Cartas ao director

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Eugénio Lisboa

Na hora da sua morte é justo realçar a lealdade para com os seus amigos. Admirador de José Régio, foi de uma constante atenção à sua obra, publicando artigos, organizando antologias, coordenando a publicação das suas obras, participando em congressos e chamando continuamente a atenção para a variedade, complexidade e riqueza da obra de Régio.

Além de ensaísta e crítico, foi memorialista Acta Est Fabula é um belo “filme” da sua vida, com a realidade cultural, social e política do país em fundo. Foi também poeta (A matéria intensa, O ilimitável oceano, Poemas em tempo da peste, etc.). É uma poesia ácida e até cáustica sobre os que provocam os desmandos do mundo. Vd. Poemas em tempo de guerra suja, sobre a invasão da Ucrânia.

Sempre foi fiel aos grandes autores. Leitor voraz desde jovem, criou seguros quadros de referência e um cânone sólido e bem estruturado, para além de vastíssima cultura literária. Aberto à novidade não corria, porém, atrás de modas, e não se coibia de atacar os que desvalorizam ou desconjuntam de tal modo os enredos que tiram prazer à leitura e afastam leitores. Não tínhamos outro com tal poder de luta e de intervenção.

João Boavida, Tentúgal

Estamos cansados
Os portugueses estão cansados porquê? Por muitas e variadas razões que os diversos governos lhes impingem, dia a dia, mês a mês, ano a ano. Todos, todos, todos, os governantes, quando são visados pela justiça, dizem – acredito na justiça, “à justiça o que é da justiça, à política o que é da política”. Na volta, todos, todos, todos afirmam que a justiça não funciona, ou funciona mal (e é verdade). O senhor António Costa, que tem um curriculum político longo, esquece: foi candidato à Câmara de Loures e perdeu. Ainda assim, como militante do PS, veio mais tarde a ser ministro da Justiça (ninguém deu por ele). A justiça estava perfeita. Foi primeiro-ministro com maiorias absolutas durante vários anos, nunca percebeu que a justiça estava mal. Agora que é visado, quer que a justiça funcione a seu belo prazer, porque tem pressa. É de mais. Estamos cansados mesmo.
Guilherme Duarte, Vale Cabeiro

​Serralves e o "mamarracho"

Primeiro a Avenida da Boavista na zona dos palacetes, agora a Avenida Marechal Gomes da Costa. Será que sou eu a única pessoa a ver o "mamarracho" de betão que está a ser construído mesmo antes do portão nobre da Fundação de Serralves? Seja quem for o arquitecto, isto é um crime!

Será que ninguém vai fazer nada para evitar a destruição da que era a avenida mais bonita do Porto? Será que a nossa câmara municipal não tem meios para defender a cidade dos ataques dos bárbaros especializados em extorquir fundos europeus para fazer obras intermináveis e irresponsáveis que ninguém pediu, ninguém quer e que estão a pôr os portuenses todos doidos de desespero? Quem nos protege e defende?

Rosário Vasconcelos, Porto

Europa: notas pessoais

Ao artigo "Portugal quer mais Europa?" (PÚBLICO de 10/4), dei-o por muito bem-vindo. Realmente é deveras "estranho" que os portugueses sejam os europeus que mais estejam com o nosso continente e, em simultâneo, sejam os que menos lhe "ligam", como se constata no elevado número da abstenção aquando das anteriores eleições para o Parlamento Europeu. É mesmo "nosso", desdenhamos do que é bom e entreguemos aos "outros" os deveres que são de todos! Bom, voltemos à Europa, como volto sempre ao volume História da Europa, de 1990, da autoria de Jean-Baptiste Durosellem e prefácio de Mário Soares (Círculo de Leitores/Dom Quixote). Embora, neste momento, seja mais a União Europeia, e os seus antecedentes mais próximos, que me interessam para o que quero dizer.

Sou pediatra, agora aposentado, e fiz a minha formação e carreira hospitalar no serviço de Pediatria do Hospital S. João, "incipiente" quando para lá entrei em 1974, tornando-se depois um grande serviço/departamento, fruto além doutras coisas dos estágios pós-graduados de alguns de nós no estrangeiro. Onde? Pois em países europeus, mesmo quando ainda Portugal só o era geograficamente. Alemanha, Espanha, Inglaterra, Holanda, França and so on. No primeiro, ainda vivi com o marco como moeda e o passaporte. Termino, agora não no plano clínico/científico, mas numa coisa mais trivial: em Riga, na Letónia, há poucos anos, já na UE, no aeroporto, paguei um café com a moeda que tinha no porta-moedas, o euro, e apresentei o cartão de cidadão no embarque... Diz isto alguma coisa? Espero bem que sim, portanto vamos lá votar para o Parlamento Europeu a 9 de Junho, para não sermos ingratos e, se quiserem, até por lógica histórica com tudo o que lhe vem agarrado...

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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