Cultura da Guiné-Bissau vai ter uma casa em Lisboa aberta ao mundo

Ainda sem sede, a Casa da Cultura da Guiné-Bissau tem a socióloga e escritora Rita Ié como directora e o centenário do nascimento de Amílcar Cabral como foco maior das iniciativas a realizar este ano.

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O histórico Amílcar Cabral (aqui em 1972) estará no centro das principais actividades que a Casa da Cultura da Guiné-Bissau pretende realizar este ano cortesia da fundacao mario soares
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Acontece no dia 20, na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (na Avenida da Índia, em Lisboa), a cerimónia de arranque do projecto Casa da Cultura da Guiné-Bissau, um espaço porvir que promete albergar todos os agentes e promotores culturais deste país africano, como conta à Lusa a sua directora, Rita Ié.

A data escolhida tem um peso simbólico: foi a 20 de Janeiro de 1973 que foi assassinado Amílcar Cabral, histórica figura da luta pelo fim do colonialismo e pai da independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. A Casa da Cultura da Guiné-Bissau tenciona, no dia da sua inauguração, assinalar o início da sua celebração do centenário do nascimento de Cabral, nascido a 12 Setembro de 1924.

Rita Ié, socióloga e escritora, diz que esta organização — que, segundo escreve a revista Visão, ainda não dispõe de um espaço físico — surge depois de um grupo de actores ter percebido que havia necessidade de uma casa da cultura da Guiné-Bissau, como um local que pudesse albergar toda a rica e vasta cultura guineense.

A casa visa difundir a cultura guineense para o mundo e promover a sua interacção com outras culturas, conta à Lusa. É uma casa aberta a toda a gente, frisa, acrescentando que existe ainda um grande desconhecimento do que é a cultura guineense, não obstante algumas mostras, nomeadamente ao nível da música e da literatura.

O centenário do nascimento de Amílcar Cabral será, como Rita Ié afirmou à Visão, o grande eixo programático" de 2024. A directora referiu que a instituição pretende realizar sete grandes actividades, entre as quais um colóquio sobre o legado cultural de Cabral, o seu pensamento e tudo aquilo que ele representa, não apenas na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, como também a nível mundial.

Também estão projectadas iniciativas como o lançamento de uma colecção de livros sobre o pensamento de Cabral, a realização de um encontro nacional de artistas e escritores guineenses e a institucionalização de um prémio literário nacional, que tem como patrono Vasco Cabral (1926-2005).

Para já, diferentes agentes culturais têm recebido positivamente os convites para a inauguração da Casa da Cultura da Guiné-Bissau e aplaudido a ideia. Temos alguns artistas guineenses, mais conhecidos no panorama artístico português, que já confirmaram a sua presença no dia do lançamento, conta Rita Ié, dando os exemplos do músico Micas Cabral (vocalista do grupo Tabanka Djaz), do artista plástico Young Nuno ou do escritor Edson Incopté.

Após a cerimónia do próximo sábado, a primeira iniciativa desta Casa da Cultura da Guiné-Bissau será um concerto encenado com diferentes artistas guineenses, em meados de Maio. Chamar-se-á Ora di kanta tchiga, numa alusão e homenagem a um tema do grande e saudoso José Carlos Schwarz.

À Visão, Rita Ié disse que, neste momento, o apoio de que a casa dispõe consiste em doações, provenientes de entidades associadas à cultura e não. Admitindo que a instituição não possui ainda financiamento para tudo aquilo que pretende fazer, afirmou que têm sido feitos contactos com diferentes instituições, públicas e privadas — e quer portuguesas, quer guineenses —, para estabelecer parcerias.

Em Maio de 2022, o Governo da Guiné-Bissau disse que pretendia abrir a sua Casa da Cultura em Portugal. “O Governo deverá ser sempre um dos maiores interessados em criar uma casa da cultura da Guiné”, afirma Rita Ié à Lusa. Como instituição que não tem neste momento qualquer tipo de ligação ao Governo, estamos completamente abertos em cooperar e trabalharmos juntos para que a cultura guineense possa afirmar-se para o mundo, acrescenta.

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