Azul
A patrulha especial que protege tanto os ursos-pardos como os aldeões em Espanha
Há três décadas, existiam apenas 60 ursos em Espanha, mas actualmente a sua população é superior a 400, o que leva a um maior número de encontros com humanos.
É uma patrulha especial: são nove guardas florestais que protegem os residentes e as suas colheitas na cidade mineira espanhola de Villablino, na província vizinha de Palencia, e noutras áreas circundantes, com o objectivo de manter os ursos-pardos ibéricos, que estão em perigo de extinção, seguros e saudáveis. No fundo, permitem a coexistência de humanos e animais.
Os ursos adultos podem pesar entre 150 e 250 kg e medir até 2 metros. Podem viver até 30 anos. Há três décadas, existiam apenas 60 ursos em Espanha, mas actualmente a sua população é superior a 400. No entanto, o aumento do número de ursos está a levar a um maior número de encontros com humanos. Para alguns, os ursos são intrusos indesejáveis, mas outros acolhem-nos com agrado. Se os habitantes locais avistarem um urso, são aconselhados a chamar os guardas florestais e a manter a calma.
Para aliviar as preocupações dos habitantes locais, esta patrulha tem de actuar rapidamente. Assim que os funcionários recebem uma chamada para a sua linha telefónica ligada 24 horas, pegam nos seus rádios, espingardas de bolas de borracha e dispositivos de localização e correm para a porta. A sua missão é afastar os ursos das aldeias, disparando tiros de aviso, seguindo um protocolo rigoroso. "O aumento da população de ursos leva a um aumento dos conflitos (com os seres humanos) ", disse o coordenador da patrulha, Daniel Pinto. Os ursos aproximam-se agora mais frequentemente das aldeias, porque têm dificuldade em encontrar comida suficiente nas montanhas, acrescentou.
Angeles Orallo, 73 anos, moradora da aldeia, é uma das pessoas que considera a presença dos ursos um desafio. "Somos pessoas idosas... O facto de não podermos sair para dar um passeio tranquilo é triste", lamentou. Orallo tem-se esforçado para manter os ursos longe da sua horta.
Enquanto alguns habitantes locais se sentem inseguros e se preocupam com as suas colheitas, a patrulha está a revelar-se uma bênção para a população de ursos-pardos ibéricos e está a proporcionar um rendimento para os habitantes locais, proveniente dos turistas que vêm à região ver os ursos, ainda considerados em perigo de extinção, nas montanhas da Cantábria.
Graças a uma maior sensibilização, a uma forte vigilância e ao cumprimento das regras de conservação, a população de ursos-pardos ibéricos está a crescer. Historicamente, os ursos-pardos percorriam grande parte da Península Ibérica, mas a caça e a perda de habitat tiveram um impacto significativo na espécie. Em 1973, foi-lhes atribuído um estatuto de protecção, embora a caça continuasse a ser permitida.
A patrulha pretende também melhorar o conhecimento do comportamento dos ursos. Para o efeito, uma equipa de veterinários, biólogos e guardas florestais desenvolveu em 2021 um novo sistema de satélite para monitorizar os animais, bem como uma gaiola inovadora, controlada à distância, que permite prender os ursos sem prender outras espécies.
Uma vez capturados, os ursos são anestesiados e é-lhes colocada uma coleira GPS à volta do pescoço para facilitar a sua localização no futuro. Até à data, os guardas florestais capturaram 12 ursos que foram depois libertados longe das aldeias, impedindo-os de comerem as colheitas e os frutos e legumes das hortas.
O facto de saberem que os ursos estão mais afastados tranquiliza os habitantes locais. "O objectivo é procurar soluções para os desafios de conservação que enfrentamos com os ursos, principalmente em ambientes urbanos", disse David Cubero, coordenador do plano de captura e marcação por rádio do urso pardo.
"O que queremos é monitorizar a todo o momento, em tempo real... Para podermos agir rapidamente, sempre para melhorar a coexistência dos ursos com os humanos."