De Mark para Ruben há todo um Van Bommel de distância

O futebol europeu já conheceu a dureza de Mark van Bommel – que o digam as pernas de Ronaldo –, mas ainda não conhece bem a subtileza de Ruben van Bommel. Nem tudo passa de pai para filho.

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Ruben van Bommel, jogador do AZ Alkmaar DR/AZ
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Em 2006, num jogo do Mundial que ficou conhecido como a “Batalha de Nuremberga”, Portugal e Países Baixos presentearam o público com 16 amarelos e quatro vermelhos, partida que é, ainda hoje, a recordista de cartões num jogo do Campeonato do Mundo.

Nessa noite, na Alemanha, foi um rapaz chamado Mark van Bommel a “abrir as hostilidades” – hostilidade literal – com um cartão amarelo logo aos dois minutos de jogo, por uma entrada sobre Cristiano Ronaldo.

Serve esta memória para enquadrar quem era Mark van Bommel, jogador que poderia perfeitamente ser definido por aquele jogo – ou por aquela entrada aos 2’.

Grande, forte, duro e intenso, o jogador neerlandês tinha até um lado algo brigão, que contrastava com uma bastante assinalável qualidade de passe e visão de jogo – preceitos que lhe permitiram fazer uma carreira bem melhor do que a que o futebol reserva a médios apenas capazes de destruir e lutar.

Alguém a quem façamos o desafio de definir o filho de Mark van Bommel criaria, provavelmente, um “protótipo” de médio forte e empenhado em destruir mais o futebol do adversário do que em contribuir para o da sua equipa. Nada mais errado.

Neste domingo, o triunfo (2-0) do AZ Alkmaar frente ao Ajax foi patrocinado por um rapaz de 19 anos chamado Ruben van Bommel. E entre Mark e Ruben há todo um Van Bommel de distância.

Início forte

Em Ruben há um extremo rápido, com um leque de recursos técnicos bastante alargado e fã de lances de um contra um. Partindo do corredor esquerdo para movimentos interiores com o pé direito, Ruben van Bommel faz do drible e da finalização virtudes úteis para um bom extremo. Mark, o pai, trabalhava para retirar aos outros esses dribles e finalizações.

Depois de ter feito o início da formação no PSV, foi para o MVV e aí começou na segunda divisão neerlandesa. Marcou 15 golos em 31 jogos e o AZ Alkmaar chegou-se à frente. Foi para o AZ no último Verão e somou três golos e uma assistência nos primeiros seis jogos. Depois, o eclipse.

Sem justificação aparente, foi colocado no banco – umas vezes ainda saía de lá na segunda parte, noutras nem isso. E ele não gostou.

“É muito frustrante, até porque não sinto que a minha forma tenha piorado. Nunca vejo um lugar no banco como algo positivo, ainda que saiba que não devo expressar demasiado a minha frustração”, apontou ao NU.nl, na altura em que passou a ser suplente.

“Fico impaciente quando não jogo”

Ruben diz que foi aconselhado pelo pai e pelo avô – Bert van Marwijk​, ex-seleccionador dos Países Baixos – a ter calma e que "se calhar, como um rapaz de 19 anos, deveria ser paciente e esperar pela oportunidade". "Mas sou um animal futebolístico. Fico impaciente quando não jogo”, aponta.

Entre entradas para jogar três minutos e saídas ao intervalo – mais do que uma vez –, Ruben van Bommel sentiu na pele a dureza de um treinador, mas a troca de técnico, em Janeiro, deu-lhe nova vida.

Começou a jogar mais tempo, e de forma mais consistente, e “pagou” de volta neste domingo, com dois golos frente ao Ajax que muito vão ajudar o AZ na luta europeia – e o Ajax é quem mais ameaça essa posição.

Para já, o desafio mais importante nem parece ser o do talento, mas o da humildade e da paciência. E se este Van Bommel mais técnico for buscar 10% do outro Van Bommel, o físico, então estará ali um ala bastante completo.

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