O enigma da apatia nos estudantes de Arquitectura

No coração de cada escola de Arquitectura, reside uma quietude paradoxal: salas fervilham de ideias, mas a participação em eventos externos é mínima. Porquê?

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Megafone P3
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No coração de cada escola de Arquitectura, reside uma quietude paradoxal. As salas de aula fervilham de ideias e sonhos, mas quando se trata da participação em eventos de arquitectura, como conferências ou inaugurações, o zumbido transforma-se num sussurro. Porquê esta apatia generalizada entre os estudantes de arquitectura? Estarão eles adormecidos no meio da tempestade criativa que deveria alimentar a sua paixão e futuro profissional?

Num mundo saturado de informação, a facilidade com que navegamos pelo vasto oceano digital pode ter-nos colocado numa espécie de transe. A Internet, essa ferramenta revolucionária que prometeu aproximar-nos, pode estar, paradoxalmente, a distanciar-nos da essência viva da arquitectura. A suposição de que "tudo está online" cria uma falsa sensação de segurança. Confiamos que podemos ter acesso a inspiração e o conhecimento a qualquer momento, mas esquecemo-nos de que a verdadeira essência da aprendizagem muitas vezes reside na experiência imersiva e no contacto humano.

Os eventos de Arquitectura ao vivo são muito mais do que meras apresentações; são espaços de encontro, de troca de ideias, de discussões e de networking vitais para qualquer profissão. No entanto, a tendência crescente de digitalizar esses encontros, embora inclusiva e abrangente, não deveria substituir a riqueza das interacções presenciais, mas sim oferecer uma alternativa para eventos internacionais, que de outra forma estaríamos impossibilitados de frequentar.

Recentemente, tive a oportunidade de assistir a uma conferência online do arquitecto brasileiro Guto Requena, que tanto admiro. E este momento lembrou-me do quanto eu preferiria que tivesse sido ao vivo. A energia e a troca de ideias num ambiente presencial são incomparáveis. Eventos online deveriam complementar, não substituir, as experiências presenciais, oferecendo-nos a oportunidade de expandir nossos horizontes além das fronteiras geográficas sem perder o valor do contacto humano.

Estamos realmente a absorver o conhecimento ou estamos apenas a acumular separadores abertos num browser já sobrecarregado? A questão reside na nossa abordagem à arquitectura enquanto estudantes e profissionais emergentes. Estamos a consumir arquitectura como consumimos conteúdo nas redes sociais, de maneira passiva e descomprometida? Ou estamos verdadeiramente empenhados em mergulhar nos desafios, nas inovações e nas discussões que moldam o nosso mundo construído?

É importante que os estudantes de arquitectura reconheçam o valor insubstituível da participação activa e presencial em eventos. O desafio está em equilibrar a acessibilidade digital com o compromisso pessoal. A arquitectura, na sua essência, é sobre espaço, contexto e experiência. Sem o elemento humano, a discussão e o debate presencial, corremos o risco de perder a essência da nossa profissão.

A verdadeira inspiração reside na experiência partilhada, no conhecimento trocado cara a cara, na energia palpável de uma comunidade reunida com um propósito comum. Não deixemos que a conveniência digital nos prive do que torna a arquitectura verdadeiramente magnífica: a sua capacidade de nos unir, inspirar e desafiar a ver o mundo de maneiras novas e emocionantes.

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