e que permite geométricas complexas, que é fruto da ideia classificada em 2.º lugar na 2.ª edição do Prémio”.

Uma rede colaborativa ímpar

São inúmeras as áreas de conhecimento apoiadas pelo IN3+. Este prémio tem o objectivo de fomentar a cooperação entre diversas entidades. E tal tem sucedido desde a primeira edição. A ideia “Papel Secreto”, que propôs a criação de sistemas electrónicos de informação através de tecnologia embebida e implementada em papel envolveu várias empresas e entidades públicas e privadas e deu origem ao laboratório colaborativo AlmaScience, que está a trabalhar em produtos biomédicos ou em embalagens inteligentes e sustentáveis.

E muitos outros projectos estão em fase de conclusão. “Alguns são resultado directo do Prémio IN3+ e outros sugiram por via da nossa rede colaborativa de parceiros para a inovação, que trabalham em conjunto com o INCMLab, o nosso laboratório de inovação”, refere Duarte Azinheira. A Rede de Inovação da INCM é composta por universidades, centros de investigação, laboratórios, empresas e start-ups, nacionais e internacionais, e alargou-se nesta última edição, registando-se já 77 parceiros. Através desta rede, garante o administrador da INCM, “muitas destas ideias, mesmo sem terem sido distinguidas nesta edição do Prémio IN3+, podem vir a ser recuperadas e implementadas mais tarde, caso se verifique que têm potencial para acrescentar valor ao mercado, à sociedade ou aos cidadãos.” Com o IN3+, a inovação está de facto ao serviço de todos.