Cartas ao director

Ouça este artigo
00:00
04:57

Investigações na Madeira

O juiz de instrução do caso decidiu libertar as três pessoas constituídas arguidas no seguimento das investigações do MP e da PJ na Madeira. De imediato políticos, comentadores e comunicação social surfaram a onda de indignação contra o MP. Aliás, a mesma situação do caso Influencer. Avanço com uma leitura que não acompanha a onda. A justiça é talvez a actividade onde a subjectividade na análise dos factos é maior.

No caso em questão, várias cabeças da PJ e do MP encontraram indícios fortes de actividades ilegais. Uma cabeça, o juiz, acredita que não há qualquer indício incriminatório. Quem tem razão? O MP ou o juiz? Será um juízo justo e correcto destruir a acção da PJ e do MP de imediato? Parece-me prematuro. Vamos ter de esperar. Penso, aliás, que todos os julgamentos deviam ser decididos por um colectivo de juízes. Deixar a decisão na mão de uma única pessoa parece-me arriscada.

Octávio Senos Miranda, Lisboa

A verdade e a mentira em modo digital

Pelo papel que desempenham na eterna luta entre o bem e o mal, a verdade e a mentira são peças estruturais da condição humana. A propósito do conteúdo do debate televisivo entre Pedro Nuno Santos e André Ventura, um comentador referiu-se às causas e consequências das mentiras ditas, lembrando que há estudos que mostram que os apoiantes do mentiroso, pouco ou nada se importam com as mentiras, porque partem do princípio de que elas têm em vista enganar os adversários.

Quando antigamente éramos crianças, fazíamos jogos onde a realidade e a ficção se confundiam, depois crescíamos, e a partir daí os jogos quase desapareciam e a verdade tendia a sobrepor-se. O novo mundo digital veio alterar esta forma tradicional de vida, criando condições para manter as novas gerações em modo de jogo pela vida fora. Em resultado disto, o mundo das regras mentais que nos enformou, está a virar-se de pernas para o ar. Num jogo de sombras como sempre foi o da política, hoje em dia a importância atribuída à verdade tende a diluir-se, podendo, no limite, vir a caminhar para a irrelevância. Aquela velha máxima do "nada é o que parece", que antes quase sempre era usada como uma mera boutade, parece agora estar prestes a tornar-se uma quase regra de vida. A alteração veio fornecer uma nova arma para o mal, aguardando-se agora pela necessária resposta do bem.

Albano Augusto Rosa, Amadora

PCP equívocos de Manuel Carvalho

Manuel Carvalho escreveu um artigo/análise sobre o PCP [na edição de ontem], em que considera que este partido está fora do tempo. Penso que Manuel Carvalho confunde a realidade a que o PCP está apegado, com a realidade das redes sociais e comunicação social. Qual é a realidade? O PCP, ao contrário de todos os outros, vai sempre ao encontro da sociedade. Que sociedade temos, segundo o INE? População residente, pouco mais de 10 milhões, população activa constituída por cerca de 5 milhões, população inactiva, por cerca de 5 milhões, composta por estudantes até aos 15 anos, reformados e domésticas. Da população activa, cerca de milhão e meio é da classe operária, outros dois milhões e meio de trabalhadores são assalariados e outras camadas, como intelectuais e quadros técnicos, e mais de trezentos mil são classificados como pequenos e médios empresários, directores de grandes empresas e grandes proprietários. Completam os cerca de 5 milhões de população activa, juntamente com estudantes com mais de 15 anos. Pelo que se vê, quando o PCP apela a melhores salários e melhores pensões, isso atinge mais de 6 milhões de portugueses. O que se passa é outra coisa. A ideologia dominante, através dos seus meios de comunicação, apresenta o comunismo como o "papão" que é preciso calar e abafar, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Semitismo?!

A cada momento, os telejornais nos provocam (de forma nem sempre isenta) com imagens chocantes das vítimas dos bombardeamentos israelitas sobre a população de Gaza, em 2024. Mais de 20.000, sem contemplações ou fim à vista... Recolhi por estes dias de um pacote de livros, deitado ao contentor do lixo, um em bom papel e de grafismo apurado: “Contai aos vossos filhos...”

Trata-se da versão portuguesa, de 2000, de original sueco sobre o Holocausto na Europa que visava sobretudo chegar aos jovens. Essa versão foi financiada pelo Estado português (ministro-adjunto Armando Vara), que “permitiu (...) que este livro [fosse] distribuído gratuitamente pelas escolas do país”. De facto, imagens, relatos pungentes, como amostra de centenas de milhares de vítimas da barbárie hitleriana. Em boa parte, o mesmo conteúdo do livro podia ser ocupado, actualmente, pelos rostos e corpos de mulheres, velhos e crianças de Gaza. Mas só o povo eleito, os judeus, tem direito a ser considerado “vítima”, na História?! Afinal, os outros não contam...

Joaquim Heleno, Queluz

Sugerir correcção
Ler 2 comentários