Houve mais um especial de Malinovskyi, um craque só de vez em quando

O médio ucraniano de 30 anos está condenado a nunca saber o que é jogar num “tubarão”. Tem sido um craque “silencioso”, que já mostrou arte, mas apenas a espaços – e em locais específicos.

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Malinovskyi celebra pelo Génova EPA/LUCA ZENNARO
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De tempos a tempos aparece no futebol europeu aquele tipo de jogador com "pés de veludo", mas ao qual falta sempre qualquer coisa para chegar à nata. Muitas vezes, são jogadores da posição 10, aos quais se reconhecem predicados técnicos, mas, por vezes, intensidade defensiva (supostamente) e abrangência territorial a menos – são, em simultâneo, unidimensionais e soberbos. E é possível serem as duas coisas, tal como é possível existirem treinadores que abrem mão dessa magia.

Neste sábado, houve golo de um desses espécimes. E já na semana passada tinha havido. Ruslan Malinovskyi voltou a marcar pelo Génova, desta vez no empate (1-1) no duelo directo com o Empoli na fuga ao suplício da descida.

Estamos a falar de um médio ucraniano de 30 anos e, por isso, provavelmente condenado a nunca saber o que é jogar num “tubarão”. Mas também estamos a falar de alguém com um pé esquerdo de alto nível.

Tem sido um craque “silencioso”, que já mostrou arte, mas apenas a espaços – e em locais específicos.

De longe

Estamos a falar de um amante de cantorias que, em jovem, chegou a suplicar aos pais que o pusessem num coro e de um doceiro a quem a mulher promete cozinhar um bolo por cada golo. Neste sábado, saiu mais um bolo do forno da mansão Malinovskyi.

E a via que o ucraniano encontrou para ser feliz frente ao Empoli foi a que já encontrou em muitas outras vezes – nomeadamente na semana passada. Se Arjen Robben, lá fora, ou Simão Sabrosa, cá dentro, faziam sempre a mesma finta e quase sempre com sucesso, Malinovskyi também tem o seu movimento de assinatura.

O “Ruslan special”, como já foi denominado por comentadores em Itália, é algo tão simples e tão complexo como usar o pé esquerdo para remates potentes e/ou colocados de fora da área. Espaço em zonas próximas da área são, para quem defronta Malinovskyi, terreno para povoar – ou sobrepovoar.

O jogador ucraniano vai em duas semanas seguidas com golos, duas semanas seguidas com golos de fora da área e é, a seguir a Lionel Messi, o jogador com mais golos de fora da área nos cinco principais campeonatos desde 2019, ano em que chegou à Série A – são 16, o que significa que quase 50% dos golos que marcou desde que chegou a uma “big 5” são de fora da área.

Como muitos outros craques do futebol actual, Malinovskyi escolheu mostrar-se à Europa na Bélgica – campeonato de segunda linha que é, habitualmente, “amigo” dos criativos e dos goleadores.

Pediu holofotes no Genk, fase em que se escreveu que até forçou a saída do clube para ir para o Sporting. Acabou por ser “caçado” pela Atalanta – aquela Atalanta. A equipa de Gian Piero Gasperini tinha um espaço para o ucraniano – inicialmente pouco, porque havia Papu Gómez, mas depois um pouco mais, com a saída do argentino.

Em 2020/21, Malinovskyi foi, segundo o Fotmob, o jogador com mais assistências na Liga italiana e o terceiro com mais oportunidades de golo criadas.

Trabalha pouco? Talvez não

No início do texto, pusemos Malinovskyi naquela poule de criativos poucos dados a trabalho defensivo e, por isso, olhados de lado por alguns treinadores. Mas não houve, nessa edição da Série A, algum jogador com mais bolas recuperadas no terço ofensivo.

Convém, ainda assim, esclarecer duas dimensões adicionais deste dado. A primeira é que o trabalho colectivo da Atalanta coloca os seus jogadores sempre mais próximos de recuperarem bolas em zonas adiantadas. A segunda é que o ucraniano não tem sido sempre consistente.

A temporada seguinte foi menos profícua, mesmo em termos de utilização – saiu mais vezes do banco.

Acabou por ser transferido por apenas dez milhões de euros e foi parar a Marselha. O talento mostrado sugeria algo mais do que o clube francês? Talvez. Mas não só não teve melhor do que isso como não foi feliz no clube gaulês.

Depois de ser feliz em Bérgamo, está, agora, a tentar ser em Génova, ainda no Norte de Itália. Mas quem já viu o que faz Malinovskyi pode facilmente ficar desapontado – contrato com o Marselha e empréstimo a uma equipa das profundezas da Liga italiana dá, sobre este ucraniano, um sabor a pouco, muito pouco.

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