Dúvidas de Ventura sobre processo eleitoral na emigração sem fundamento, diz CNE

Presidente do Chega falou em atrasos no envio de votos para os círculos da emigração, onde dificilmente conseguirá eleger um deputado.

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André Ventura parece estar a seguir o exemplo de Donald Trump ou Jair Bolsonaro LUSA/PAULO NOVAIS
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André Ventura lançou na noite de sábado dúvidas sobre o processo eleitoral, nomeadamente sobre os círculos da emigração, alegando que os eventuais problemas de que falou visam prejudicar o Chega. Mas as situações que apontou não estão a chegar à Comissão Nacional de Eleições (CNE), segundo apurou o PÚBLICO. Mais, é praticamente impossível o seu partido eleger qualquer deputado por estes círculos.

“Temos recebido relatos dos emigrantes em muitos países que dizem que não chegaram os boletins”, afirmou o presidente do Chega, acrescentando que “chegam a alguns consulados dominados pelo PS e PSD”. “Esses emigrantes estão fartos de socialismo e social-democracia”, afirmou, garantindo ter recebido “emails de pessoas que não conseguem votar”.

Ao que o PÚBLICO apurou junto de fonte oficial, não há qualquer atraso no envio dos boletins de voto e, a verificarem-se chegadas tardias, como já aconteceu em outras eleições, elas poderão acontecer nos círculos mais longínquos, como, por exemplo, em Timor-Leste e Macau, por responsabilidade dos serviços postais locais. Ainda assim, os eleitores podem votar presencialmente nos consulados e embaixadas.

“O consulado em Joanesburgo, na África do Sul, informou pelo Facebook” que quem quisesse votar tinha de se inscrever até 10 de Janeiro”, lamentou também Ventura. Acontece que esta era a data oficial, conforme está escrito no site da Comissão Nacional de Eleições, para quem se quiser inscrever para exercer o voto presencial. Quem não se inscrevesse até àquele dia, receberia na sua morada “a documentação para exercer o seu direito de voto via postal”, pode ler-se no comunicado da CNE.

Segundo afirmou ao Expresso neste domingo o porta-voz CNE, a comissão “não tem nenhum facto nem reporte” das dúvidas sobre o processo eleitoral, nomeadamente nos círculos da emigração, feitas por André Ventura.

Sobre a alegação de que eventuais problemas visam prejudicar o Chega, na verdade muito dificilmente o partido conseguirá um deputado nestes círculos, que elegem quatro deputados, dois pela Europa e outros dois fora da Europa.

Estes círculos são desde sempre dominados pelo PS e pelo PSD e onde a abstenção é muito elevada. Na eleição legislativa de 2022 estavam inscritos 1.521.947 eleitores, votaram apenas 173.792 (11,42%). O PS, com 31,79% dos votos elegeu três deputados e o PSD, com 23.32%, elegeu um. O Chega foi a terceira força política com 8,02%, que representaram 13.937 votos.

Ventura parece estar a imitar outros políticos radicais populistas que colocaram em causa a seriedade de eleições antes delas se realizarem, como foram os casos do norte-americano Donald Trump, o brasileiro Jair Bolsonaro ou o espanhol Santiago Abascal.

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