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A defesa da paz e as acusações infames

Quem defende a paz na Palestina, exigindo o cessar-fogo por questões humanitárias e uma solução negociada para o conflito, é imediatamente confrontado com a acusação de estar a tomar partido pelos terroristas. Esta acusação infame pretende silenciar quem discorda da carnificina em curso. Aliás, o mesmo argumento tem sido utilizado contra quem apela à paz na Ucrânia.

O melhor exemplo do uso desta acusação foi dado pelo embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, ao acusar o secretário-geral, António Guterres, de “baixeza moral”, de “perigo para a paz mundial” e de “apelar à manutenção do reinado de terror do Hamas em Gaza”. Este senhor, ao discursar com a estrela de David ao peito evocando o Holocausto, gesto que foi condenado em Israel, demonstrou, ele sim, uma enorme baixeza moral, ao desrespeitar os milhões de pessoas (judeus e outros) que morreram nos campos de concentração nazis.

Atitudes destas favorecem, objectivamente, os extremistas dos lados em confronto. Não nos calarão.

Fernando Vasco Marques, Várzea de Sintra

“Nós não somos números”

Em 7 de Dezembro de 2023, morreu o poeta e professor universitário na Universidade Islâmica de Gaza Refaat Alareer, vítima de bombardeamento aéreo pelo Estado de Israel. O seu testemunho irá ficar na História. Viveu 44 anos, uma vida de tormentas, que vitimou 30 familiares seus e da sua mulher. Alareer criou a organização We are not numbers, divulgadora das obras de escritores reconhecidos e de jovens autores de Gaza. Publicou o livro Eles conservam os nossos cadáveres: morrer nas prisões israelitas. Por alguma razão, Alareer comparou o ataque do Hamas a Israel ao “levantamento do gueto de Varsóvia”.

A tragédia em curso em Gaza, que já levou à morte de mais de 17 mil habitantes, num estreito território cercado por terra, ar e mar, configura-se como uma vingança criminosa, com efeitos genocidas. Massacre de civis praticado pelas forças militares invasoras de Israel, com a sua supremacia absoluta. Ordem para matar cobardemente, somando, em cada dia, novas centenas dos números de assassinados palestinianos de todas as gerações. Os militantes do Hamas são chamados, nas bandas de cá, “terroristas”. Como devemos chamar os militares israelitas?

José Manuel Jara, Lisboa

Ainda o novo aeroporto

É doloroso ver um país a discutir há já 50 anos a localização do novo aeroporto de Lisboa, sim, porque o gabinete foi criado no tempo de Marcelo Caetano e os primeiros estudos apontavam já para a zona de Alcochete como a mais recomendável. É mesmo muito triste que os 50 anos da democracia não tenham dado ao país os grandes empreendimentos de que ele necessitava para singrar rumo ao futuro, com ou sem os fundos europeus.

Tirando a Autoeuropa e a Ponte Vasco da Gama, que outras obras nos foram proporcionadas pelos governos do bloco central? De quem foi a ideia de Sines, da Setenave, do Alqueva, das auto-estradas e do sempre adiado grande hospital oriental de Lisboa? Quem construiu a maior barragem da África Austral? Pois é, apesar da ditadura e da guerra, no Estado Novo faziam-se obras, mas, e é a verdade, havia pessoas que pensavam no futuro.

Nos tempos da democracia encomendam-se estudos que, ao que parece, o PSD quer deitar para o caixote do lixo. E quanto à ferrovia, viva a bitola ibérica, pois a nossa Europa está confinada ao nosso rectângulo. Assim, o nosso fim é mesmo a cauda da Europa.

Manuel Alves, Lisboa

O valor das cunhas

A polémica com o tratamento das gémeas brasileiras, em que o mesmo levanta suspeitas sobre a intervenção de entidades portuguesas, não deixa de ser uma situação lamentável, quando à porta dos hospitais as pessoas levam horas a ser atendidas, com o desfecho trágico para algumas pessoas e que a sociedade portuguesa já conhece, como resultado do caos que se vive no Serviço Nacional de Saúde.

O facto de conhecermos pessoas influentes é meio caminho andado para a resolução dos nossos problemas, onde não está em causa a vida de crianças visadas, mas a diferença de tratamento entre seres humanos com os mesmos direitos, e onde as cunhas fazem a diferença. As declarações proferidas sobre o caso não sossegam aqueles que não usufruem do privilégio das cunhas. Era importante saber quem suportou os custos do referido tratamento.

Américo Lourenço, Sines

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