O futebol no feminino

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1. O desenvolvimento e a afirmação, quantitativa e qualitativa, do futebol feminino em Portugal são inquestionáveis, seja qual for o parâmetro com que o vejamos. Até uma recente medida legislativa o parece vir comprovar. Com efeito, o novo regime jurídico das sociedades desportivas, estabelecido pela Lei n.º 39/2023, de 4 de Agosto, vem determinar, no seu artigo 2.º, n.º5, que um clube desportivo só pode constituir ou ser titular de capital social de mais do que uma sociedade desportiva se cada uma delas tiver por objecto uma única modalidade desportiva ou, reportando-se à mesma modalidade, se se diferenciarem por sexo.

A referência ao factor sexo permite vislumbrar a captação de investimento e patrocínios para o futebol feminino, de forma totalmente autónoma do futebol masculino. Mas o mundo e o seu desenvolvimento, mesmo futebolístico, é feito por patamares, encontrando-se realidades bem diferenciadas ou, no mínimo, umas mais avançadas, eventualmente apontando o futuro a seguir ou deixando alertas para o mesmo.

No passado dia 15 de Dezembro, ocupámo-nos do futuro regulador no futebol inglês e o nosso olhar de hoje continua a dirigir-se para Inglaterra e para a política pública relativa ao futebol feminino.

2. Em Setembro de 2022, o Governo do Reino Unido, em tempo de vitória – Euro 2022, em Julho -, o que não deixa de ser significativo, publicitou a nomeação de uma ex-jogadora internacional de futebol, Karen Carney, para liderar a análise do futebol feminino e apontar vias de futuro. Os pontos-chave foram determinados pelo Governo e abrangeram temas como a avaliação de potencial audiência e crescimento do jogo, o exame da saúde financeira e a sua sustentabilidade no longo termo e ainda o exame das estruturas do futebol feminino.

3. O Relatório Carney começa por afirmar, em tom bem optimista, que, no prazo de dez anos, este sector pode ser “uma indústria de um bilião de libras”.

Eis oito das suas principais recomendações: a) standards elevados para jogadoras, adeptos, staff, e para todos aqueles presentes no futebol feminino; b) restaurar o talento futebolístico de forma criar uma geração como a que conduziu à vitória do Euro; c) profissionalização das duas principais competições de forma a atrair e desenvolver as melhores jogadoras do mundo; d) debater a falta de diversidade no jogo feminino, tanto no campo como fora do campo; e) negociação entre as entidades desportivas organizadoras das competições e os operadores televisivos, para a consagração de um tempo específico para o futebol feminino; f) adopção de medidas de apoio aos adeptos; g) providenciar a igualdade no acesso das raparigas às escola de desporto; h)mais investimento nas infra-estruturas para a formação e melhor acesso para as mulheres.

4. E assim acontece política desportiva pública.

josemeirim@gmail.com

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