Será Quincy Wilson o novo Usain Bolt? Ainda é cedo

O sprinter norte-americano de 16 anos bateu o recorde mundial sub-18 nos 400m de pista coberta com uma marca que é melhor que o recorde de Portugal. Até onde poderá chegar?

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Quincy Wilson e o seu novo recorde nos 400m DR
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O novo Usain Bolt. Quantas vezes já ouvimos ou lemos isto? No Google, uma busca por “new Usain Bolt” dá-nos vários resultados – qualquer atleta que mostrou promessa na velocidade nos últimos sete anos, desde que Bolt se retirou, tem merecido esse epíteto. Mas ainda ninguém apanhou o jamaicano. Nos EUA, onde surgem muitos dos candidatos a “novo Bolt”, há mais um, Quincy Wilson. Aos 16 anos, ele bateu o recorde mundial de sub-18 nos 400m em pista coberta (45,76s) e já há quem o coloque como um candidato a estar nos Jogos Olímpicos de Paris no próximo Verão. E se isso acontecer, já terá feito melhor que Bolt, que só foi olímpico aos 18 anos.

Ponto prévio: Bolt nunca correu os 400m em grandes competições porque preferia os sprints mais curtos (100m e 200m) e a sua melhor marca na volta à pista é bastante modesto (45,28s), bem longe do recorde mundial de Wayde van Niekerk (43,03s), também um candidato a ser o novo Bolt que nunca cumpriu verdadeiramente a promessa. Voltando a Quincy Wilson, o mais recente “novo Bolt”, até onde pode ele chegar? Se chegar aos Jogos Olímpicos, já será um feito notável, tendo em conta que os EUA são uma das maiores potências da velocidade e concorrência não lhe faltará. Se ganhar uma medalha, será histórico.

Primeiro, vamos à marca, realizada nos recentes New Balance Nationals de Boston, competição nacional em pista coberta para atletas de liceu: 45,76s. Em termos globais, é a 26.ª melhor marca mundial do ano e daria para estar na final dos recentes Mundiais “indoor” em Glasgow, onde o português João Coelho foi quarto, com um novo recorde nacional (45,86s), 0,10s acima do recorde do adolescente norte-americano – com este tempo, Wilson também seria quarto. Para o próprio Wilson, foi uma evolução de quase um segundo em relação à sua marca pessoal. Na mesma competição, em 2023, ganhou com “apenas” 46,67s. Segundo a própria estimativa do jovem, esta marca em pista coberta pode “converter em 44 altos ao ar livre”.

Depois de dominar corridas com os rapazes da sua idade (e os outros que correram contra ele em Boston nem sequer chegaram perto), Quincy não quer esperar mais. Sente-se preparado para ir aos “trials” olímpicos que servem como selecção da equipa norte-americana para os Jogos de Paris. Os três primeiros em cada prova, desde que façam os mínimos, entram na equipa olímpica para a prova individual e, no caso dos 400m planos, ainda há mais dois lugares para a estafeta de 4x400m.

Para o jovem, não será fácil entrar na equipa porque, nos EUA, há muitos especialistas no sprint longo e Quincy terá de correr ainda mais depressa. “Admiro-os há muito tempo, mas acho que agora é a minha vez. Espero conseguir entrar na equipa olímpica. Vou aos trials no Verão”, declarou o jovem velocista, que estará entre a nata do atletismo norte-americano em Eugene, entre 21 e 30 de Junho. Se conseguir entrar na equipa olímpica e ganhar uma medalha de ouro, seja na prova individual ou como suplente da estafeta, Quincy ganha um lugar na história, como o campeão olímpico de atletismo mais novo de sempre, batendo um recorde com 76 anos – o também norte-americano Bob Mathias ganhou o ouro no decatlo em 1948.

Com tudo isto, é fácil esquecer que Quincy Wilson ainda é um miúdo de 16 anos que vive com os pais e a irmã (que também corre) que e anda no liceu. Há uma lei na casa dos Wilson, a de dar uma aura de normalidade à vida cada vez mais especial de Quincy, que pratica atletismo desde os oito anos. Sempre que vem da escola, tem tarefas domésticas para fazer e tem de entregar o telemóvel aos pais sempre que vai fazer os trabalhos de casa. Os pais, antigos atletas, raramente falam de atletismo às refeições.

O que não quer dizer que não façam tudo para que ele tenha todas as oportunidades para potenciar todo o talento que tem, ao ponto de terem mudado de casa para que o rapaz pudesse estudar num liceu com um programa atlético de elite – é o que tem no Bullis School, um colégio privado em Maryland. Joe Lee, o seu treinador nos últimos dois anos, olha para o rapaz como um talento especial, ao nível de outro atleta superlativo que também começou a dar nas vistas quando era adolescente: “Odeio fazer estas comparações, porque não quero colocar-lhe muita pressão, mas é como estar a ver o LeBron James quando estava a começar.”

Até Noah Lyles, provavelmente o melhor sprinter da actualidade (campeão mundial dos 100m e 200m, e quem mais se tem aproximado dos recordes de Bolt), está atento aos feitos do jovem Quincy – dedicou-lhe uma mensagem no X (ex-Twitter). E Lyles sabe bem o que é correr contra prodígios adolescentes – Erriyon Knighton, um dos seus maiores rivais, esteve na velocidade olímpica em Tóquio quando tinha apenas 17 anos. Quincy Wilson tem apenas 16 anos e vai ter 16 nos Jogos de Paris – se lá chegar. Se não, não será nenhuma tragédia. Em Los Angeles 2028 ainda só terá 20.

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