Acabar com os nulos no salto em comprimento? Carl Lewis não gosta da ideia

A World Athletics quer transformar a tábua de chamada numa zona de chamada maior, para acabar com os saltos nulos e aumentar a popularidade de uma das mais antigas disciplinas do atletismo.

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Reuters/Kirby Lee
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Há uma revolução à vista no atletismo. A World Athletics, organismo que tutela a modalidade, está a preparar uma alteração significativa no salto em comprimento, a de trocar a placa de chamada por uma zona de chamada, com o objectivo de acabar com os saltos nulos e tornar a disciplina mais popular. A ideia já está a ser testada em “meetings” e continuará em fase de experimentação durante, pelo menos, mais dois anos. Se for um sucesso, poderá ser aplicada em grandes competições a partir de 2026.

Foi Jon Ridgeon, CEO da World Athletics, quem divulgou a ideia, durante uma entrevista ao podcast “Anything but Footy”, justificando esta opção como parte de um plano para tornar o atletismo mais interessante para o público. “Estamos a pegar nas disciplinas que serão menos populares. Como é que as podemos tornar mais populares, mais entusiasmantes e mais envolventes? Olhando para o salto em comprimento, nos Mundiais, um terço de todos saltos foram nulos. Isso não funciona. É uma perda de tempo”, começou por dizer Ridgeon.

O dirigente detalhou, depois, o plano para aquela que é uma das disciplinas mais antigas do atletismo, com raízes na antiguidade clássica. “Estamos a testar, por exemplo, uma zona de chamada em vez de ter uma tábua de chamada, e medimos a partir do sítio onde o atleta salta até ao sítio onde aterra na caixa de areia. Isso significa que todos os saltos contam, e contribui para o risco e a emoção da competição”, explicou.

As regras do salto em comprimento, um dos dois saltos horizontais do programa atlético (o outro é o triplo salto), são simples. Em competições oficiais, os atletas têm 40 metros para ganhar impulsão antes de se elevarem no ar, fazendo a chamada numa zona de 20 centímetros com plasticina – se saltarem antes da chamada, o salto é válido, se fizerem a chamada para lá desses 20 centímetros, o ensaio é nulo. O salto é medido desde o limite da placa de chamada até ao local mais próximo dessa placa onde o corpo do atleta toca na caixa de areia.

A proposta da World Athletics não especifica qual será a dimensão da zona de chamada, mas seria, de certeza, um alvo bem maior para os atletas acertarem no final da corrida de lançamento. E isso reduziria o número de saltos nulos em competição – mas ainda podiam acontecer. E, garante Ridgeon, não haveria grande perda de tempo a medir o comprimento dos saltos, perspectivando que, se os testes tiverem sucesso, esta nova versão do comprimento poderá aparecer numa nova competição global de atletismo que a World Athletics quer lançar em 2026 e manter-se nos anos em que não há Mundiais, nem Jogos Olímpicos.

O que esta proposta de alteração parece querer combater é a relativa estagnação de marcas, tanto nos homens como nas mulheres. O recorde de Mike Powell (8,95m) é de 1991, o de Galina Chistyakova (7,52m) é ainda mais antigo, de 1988, e nenhuma das 20 melhores marcas de sempre (nos dois géneros) foi feita nos últimos 20 anos. O melhor homem a saltar em 2023 foi o jamaicano Wayne Pinnock (8,54m), a melhor mulher foi a sérvia Ivana Vuleta (7,14m).

Para já, a mais forte reacção a esta ideia vem de um dos maiores de sempre. E não é nada favorável. Carl Lewis, tetracampeão olímpico e bicampeão mundial do comprimento, começou por reagir no X (ex-Twitter) com um “ainda é cedo para mentiras de 1 de Abril”. Depois, o dono da terceira melhor marca de sempre (8,87m, feita na mesma competição que o recorde de Powell, os Mundiais de Tóquio em 1991) considerou que fazer isto era como aumentar o tamanho do cesto no basquetebol.

“Isto só prova o que eu sempre disse, que o salto é comprimento é a prova mais difícil do atletismo. Isto elimina a parte mais difícil da disciplina. Façam o cesto maior nos lances livres para que seja mais fácil acertar com a bola”, comentou “King” Carl, para quem esta ideia não iria conduzir a saltos mais longos: “Só a mais maus saltos serem validados.”

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