Cartas ao director

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Incongruências

Prenhes de incongruências, estes tempos que nos confundem. Quando Marcelo decidiu dissolver o Parlamento e marcar eleições, o PS criticou-o, achando que teria sido preferível nomear outro governo; agora, o PS acha que, na Madeira, se devem marcar eleições, em situação idêntica. O PSD considerou ajustada a decisão de Marcelo em marcar eleições para 10 de Março; agora crê que se devem evitar as mesmas na Madeira. O PS recusou sempre contar todo o tempo de serviço aos professores; agora pretende recuperá-lo completamente em quatro anos. Ao fim de oito anos de governo, o PS deixou a Ssaúde pelas ruas da amargura; agora diz que vai resolver o assunto em quatro anos. O PS renacionalizou a TAP; agora quer reprivatizá-la. O PS, após perder as eleições em 2015, pôde juntar a esquerda toda e ser Governo; agora considera que, perante uma eventual derrota nas urnas, o PSD não pode usar a mesma arma e juntar a direita toda. A PSP e a GNR são garante da ordem, porém admitiram um possível boicote nas próximas legislativas.

No primeiro ano da actual legislatura, com maioria absoluta, os governantes socialistas foram caindo que nem tordos, além de o PS ter demonstrado uma arrogância pouco democrática na AR, votando assiduamente "orgulhosamente só", contra a direita e a esquerda. O PS tem usado o argumento de que tem experiência governativa. Mas não percebem o absurdo deste argumentário?! No 25 de Abril, nenhum dos revoltosos tinha experiência governativa!

José Sousa Dias, Ourém

Que justiça?

Ninguém se poderá sentir seguro de não ser alvo de denúncias infundadas. Parece-me que a intervenção da PSP e do Ministério Público em relação às suspeitas de corrupção na Madeira e na Câmara de Caminha são reveladoras de que algo está mal na justiça. Não se pode atirar, seja quem for, para a cadeia e depois libertá-lo com o argumento de que não há fundamentos na suspeita. Há alguma coisa nisto que revela leviandade ou incompetência e era bom que esta situação se esclarecesse. A privação de liberdade, o ficar inocentemente na cadeia, tem um impacto social estrondoso, aproveitado pelos demagogos para apontarem corruptos por todo o lado. Não haverá uma explicação que nos ajude a perceber este "fenómeno" ou a justiça pode andar em roda livre, com um poder arbitrário? Os candidatos a primeiro-ministro não falam disto e não se percebe porquê. Só Ventura fala da justiça na obsessão de caçar votos com a bandeira da corrupção, mas percebe-se, agora, melhor como funcionaria a justiça à "moda" de Ventura: suspeita, prende-se, confisca-se bens e, depois, logo se vê. Num Estado de direito não pode ser assim o funcionamento da justiça.

João Baptista Magalhães, Folhada

Justiça? Onde?

João Miguel Tavares fica admirado nos mais de 20 debates políticos ainda não ter ouvido falar sobre a justiça tal é o estado em que esta se encontra. É para ele, como para a grande maioria dos portugueses, um problema de difícil solução. Mas pelos vistos a dificuldade é maior quando se trata de casos políticos. E é principalmente nestes casos que a justiça fica mal na fotografia. Depois de operações de grande aparato, acabamos por ver que a montanha pariu um rato. Desde o ridículo caso com Rui Rio, passando pelo caso Influencer, que, como veremos, terá como solução um país ingovernável, temos o caso da Madeira, em que os suspeitos, depois de 21 dias de prisão são contemplados com a medida menos gravosa. Alguma discrepância seria aceitável mas um dos lados (Ministério Público) pedir a penalização mais gravosa e a outra (juiz de instrução) pronunciar-se pela mais leve... Descrédito total. Ainda se me levanta outra questão. Estes últimos casos não seriam mais do que suficientes para a procuradora-geral da República apresentar a demissão? Ou esse dever fica restrito aos políticos?

António Barbosa, Porto

Batatas ou munições?

Quando começamos a falar de problemas da agricultura, passamos rapidamente a falar de 50 milhões de euros de créditos sem juro, apoios de 120 milhões, atrasos nos pagamentos, etc. Tudo envolvido na burocracia pouco amigável do mundo rural; tudo dependente de verbas da União Europeia, que reduziu o apoio à agricultura, e permitiu a entrada de produtos ucranianos em concorrência desleal com os agricultores.

Entretanto, a UE aprova um pacote de 50 mil milhões para “adubar” a guerra perdida da Ucrânia; e Portugal, que ainda nem sequer definiu um programa para resolver o problema crucial da água, aplaude os investimentos bélicos que estão a secar a Europa, esquecendo a guerra existencial contra as alterações climáticas. Batatas ou munições? O lençol é curto, e as decisões tomadas em Bruxelas, e que Lisboa aplaude, estão claramente dessincronizadas com quem trabalha no duro para garantir a comida no nosso prato. Adivinhem quem vai facturar eleitoralmente os resultados desta política…

José Cavalheiro, Matosinhos

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